09 Abril 2025
A copresidência da COP30 é um dos focos da mobilização dos Povos Indígenas na edição 2025 do Acampamento Terra Livre (ATL), que acontece até 6ª feira (11/11), em Brasília. A conferência que será realizada em novembro em Belém é considerada uma “agenda estratégica” para as principais entidades indígenas do país.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 09-04-2025.
“Nós nos reafirmamos, enquanto Povos Indígenas, como autoridades climáticas que devem estar dentro dos espaços de decisão. Somos nós os defensores dos biomas que servem como barreira contra as mudanças climáticas”, disse à Amazônia Real Toya Manchineri, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). Quando presidentes de nações estiverem sentados para discutir temas estratégicos como o impacto dos grandes empreendimentos, fim dos combustíveis fósseis e transição energética justa, os indígenas deveriam participar com o mesmo peso das decisões, reiterou.
Em declaração divulgada na 2ª feira (7/4), na abertura do ATL, representantes de Povos Originários de três continentes reforçaram a reivindicação. “Exigimos que as lideranças indígenas e das comunidades locais tenham voz e poder iguais aos Chefes de Estado na COP30, com a mesma legitimidade, poder de decisão e respeito que as representações dos países”, destacou o documento, citado por Brasil de Fato, Pará Terra Boa e Projeto Colabora.
Para os indígenas reunidos no ATL, a conferência é uma oportunidade para impulsionar demandas antigas de participação dos Povos Originários nas negociações climáticas. O argumento é inquestionável: além de detentores de conhecimentos tradicionais que podem ajudar no esforço contra a crise do clima, os Povos Indígenas também estão na linha de frente contra desafios importantes para a estabilização climática global, como o combate ao desmatamento e aos incêndios florestais.
Enquanto os grupos indígenas se mobilizam, o governo brasileiro segue na preparação logística e política para a COP30. Em entrevista à CNN Brasil, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) ressaltou os esforços do Brasil para garantir o sucesso das negociações climáticas em Belém no mês de novembro.
“Estamos numa agenda bastante dinâmica e atuando nas pilastras principais do que é a COP. A parte da negociação, que é fundamental, (…) como é o caso do que veio da COP29, que é avançar no mapa do caminho para US$ 1,3 trilhão por ano [para o financiamento climático], a questão das NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas] e a agenda que nós consideramos igualmente importante, que é de mobilização”, disse.
Já a agenda do fim dos combustíveis fósseis, ainda abordada de forma discreta pelo Brasil por conta dos impasses domésticos em torno das perspectivas de exploração petrolífera na foz do Amazonas, deve ser reforçada por cientistas, ativistas e observadores. Essa é a expectativa do físico Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), para a COP30.
“A gente espera que a COP30 seja, efetivamente, a COP da virada, onde a gente possa estruturar planos concretos de acabar com a exploração e uso de combustíveis fósseis em todo o planeta e, com isso, poder construir uma sociedade que seja minimamente sustentável”, argumentou Artaxo em evento, citado pela CBN.
Na 3ª feira (8/4), mais de 6 mil indígenas promoveram a marcha “APIB somos todos nós: nosso futuro não está à venda”, a primeira do ATL 2025. Os indígenas marcharam até o Congresso Nacional entoando cânticos e carregando cartazes nos quais reivindicavam a demarcação de seus territórios, além de uma réplica da Estátua da Justiça adornada com um cocar indígena, mostra a Folha.
Após a manifestação, representantes dos Povos Indígenas participaram de uma sessão solene em homenagem aos 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), principal organizadora do ATL, na Câmara dos Deputados, relata o g1. Presente na cerimônia, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, defendeu a proibição da mineração em Terras Indígenas – proposta pelo ministro do STF, Gilmar Mendes – e criticou a lei do marco temporal, que está sendo discutida na corte por uma mesa de conciliação criada por Gilmar, apesar de o STF já ter decidido que a tese é inconstitucional, informa a Agência Brasil.