18 Outubro 2023
Autoridades italianas tiveram que controlar o fluxo de turistas para as 13 cidades da costa amalfitana neste verão, introduzindo o rodízio de veículos com vistas à sustentabilidade natural da região e a proteção dos monumentos históricos milenares. No ano passado, a Itália recebeu 50,5 milhões de turistas, número que deve ser superado em 2023.
A reportagem é de Edelberto Behs.
A costa amalfitana, banhada pelo mar de Tirreno, é procurada pelas suas praias e beleza natural. São pequenas localidades com um enorme movimento turístico. Positano, por exemplo, pertencente à província de Salerno, tem 3,8 mil habitantes, com uma densidade populacional de 483 habitantes por quilômetro quadrado. Amalfi, que dá nome à área e é famosa por sua catedral em estilo bizantino, construída no século IX, soma 5,4 mil habitantes espalhados em apenas 6 quilômetros quadrados.
Mar de Tirreno, na praia de Positano (Foto: Edelberto Behs)
O mar de Tirreno banha a costa amalfitana e faz parte do mar Mediterrâneo. Esses mares, que atraem milhares de turistas do mundo inteiro, também atraem centenas de migrantes em fuga de situações de guerra, de fome, em busca de um lugar onde tenham vida digna. Aqueles são bem-vindos; estes não são queridos.
Em 2022, 104 mil migrantes chegaram à Itália, número três vezes superior ao registrado em 2020. Só num dia, 19 de fevereiro de 2023, 848 pessoas, em 17 barcos, aportaram em Lampedusa, a maioria procedentes do Egito, Sudão, Paquistão, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Guiné, Burkina Faso e Serra Leoa.
O mesmo mar que refresca turistas e moradores da costa amalfitana também permite o transporte de pessoas que procuram um lugar na Europa. Lampedusa, a 950 quilômetros de Sorento, é uma dessas portas de entrada.
Catedral de Amalfi, construída no século IX (Foto: Edelberto Behs)
Migrantes partem principalmente das costas africanas de Sfax, na Tunísia, e das cidades líbias de Zuwara e El-Agelat. Em entrevista para a agência de notícias Ansa, o pároco de Lampedusa, dom Carmelo Rizzo, relatou, na metade de setembro passado, que as condições na ilha eram “apocalípticas”. A Cruz Vermelha, segundo a Deutsche Welle de 16 do mês anterior, admitiu que a situação estava tensa, mas que fazia todo o possível para assegurar os cuidados essenciais aos chegados.
A União Europeia e a Tunísia firmaram acordo para estancar o fluxo de migrantes. Bruxelas anunciou ajuda de 1 bilhão de euros ao governo tunisiano e espera, em contrapartida, a restrição do fluxo migratório a partir do país africano.
Positano tem menos de 4 mil habitantes (Foto: Edelberto Behs)
Em entrevista ao repórter gaúcho Fernando Eichenberg, o filósofo, urbanista e arquiteto francês Paul Virilio, falecido em 2018, declarou, há anos, que o homem tinha três utilidades: ser procriador, produtor e guerreiro. No fim do século XX, ele já não tinha mais essas características, anunciou. O homem “não serve mais para nada, pode ser eliminado. Isso é o fascismo também. No passado, éramos o centro do mundo. O homem era a medida do universo, a imagem de Deus. E hoje? Os habitantes de países pobres morrem de fome, não têm mais nada. Foram explorados pelos ricos e são conscientes de que diante deles não há futuro. Tentam sobreviver. Atravessam o estreito de Gibraltar em botes e morrem afogados”. Tornaram-se “populações inúteis”, concluiu.
Teria ele razão no seu vaticínio do novo século?
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Um mar que banha turistas e transporta migrantes indesejados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU