Ciclo de Estudos Juventudes e o espírito do tempo e do espaço. Desafios tecnopolíticos e socioambientais, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, inicia em abril
O alto custo de vida, o desemprego e a polarização política estão entre as justificativas que explicam declínio do índice de felicidade entre os jovens. No dia Dia Internacional da Felicidade das Nações Unidas, 20-03-2025, a DW Brasil publicou uma reportagem sobre o tema. Os dados são amparados no Relatório Mundial da Felicidade (World Happiness Report), que apresenta o ranking de felicidade dos países segundo as respostas da população sobre o assunto. O Brasil ocupa a 36ª posição. Os jovens da Europa Ocidental e da América do Norte relatam “a menor sensação de bem-estar entre todas as faixas etárias”.
Para Jan-Emmanuel De Neve, pesquisador do Centro de Pesquisa de Bem-estar da Universidade de Oxford e um dos autores do relatório entrevistado pela reportagem, a solidão é outro aspecto que está marcando a vida da juventude em níveis diferentes em comparação às gerações anteriores. "Os jovens de hoje têm duas vezes mais probabilidade de jantar sozinhos em comparação a duas décadas atrás. Os hábitos parecem ter mudado: quando olho para meus alunos, eles comem sozinhos, com o celular na mão. Mas nossos dados mostram claramente que as pessoas que compartilham refeições são mais felizes".
Diversas são as situações cotidianas que afetam e estimulam os jovens. Da experiência do consultório de psicanálise, Umberto Galimberti tem um diagnóstico sobre a situação deles no mundo de hoje. “Não estão bem, mas não entendem nem mesmo o porquê”. A angústia mais frequentemente observada, assegura, é “aquela provocada pelo niilismo”. Segundo o psicanalista, “falta-lhes objetivo. Para eles, o futuro de promessa se tornou uma ameaça”.
Como essas situações reverberam na vida individual e comunitária dos jovens? A elaboração de políticas públicas cuja finalidade é o bem comum gera desencantamento entre eles? Interessam-se mais por iniciativas que incentivam o progresso individual por meio do empreendedorismo e da busca por segurança individual? Essas são algumas das questões tencionadas pelo “Ciclo de Estudos Juventudes e o espírito do tempo e do espaço. Desafios tecnopolíticos e socioambientais”, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU neste semestre. A proposta do evento é “debater de forma transdisciplinar aspectos sociológicos das juventudes, seus papéis e suas perspectivas no contexto contemporâneo de transformações políticas, ecológicas e econômicas”.
O desemprego, a digitalização e a precarização do mercado de trabalho juvenil são os temas de reflexão do debate de abertura do evento, que começa na próxima terça-feira, 08-04-2025, às 10h, com a participação de Erik Chiconelli Gomes, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), e da socióloga Helena Wendel Abramo.
Em 2023, 10,3 milhões de jovens na faixa etária entre 15 a 29 anos não estudavam nem trabalhavam, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de a taxa de desemprego atual ser de 6,2%, atingindo 6,8 milhões de brasileiros. Somente no Rio Grande do Sul, 229 mil jovens enquadram-se nessa categoria, de acordo com as pesquisas do Observatório Juventudes e pelo Data Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), divulgados no segundo semestre do ano passado.
Segundo Gomes, a relação entre a mudança tecnológica e a reestruturação do mercado de trabalho está impactando particularmente os trabalhadores mais jovens. Ao mesmo tempo, destaca, o Brasil está passando por uma revolução silenciosa, com transformações profundas em curso. “Diploma universitário já não é visto como essencial ao sucesso e anseio por saúde de qualidade superou o da casa própria”, pontua. Em todas as classes sociais, menciona, observa-se uma tendência pragmatista: “ter um trabalho que garanta o sustento, independentemente da área de atuação”, disse ao comentar os dados da pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Quaest.
