22 Março 2024
Jesuíta dos EUA, o padre James Martin é um dos principais defensores em nível mundial de que a Igreja acolha os fiéis homossexuais e que ofereça as bênçãos para casais do mesmo sexo.
A reportagem é de Alexis Buisson, publicada por La Croix Internacional, 20-03-2024.
Dentro de um dos muitos arranha-céus de Manhattan, James Martin dirige-se ao seu escritório da America, revista jesuíta da qual é editor. O espaço de trabalho de Martin é preenchido com objetos que evocar sua jornada pessoal como um padre jesuíta que trabalhou com membros de gangues em Boston, bem como refugiados no Quênia.
Ao lado de seu computador, há uma foto dele conversando com o Papa Francisco durante um encontro em 2019 no Vaticano. Esta foi o primeiro de quatro encontros individuais que os dois jesuítas já tiveram.
"Foi um dos destaques da minha vida", Martin diz. “Eu não sou cardeal, arcebispo, bispo, nem mesmo reitor de alguma universidade. Por que um papa gostaria de me encontrar?”
Ele sabe a resposta. Aos 63 anos, o jesuíta americano é um dos principais defensores da inclusão de pessoas LGBT dentro da Igreja Católica. Ele tem a confiança e a atenção de Francisco. Em 2017, o Papa nomeou-o como consultor do Dicastério para a Comunicação. E em 2023 pediu-lhe para participar da assembleia sinodal sobre o futuro da Igreja.
Desde a publicação de Fiducia supplicans, declaração polêmica que o dicastério doutrinário do Vaticano publicou em dezembro passado e que permite aos sacerdotes a possibilidade de abençoar casais do mesmo sexo, Martin afirma orgulhosamente que o fez quatro vezes.
“Sou apenas uma das muitas vozes que falam ao papa sobre esse assunto”, diz ele, minimizando seu papel nesse desenvolvimento. O que essa comunidade precisa fazer para ser reconhecida pela Igreja?”
A causa LGBT nem sempre foi central para Martin. Antes de ser ordenado sacerdote, este filho de uma professora de francês e um empresário seguiu uma carreira em contabilidade e recursos humanos no conglomerado americano General Electric.
"Eu era um yuppie", explica o religioso. "Eu ganhava um bom dinheiro, vivia em Nova York, frequentava casas noturnas e gastava muita grana". (Yuppie significa um jovem executivo, profissionalmente bem remunerado. Nota do IHU.)
Mas James se cansou desse estilo de vida depois de alguns anos. Ele viu um documentário sobre o monge trapista Thomas Merton, porém ele nem sabia o que era um mosteiro. Por fim, decidiu virar jesuíta.
Ele começou a escrever sobre os católicos LGBT na década de 1990 nas páginas da revista America porque "na época a questão era pouco abordada". Ele enfrentou sua primeira polêmica em 2000, quando escreveu um artigo sobre os padres gays. Mas foi somente a dezesseis atrás que ele decidiu fazer do reconhecimento das pessoas LGBT o foco de seu ministério. O ponto de inflexão foi a morte de 49 pessoas em 12 de junho de 2016 na boate Pulse, em Orlando, Flórida.
"Muito poucos bispos falaram após este tiroteio, que foi o mais mortífero na história do país. Um número menor ainda empregava a palavra ‘gay’”, disse Martin. Pensei comigo: "o que essa comunidade precisa fazer para ser reconhecida Por parte da Igreja? Morrer não é o suficiente?"
Após o tiroteio na boate, ele começou a participar de congressos, aparecer na grande mídia e escrever livros como Building a Bridge (HarperOne, 2018) para exortar a Igreja Católica a ouvir seus membros LGBTs em vez de "tratá-los como pecadores que precisam ser policiados durante a vida toda". Ele inclusive virou tema de um documentário de 2021 produzido pelo famoso diretor Martin Scorsese. Desde 2022, ele tem edita o Outreach, blog afiliado à revista America dedicado aos fiéis LGBTs.
Sua notoriedade rendeu-lhe inimigos, incluindo bispos, que o acusam de querer distorcer o ensino católico.
"Jesus acolheu os marginalizados, é o que eu faço”, diz ele em defesa de seu trabalho. "Não procuro polemizar. Preferiria escrever sobre santos e oração, mas já me me acostumei a ser odiado".
Embora interprete Fiducia supplicans como um grande avanço, James não crê que seu texto marque um passo em direção ao reconhecimento das uniões homossexuais.
"Os católicos LGBTs já aceitaram que esta questão não vai mudar. O que eles querem é ser tratados como seres humanos”, explica. “Ao excluir essas pessoas, também estamos fechando as portas de nossas igrejas para seus pais, irmãos e amigos. No passado, eles teriam procurado seu lugar dentro da Igreja. Agora, eles preferem ir embora”.
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“Eu me acostumei a ser odiado”, diz o defensor dos católicos LGBT James Martin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU