18 Abril 2025
Após o brilho do adiamento poético, começam a emergir as sombras de um procedimento subsequente, que deve ser construído em sua transparência e colegialidade fundamentais.
O artigo é de Sergio Ventura, jurista italiano, publicado por Vino Nuovo, 14-04-2025.
Eis o artigo.
Já se passou mais de uma semana desde o fim da segunda assembleia sinodal das Igrejas italianas e, além dos fáceis slogans jornalísticos, ainda não é possível entender o que realmente aconteceu: isso, consequentemente, também nos impede de entender o que realmente poderá acontecer nos próximos meses. As “infames” 50 proposições, sobre as quais a assembleia (dividida em 28 grupos) trabalhou nos dias 1 e 2 de abril, não foram reunidas e votadas, devido à quantidade e qualidade das emendas apresentadas. Em 3 de abril, a assembleia decidiu, portanto, por vontade (quase) unânime, adiar esta votação para uma terceira assembleia a realizar-se em 25 de outubro de 2025.
O problema, porém, é que esta decisão, celebrada (ou contestada) como uma corajosa vitória do Espírito (da democracia?), na realidade rebus sic stantibus esgota a possibilidade de a futura assembleia intervir, ainda que minimamente, no texto que lhe será apresentado: uma espécie de "pegar ou largar". Além disso, desta forma, os membros da assembleia não tiveram (nem terão?) a oportunidade de conhecer as propostas de emendas apresentadas pelos (28) grupos da assembleia que trabalharam nas (50) Proposições.
Acredito, portanto, que a assembleia deve, antes de tudo, conhecer as futuras Proposições finais com antecedência suficiente (e não dois dias antes da assembleia – especialmente se, como aconteceu, esses dias foram sábado e domingo). De fato, por razões óbvias de transparência (sempre valorizadas pelo Caminho Sinodal da Igreja italiana e universal), seria oportuno que a Igreja italiana publicasse oficialmente as 50 Proposições, visto que elas foram disponibilizadas na internet, de forma clara e transparente, pela revista Adista, de forma “clandestina” na maioria dos outros casos. Acrescentaria, então, que pelo menos os membros da Assembleia e do Comitê Nacional deveriam conhecer desde já, não só as prioridades, mas também as propostas de alteração apresentadas pelos (28) grupos da assembleia : quanto mais pessoas souberem de tudo, menor será a probabilidade de se movimentarem ou de manipularem na sombra com meias-verdades.
Em segundo lugar, a Assembleia deveria, de alguma forma, ter a possibilidade de propor um polimento final das Proposições que serão então votadas: se isso não for possível, acrescentando um dia (24) à assembleia de 25 de outubro, pelo menos enviando as correções propostas à Presidência do Comitê Nacional (possivelmente em quantidade e tipo limitados, com base em algum critério razoável).
De qualquer forma, o problema da responsabilidade pela redação das futuras Proposições permaneceria, como aconteceu com as 50 originais. Na moção de remessa, ficou estabelecido que a redação das futuras Proposições seria "confiada" à Presidência do Comitê Nacional, desta vez com a especificação de que tal Presidência deveria ter o "apoio" do próprio Comitê e - com razão - dos facilitadores dos (28) grupos da assembleia, para que houvesse (ao menos) um registro dos procedimentos da assembleia.
Neste sentido, porém, muito contará o procedimento que se estabelecer, o que exige tempos de exame adequados e programados, transparência nas passagens entre os diferentes órgãos e, sobretudo, clareza nas competências que lhes são atribuídas. Simone Morandini deixou bem claro (aqui) que na correria final de março houve uma "falta de envolvimento" de "todo" o Comitê Nacional por parte da Presidência e, portanto, não houve "tempo para valorizar as contribuições", confirmando o que Dom Castellucci (vice-presidente da CEI e presidente da Comissão Nacional do Caminho Sinodal) havia afirmado inicialmente, admitindo que as 50 Proposições foram compartilhadas com o Comitê Nacional somente na sexta-feira, 28 de março, durante uma "rápida reunião online". Se procedêssemos desta forma neste exame corretivo, correríamos o risco de nos encontrar novamente no cerne das Proposições originais.
Neste ponto, de fato, não podemos deixar de nos perguntar novamente: quem escreveu as 50 Proposições? – também porque poderemos nos fazer a mesma pergunta daqui a alguns meses. Como afirmou Marco Spotorno (aqui nos comentários), usando uma bela metáfora: "é um pouco como se, tendo que se preparar para uma travessia oceânica, o timoneiro aparecesse com uma carta náutica do promontório de Portofino, o almirante, avaliando o mapa, aprovasse a escolha e a tripulação, incluindo os oficiais, se recusasse a partir. A recusa me parece um bom sinal de responsabilidade, mas as premissas que levaram a essa situação parecem bastante preocupantes".
A questão é tão importante e crucial que merece uma reflexão à parte…