15 Abril 2025
"Muitos bispos italianos estão pedindo a adoção de uma nova linguagem, como demonstram as vigílias de oração cada vez mais frequentes contra a homossexualidade promovidas por ocasião do dia internacional de 17 de maio. Na frente deles está Monsenhor Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, que no próximo 6 de setembro celebrará a missa do que tecnicamente não pode ser chamado de Jubileu dos Católicos Lgbt, mas em substância se aproxima disso", escreve Marco Grieco, jornalista, em artigo publicado por Domani, 10-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A recente assembleia sinodal devia aprovar o documento sobre o futuro da igreja italiana, mas o texto de síntese das Proposições foi rejeitado. A participação da comunidade LGBT não pode mais ser ignorada. O desafio da peregrinação jubilar de setembro
Sobre o tema LGBT, a igreja italiana está cada vez mais numa encruzilhada. Isso ficou claramente visível na recente assembleia sinodal, onde os delegados que representam as mais de duzentas dioceses italianas rejeitaram o texto síntese das Proposições, uma espécie de lista concisa com os desafios da Igreja italiana do futuro, evidentemente não muito adequada para mostrar a complexidade que as dioceses da península vivem sobre essa e outras questões.
O texto deverá ser reelaborado até outubro próximo. As premissas, contudo, não foram animadoras. “Não estamos aqui para fincar bandeiras em afirmações individuais, tentando a todo custo inserir a palavra ou frase que nos identifica como indivíduos ou como grupos”, falou Erio Castellucci, arcebispo de Modena e presidente do Comitê Nacional do Caminho Sinodal, em seu discurso de abertura.
A inclusão das pessoas LGBT, que sempre foram condenadas ao ostracismo na igreja italiana, foi abordada nas intervenções seguintes a portas fechadas. “Eu quis destacar um problema com a redação do texto: as pessoas LGBT não sofrem porque se sentem à margem, como sugere a Proposição 5, mas sofrem porque são colocadas à margem”, explicou um delegado diocesano de 30 anos, que pediu para permanecer anônimo.
A base da igreja mudou a sensibilidade dos leigos também, e a questão LGBT mostra nos fatos o atraso da igreja italiana em aceitar uma mudança que, longe de ser um ato administrativo, já é práxis nas dioceses.
Se lermos o Instrumento de Trabalho, ou seja, o texto que acompanhou as igrejas locais no último trecho do Caminho Sinodal, era considerada prioritária “uma pastoral com as pessoas que se sentem não reconhecidas e à margem da vida comunitária por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero”. Evidentemente, no último quilômetro, a questão foi excluída com um burocrático golpe de caneta.
O teólogo Andrea Grillo leciona no Ateneu San Anselmo, em Roma, e está na linha de frente da luta contra o estigma em relação à comunidade arco-íris e às mulheres vinda de uma igreja retrógrada, em sua opinião surda ao Concílio Vaticano II. “É evidente que, nesse caso, foi acionado um daqueles mecanismos de cima para baixo em que a base tem de aceitar algo redigido por poucos. Só que, desta vez, ninguém se reconheceu nessas Proposições, não dá para propor o texto para uma igreja sinodal, incluindo tantos bispos. Não podemos manter a lógica de meio século atrás, precisamos dar passos à frente no reconhecimento da realidade LGBT e feminina”, explica.
Muitos bispos italianos estão pedindo a adoção de uma nova linguagem, como demonstram as vigílias de oração cada vez mais frequentes contra a homossexualidade promovidas por ocasião do dia internacional de 17 de maio. Na frente deles está Monsenhor Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, que no próximo 6 de setembro celebrará a missa do que tecnicamente não pode ser chamado de Jubileu dos Católicos Lgbt, mas em substância se aproxima disso.
Durante dois dias, a peregrinação jubilar 'Igreja casa para todos’, primeiro aceita pela Santa Sé, depois removida e finalmente aprovada, levará centenas de fiéis da comunidade arco-íris a Roma para cruzar a Porta Santa no Jubileu da Esperança convocado pelo Papa Francisco.
É claro que os envolvidos na pastoral LGBT na igreja ainda optam pela “prudência da serpente”, mas esta é a primeira vez que pessoas crentes atravessarão a Porta Santa reivindicando sua identidade queer. E é a primeira vez que isso acontece com a colaboração dos jesuítas de Roma.
Há um quarto de século, no ano do Jubileu de 2000, o ambiente era completamente diferente. Gianni Geraci era presidente da Coordenação de grupos homossexuais cristãos na Itália quando escolheu participar do World Pride, realizado em Roma naquele mesmo ano, em meio aos anátemas do Papa João Paulo II.
Vinte e cinco anos depois, tudo parece ter mudado. “A secretaria do Jubileu nos deu imediatamente indicações detalhadas sobre como o evento seria estruturado. Ficamos muito surpresos com a inclusão da peregrinação no calendário oficial no site”, explica. Há muito entusiasmo entre os organizadores: “Estamos recebendo adesões da Espanha, França, Eslovênia, Estados Unidos e América do Sul”, e muita esperança entre os participantes. Entre os e-mails recebidos, Geraci se emociona ao lembrar aquele escrito por um jovem trans de Uganda, país com 40% de católicos e com uma das leis mais restritivas sobre a homossexualidade: “Ler a história de um ativista, demitido de seu emprego em um seminário católico por causa de sua orientação homossexual e animado para estar em Roma, nos leva a sentir solidariedade como comunidade”.
Seja em uma assembleia a portas fechadas ou com as portas abertas do Jubileu, a questão LGBT é um desafio que interpela toda a Igreja Católica: em jogo, como sempre, está a vida daqueles que foram relegados às catacumbas por tempo demais.