08 Abril 2025
Na assembleia sinodal italiana podia-se sentir “o ar do Papa Francisco”. Dom Erio Castellucci, arcebispo de Módena-Nonantola Carpi, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana e presidente da comissão nacional do Caminho Sinodal, está convencido disso.
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 04-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O senhor contou que alguns lhe deram um tapinha nas costas em sinal de condolência, mas seu discurso final foi aplaudido de pé: como foi?
No primeiro dia, cerca de cinquenta membros da assembleia falaram de forma muito crítica sobre o documento, como se ele reduzisse de forma inaceitável a riqueza da jornada feita ao longo destes últimos anos. Ficou claro, pelos aplausos, que muitos compartilhavam essas intervenções. Como eu sou o responsável por esse caminho, alguns bispos se aproximaram de mim em tom de brincadeira e disseram: coragem, estamos com você! Mas, na realidade, nunca me senti triste nem de luto, porque vi imediatamente uma assembleia que dentro das críticas queria construir.
Uma assembleia definida por alguns como rebelde, mas que mostrou uma Igreja animada...
...inteligente, construtiva, criativa: uma assembleia que construiu. As emendas que chegaram, talvez mais de trezentas, foram pensadas, votadas e discutidas com intenção construtiva. O texto não foi rejeitado, mas adiado para outubro, quando será reapresentado em uma forma muito mais ampla, recuperando a riqueza desses quatro anos.
Progressistas contra conservadores, leigos contra bispos?
Não: há posições distintas e há temas que precisam ser aprofundados. Começamos a nos confrontar e isso é positivo.
Até que ponto influiu a “sinodalidade” do Papa Francisco?
Certamente o estilo que o Papa imprimiu, o fato de ele ter identificado a sinodalidade como a tarefa da Igreja para o terceiro milênio, o fato de ter reformado radicalmente a instituição dos sínodos para que eles comecem com uma consulta ao povo de Deus, tudo isso influiu. Você pode sentir o ar do Papa Francisco.
O senhor ressaltou que a Igreja “não é formada por líderes que seguem em frente como se estivessem sempre certos, o que infelizmente é muito comum hoje nas tendências soberanistas e ditatoriais”.
Hoje em tantos níveis aqueles que guiam as comunidades, nacional ou locais, tendem a afirmar suas ideias apesar de tudo. Se a Igreja fizesse isso, não obedeceria ao Espírito, que sopra por entre o conjunto dos fiéis.
O que leva para casa depois desses dias intensos?
Um pouco de cansaço pessoal - só na quarta-feira foram dezessete horas de reuniões -, mas sobretudo alegria por ter visto uma Igreja que quer ser criativa na sociedade: não puxar os remos para o barco, nem ser agressiva ou desaparecer entre as dobras do mundo e de suas mentalidades às vezes inaceitáveis, mas ser um sinal criativo da presença do Senhor e do seu Evangelho.