30 Abril 2025
Em frente ao túmulo de Jorge Mario Bergoglio, imersos na emoção e na comoção da maré de fiéis na fila para se recolherem por alguns instantes em frente à placa “Franciscus”, os cardeais da galáxia progressista estão começando a procurar o herdeiro do papa argentino. E a desafiar a si mesmos, que se veem prevalecendo nos números, mas divididos pelo excesso de candidatos. Nas conversas nos ônibus particulares que os levam à basílica de Santa Maria Maggiore para a homenagem ao falecido Pontífice, e depois entre mármores antigos e vozes mal sussurradas, os cardeais mais liberais começam o verdadeiro jogo do Conclave.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 28-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem depois de Francisco? “A vontade de muitos dos eleitores criados pelo Pontífice é identificar um sucessor alinhado com o pontificado que mudou a face da Igreja”, garante ao La Stampa um alto prelado que encontramos no final da tarde, a poucos metros da Colunata de Bernini. O prelado vai direto ao ponto. Ou melhor, aos dois pontos: “108 dos 134 cardeais que permanecerão na Capela Sistina após o extra omnes, ou seja, 80%, foram nomeados por Francisco, mas isso não garante o resultado final: é um grupo variado, muitos não se conhecem, e não poucos são opositores da orientação bergogliana”.
Não só isso: “Há candidatos demais. E isso causa uma sensação de divisão. Corre-se o risco de dispersar os votos e se perder nas tensões”. É um paradoxo. “Sim, são justamente os cardeais considerados progressistas, nomeados em sua maioria pelo próprio Francisco, que se encontram em dificuldade. O caminho para eles apresenta-se complicado pelas várias 'gradações de progressismo'. Eles têm os números para orientar o Conclave, mas (ainda) não têm uma candidatura compartilhada nem uma estratégia compacta”. Orientações diferentes, sensibilidades diferentes, visões diferentes sobre o que deve ser a “continuação do caminho da reforma”. E além disso, “lideranças demais, parece a síndrome da esquerda italiana”, é o gracejo do prelado. Outro tema: alguns gostariam de um Francisco II, se não no nome, pelo menos nos fatos, outros marcariam a distância.
Entre as dobras dos discursos e nas conversas reservadas, começam a surgir nomes claros, perfis que catalisam a atenção e o apoio. E os kingmakers. Um acima de todos: o luxemburguês Jean-Claude Hollerich, um jesuíta como Francisco, figura-chave do Sínodo. Ele se move com discrição, mas com determinação: não para si mesmo, mas para apoiar Mario Grech, o secretário-geral maltês do Sínodo, considerado por muitos como um rosto mais “conciliador”, capaz de evitar fraturas no governo da Santa Madre Igreja.
Outro cenário. Um número substancial de votos apontaria inicialmente para três personalidades de destaque: Pietro Parolin, Matteo Zuppi e Jean-Marc Aveline. E então, após as primeiras fumaças negras, o consenso mudaria para quem tivesse a melhor chance de alcançar as 90 preferências, um número que lhe daria a veste branca. O ex-secretário de Estado, um diplomata de longa experiência, é considerado um candidato “de continuidade” e, ao mesmo tempo, “um equilibrador”, capaz de manter o leme da Igreja em uma linha pastoral aberta, mas com atenção ao equilíbrio entre as diferentes almas católicas. Por esse motivo, no caso de um impasse em relação a outros nomes, Parolin sempre poderá voltar ao jogo e consertar a situação.
O arcebispo de Bolonha e Presidente da Conferência Episcopal Italiana tem uma forte sensibilidade social e uma longa experiência na Comunidade de Santo Egídio. Ele é visto como a expressão de uma Igreja próxima aos pobres, com uma abordagem pastoral dialogada e pragmática. E tem um grande carisma.
O arcebispo de Marselha e novo presidente da Conferência Episcopal Francesa, especialista em relações entre as religiões, especialmente com o Islã, representa uma Europa que ainda quer desempenhar um papel de liderança na Igreja, com uma abertura para os desafios migratórios e culturais do Mediterrâneo.
E não se pode esquecer Tagle. O filipino, ex-prefeito do Dicastério para a Evangelização, é um rosto da Ásia católica, com características que lembram Francisco. Ele poderia ser um pontífice símbolo de uma Igreja missionária e jovem. Teria o apoio de todos ou quase todos os cardeais asiáticos, que são 23. Se não conseguir se afirmar, a saída poderia ser a união em torno do jovem Pierbattista Pizzaballa, 60 anos. Ele tem ideias moderadas, mas com tons decididos, como os conservadores gostam. É um franciscano com experiência direta nas terras da Bíblia. Ele é o Patriarca Latino de Jerusalém, portanto, sua eleição teria um significado político-religioso retumbante.
Para permanecer no campo reformista, o caminho alternativo poderia ser aquele dos outsiders.
Dois salesianos: Cristóbal López Romero, espanhol, arcebispo de Rabat; e Ángel Fernández Artime, ex-reitor-mor dos Filhos de Dom Bosco, ex-pró-prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada. E depois o ex-prefeito do Dicastério para os Bispos, o estadunidense Robert Francis Prevost.
Em torno deles, uma rede de alianças está sendo tecida, “e se sobrepondo”, aponta outro prelado com quem falamos ao telefone: nestes dias de congregações gerais, que recomeçam hoje, “pesam muito os contatos pessoais, as experiências compartilhadas e, acima de tudo, o desejo de preservar a ‘Igreja em saída’ sonhada por Francisco, sem procurar uma sua fotocópia”.