A segunda conferência do ciclo é com a pesquisadora Vanessa Aparecida Araújo Correia, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) e USP, e com Álvaro Lobo, SJ, da Pastoral Juvenil e Colegial, da Espanha. Eles vão abordar a relação entre juventude e religiosidade, fundamentalismo e secularismo. Segundo a socióloga Regina Novaes, a “maioria dos jovens brasileiros declara pertencimento a uma religião”, seja ele mais “orgânico” ou “frouxo”. “Por exemplo, no catolicismo existem católicos classificados como praticantes e como não praticantes. Mas os rituais de passagem – como batismo, primeira comunhão, casamento, cerimônias fúnebres – são a um só tempo religiosos e sociais. Já os evangélicos tradicionalmente são caracterizados como mais participativos e os ‘grupos de jovens’ oferecem reuniões, passeios e – muito recorrentemente – aprendizado de instrumentos musicais (importantes sobretudo para jovens mais pobres sem acesso aos bens culturais)”, exemplifica.
A pesquisadora lembra ainda aquela parcela da juventude que se autodenomina sem religião. Para esses, pondera, “pode haver um sentimento de que as instituições religiosas não estão sendo capazes de ‘oferecer chaves de leitura para a realidade de nosso tempo’. Mas, para levar adiante esta reflexão, é preciso lembrar que apenas para uma parcela dos jovens de hoje a condição de ter fé, crer em Deus, mas não ter vínculos institucionais representa um ‘ponto de chegada’; para outra parcela pode ser apenas um intervalo entre dois pertencimentos institucionais. Ou seja, as instituições religiosas continuam tendo seu lugar justamente porque elas oferecem a participação em comunidades de fé”.
Nos próximos meses, o “Ciclo de Estudos Juventudes e o espírito do tempo e do espaço. Desafios tecnopolíticos e socioambientais” vai refletir a relação da juventude com a política, as drogas, ecoansiedade, policrises e hedonismo. A programação do evento está abaixo. Mais informações estão disponíveis aqui.
Videoconferência: O desemprego, digitalização e precarização do mercado de trabalho juvenil
Palestrante: Prof. Dr. Erik Chiconelli Gomes, da USP e Helena Wendel Abramo, socióloga e pesquisadora
Quando: 08-04-2025, às 10h
Videoconferência: Juventude e a religiosidade. Entre o fundamentalismo e o secularismo
Palestrante: Profa. Ms. Vanessa Aparecida Araújo Correia, da Faje e USP e Ms. Álvaro Lobo, SJ, da Pastoral Juvenil e Colegial Espanha
Quando: 23-04-2025, às 10h
Videoconferência: Relações entre masculinidades e a extrema direita. Manosfera, redes sociais e articulações políticas
Palestrante: Profa. Dra. Elisa García Mingo, da Universidad Complutense de Madrid, Espanha
Quando: 22-05-2025, às 10h
Videoconferência: A juventude brasileira e o trabalho no tráfico de drogas. Pauperização e violência
Palestrante: Profa. Dra. Ana Paula Galdeano Cruz, do Cebrap
Quando: 03-06-2025, às 10h
Videoconferência: Juventude europeia e suas articulações políticas em tempos de profundas desigualdades
Palestrante: Profa. Dra. Katherine Smith, da University of York, Reino Unido
Quando: 26-06-2025, às 10h
Videoconferência: Ecoansiedade, frustração e negacionismos. As juventudes e a catástrofe climática
Palestrante: Prof. Dr. Marc Williams, da University of Cardiff, Reino Unido
Quando: 03-07-2025, às 10h
Videoconferência: Juventudes na policrise. Resiliência, colapso e oportunidade
Palestrante: Prof. Dr. Daniel Hoyer, do SocialAI Research Group e George Brown College, Canadá
Quando: 08-07-2025, às 10h
Videoconferência: Cultura e capital. Hedonismo depressivo e imaginários juvenis sob a desafeição política atual
Palestrante: Prof. Dr. Álvaro Soler Martínez, do CETR Barcelona, Espanha
Quando: 07-08-2025, às 10h
Todas as conferências serão realizadas na modalidade online, com transmissão na página eletrônica do IHU, Canal do YouTube e nas redes sociais. Será fornecido certificado a quem se inscrever e, no dia do evento, assinar a presença por meio do formulário disponibilizado durante a transmissão. Os certificados estarão disponíveis em até 30 dias no portal Minha Unisinos.
A programação dos demais eventos promovidos pelo IHU neste semestre está disponível aqui.
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