13 Março 2025
"Pode-se presumir que o 'não' de Bergoglio às diáconas será rediscutido no próximo conclave e pesará sobre o novo pontificado".
O artigo é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige de 10-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não é apenas a sociedade que se preocupa com a questão levantada no Dia da Mulher, que acaba de ser celebrado: e o pesar de muitas pelas persistentes mentalidades machistas que também atinge, em vários aspectos, o mundo das Igrejas, mesmo que elas tratem da questão feminina de maneiras muito divergentes. Nas Igrejas Ortodoxas - especialmente fortes na Europa Oriental - a tradicional estrutura machista permanece inalterada e incontestada, confiando o “sagrado” na liturgia aos diáconos, presbíteros e bispos, que são tais por terem sido ordenados.
No entanto, a Arquidiocese Ortodoxa Grega da América do Norte, ligada ao patriarcado de Constantinopla, está considerando reintroduzir o diaconato feminino, que existia no Oriente nos primeiros séculos. Por sua vez, a Igreja Copta consagrou pela primeira vez uma diácona na África - no Zimbábue.
Totalmente diferente é a situação nas Igrejas ligadas de alguma forma à Reforma do século XVI. Se, de fato, até a década de 1950, pastores e bispos eram, via de regra, todos do sexo masculino, as Igrejas Luteranas Escandinavas há oitenta anos começaram a consagrar também as pastoras; e, pouco depois, também as bispas.
Mas a Igreja da Inglaterra - a mãe do anglicanismo - apenas em 1992, e após uma discussão dramática no Sínodo, aceitou pastoras e, pouco tempo depois, também as bispas. Essa decisão fez com que vários milhares de anglicanos deixassem sua Igreja e se unissem à Igreja Romana corporativamente, ou seja, como grupo, precisamente porque esta última rejeitava as mulheres nos “altos” ministérios (diaconato, presbiterado e episcopado). Uma escolha feliz?
Talvez, porque já há algum tempo, e ainda mais depois do Sínodo dos Bispos em 2024, o debate intracatólico sobre as diáconas permanece mais do que aberto: aceitá-las seria uma traição à tradição (tese de uma parte do episcopado) ou, ao contrário, um retorno justificado a uma práxis corrente nos primeiros séculos da Igreja (tese de outra parte do episcopado)?
Até agora, o Papa Francisco tem se oposto às diáconas; no entanto, em uma escolha inovadora, ele começou a colocar freiras à frente dos dicastérios da Cúria, um papel até então reservado a cardeais. Dá o que pensar - dizem aqueles que na Itália apoiam o “sim” - que a “Bíblia de Jerusalém”, escolhida pela Conferência Episcopal Italiana, em sua edição de 1974 traduzisse o primeiro versículo do capítulo 16 da carta de Paulo aos Romanos da seguinte forma: “Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da igreja de Cancreia” (perto de Corinto), enquanto a titulação de Febe, na edição de 2008, torna-se “que está a serviço”. Uma evidente censura para ocultar o fato de que, no texto original em grego, há a palavra diakonos.
Com todas as evidências - por pressão do Vaticano? - foi feita uma tentativa de ocultar dos leitores comuns o fato de que a Bíblia fala de mulheres diakonos. Portanto, pode-se presumir que o “não” de Bergoglio às “diáconas” será rediscutido no próximo conclave e pesará sobre o novo pontificado.