06 Março 2025
Um novo estudo encomendado pela ONU mostra que o “bem-estar declarado” diminuiu drasticamente entre os jovens dos 18 aos 30 anos em seis países do Ocidente ao longo da última década.
A reportagem é de Pablo Maillé, publicada por Usbek & Rica, 04-03-2025. A tradução é do Cepat.
Estará a “curva da felicidade em forma de U” prestes a virar de cabeça para baixo? De acordo com um novo estudo encomendado pela ONU (Organização das Nações Unidas), os jovens ocidentais enfrentam agora um colapso duradouro no seu nível de felicidade. Tendo desaparecido o padrão tradicional da “despreocupação da juventude”, depois o padrão “redescoberto” da aposentadoria, enquadrado pela famosa “crise da meia-idade”, é agora desde muito jovem que os motivos de ansiedade, até mesmo de “desesperança”, se acumulam no horizonte.
Em todo caso, esta é a conclusão deste relatório de grande amplitude, publicado nesta segunda-feira, 3 de março, sob os auspícios dos acadêmicos Jean Twenge e David Blanchflower, respectivamente psicóloga da California State University (Califórnia) e economista do Dartmouth College (New Hampshire). Com base numa meta-análise de dados e estudos científicos já realizados em seis países de língua inglesa (Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Canadá e Nova Zelândia), a dupla revela que o “bem-estar declarado” diminuiu drasticamente entre os jovens dos 18 aos 30 anos ao longo da última década, especialmente entre as mulheres.
O que alarma David Blanchflower, que destaca os casos britânico e estadunidense, onde o problema não é tanto “o que os jovens fazem, mas o que já não fazem” desde o início da década de 2010: “Eles saem menos [do que antes], não brincam com os amigos, não interagem com os outros […] O que está acontecendo é realmente grave, e não está apenas ligado à Covid. [O fenômeno] já tinha começado antes e continuou depois de 2020”, explica ao jornal britânico The Guardian.
No Reino Unido, por exemplo, a porcentagem de jovens de vinte e poucos anos “classificados como sem esperança” duplicou entre os períodos 2009-2018 e 2019-2023, passando de 8% para 16%. Ainda mais preocupante é que este número tende agora a se estabilizar até cerca dos 40 anos, segundo as primeiras estimativas dos pesquisadores.
Especificamente, o estudo destaca a ascensão dos smartphones e das redes sociais, mas também das “desigualdades intergeracionais” em termos de acesso ao emprego e da emergência climática. Todos estes fatores podem contribuir para uma deterioração dos indicadores de saúde mental... o que prejudica os jovens em questão, “mais suscetíveis de serem excluídos do mercado de trabalho”, criando assim um perigoso círculo vicioso.
Sem falar nas consequências sociais e econômicas desta deterioração, que poderá, no longo prazo, “ter um impacto nos resultados educativos e na produtividade global”, alerta David Blanchflower, que especifica que a ONU já encomendou pesquisas adicionais para determinar se o fenômeno pode ser observado em outras partes do mundo.
A observação é, em todo caso, semelhante à do especialista em psicologia social Jonathan Haidt, que acaba de compilar os seus próprios resultados no ensaio A geração ansiosa. Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais (Companhia das Letras, 2024). E conclui a sua recente entrevista ao Le Monde com uma nota pessimista, para dizer o mínimo, argumentando que o aumento dos conteúdos gerados pela IA só piorará o problema. “Nossos filhos acharão que o mundo é fácil e o desenvolvimento de suas atitudes sociais será prejudicado. Tudo isso vai acabar muito mal”, prevê.