A desfaçatez trumpista assombra. Por meio de palavrões, vocabulário truculento, mentiras e um completo desdém da diplomacia, Donald Trump segue com seus jogos vorazes mundo afora. Seu desprezo por Gaza fez rodar o mundo um vídeo produzido por Inteligência Artificial mostrando seu projeto da “Riviera”. Na política externa, aliando-se a Putin, continua atacando, principalmente, o Ocidente. Quanto à migração, o ataque agora se dirige às crianças, que são deportadas sozinhas. Na África, a escalada dos conflitos no Congo e no Sudão. No Brasil, o calor escaldante e a marcha rumo ao fundo do poço de petróleo não dão trégua. Essas e outras notícias nos Destaques da Semana do IHU.
Confira os destaques na versão em áudio.
A aliança de Donald Trump com a tecnocracia do Vale do Silício tem uma ambição: “a aniquilação revolucionária do estado liberal e de bem-estar social para substituí-lo por um modelo radical de sociedade”, como pontuou a matéria de Luca Celada. Pela primeira vez na história o poder financeiro e tecnológico tem um cargo dentro do aparelho do Estado. Elon Musk sabe o cheque branco que tem em mãos e declarou essa semana que “Sem mim, os EUA vão à falência”. O bilionário da Tesla tem um respaldo cada vez maior do presidente dos EUA, que em outra ação inédita transmitiu a primeira reunião do seu novo gabinete. Como bem colocou Rubén Juste de Ancos, “os dados mostram que o mundo das novas finanças se conectou bem com o Vale do Silício e com novos atores políticos associados à extrema-direita”. Um pacto, como sugere George Monbiot, entre “a pior ideologia dominante, no pior momento possível”. Para o jornalista, “precisamos entender que o capitalismo é muito criativo em seus ataques à democracia. E encontrou duas ferramentas muito poderosas: o fascismo e o neoliberalismo. Agora, vemos um híbrido de fascismo e neoliberalismo em figuras como Trump, Milei ou Orbán, e um de seus instrumentos mais poderosos são as redes sociais”, sinaliza.
A aproximação de Trump com Vladimir Putin é outra fratura para o Ocidente. “Uma violenta ofensiva ideológica do novo poder estadunidense contra a Europa, atacando explicitamente sua frágil coesão e fortalecendo a extrema direita nacionalista e xenófoba do continente”, explicou Edwy Plenel. A União Europeia submissa também teve seus produtos taxados em 25%, após ser acusada, por meio de palavrões desferidos por Trump, de querer ferrar com os EUA. Em seu artigo, Plenel ainda caracterizou o que o pacto oligárquico entre Trump e Putin significa. “Como todas as máfias, suas únicas regras são o dinheiro (a acumulação sem limites), a violência (os fins justificam todos os meios) e o segredo (nenhum direito de supervisão ou controle pela sociedade). Pode-se adicionar a religião como pretexto obscurantista, que justifica a perseguição das minorias, das diferenças e das dissidências”, finalizou.
Na semana em que o governo Trump lançou ofensiva para deportar menores indocumentados sozinhos, em uma corrente contínua de desvalorização do outro, ele também anunciou o Gold Card, pela bagatela de 5 milhões de dólares. Vistos que serão vendidos a oligarcas que terão autorizações de residência permanente. Em meio à polêmica das medidas administrativas de Musk à frente do DOGE, Trump veio em socorro do magnata, após o disparo de um e-mail em massa endereçado a todo o serviço público, o DOGE pediu aos trabalhadores que relatassem suas atividades na se não quisessem ser demitidos. Com o fim da USAID, Trump também demitiu 2 mil funcionários e colocou os demais em licença administrativa. Mas a cereja do bolo desta semana ficou por conta de vídeo criado por Inteligência Artificial e divulgado por Trump em suas redes sociais. As imagens mostram “como ficaria a Faixa de Gaza se o republicano cumprisse sua promessa de desalojar os palestinos do enclave sitiado. Em sintonia com o desprezo com que Trump costuma se referir a Gaza, o vídeo de 33 segundos mostra pessoas em uma rua coberta de escombros, uma imagem típica dos ataques israelenses sobre o território palestino. Essas mesmas pessoas depois caminham por um túnel que desemboca em uma praia de águas turquesas, com palmeiras e arranha-céus ao fundo, uma fantasia que reflete a lógica comercial do magnata republicano”, esclareceu reportagem do Página|12.
A invasão russa da Ucrânia completou o terceiro aniversário em meio a negociações de paz entre Putin e Trump, este de olho nas riquezas das terras raras dos ucranianos, pressionando Zelensky a hipotecar as áreas em troca do pagamento da “dívida do país” com os Estados Unidos. A carnificina matou cerca de 1 milhão e 100 mil pessoas e a ajuda humanitária continua urgente. O drama dos ucranianos fez com que Jerry Pillay, secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), viesse a público apelar por a um cessar-fogo imediato e a paz justa e sustentável.
As eleições na Alemanha no último final de semana foram ruins, mas nem tanto. Houve uma vitória dos conservadores e apesar de flertar com o abismo, promovendo um crescimento da extrema-direita, as urnas indicaram o renascimento de um partido de esquerda. O futuro chanceler será o conservador Friedrich Merz, que descartou um governo de coalizão com os extremistas da AfD, terá que enfrentar o contexto incerto da Europa diante à nova geopolítica imposta por Trump.
Em uma proposta de entrevista inusitada, Gerardo Tecé conversou com o assistente de inteligência artificial DeepSeek. Um diálogo com um algoritmo um tanto perturbador “que revela os meandros de seus algoritmos, a influência dos vieses impostos e até os spoilers de um futuro onde o poder se equilibra entre governos e corporações”. Por falar em tecnologia, a luta de Musk para ter em mãos mais poder, fez com que ele, mais uma vez, tentasse comprar a OpenAI.
No Congo e no Sudão há um recrudescimento dos conflitos. 70 cristãos foram encontrados decapitados em uma igreja na vila de Maiba, no território de Lubero, na província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC). Um genocídio silencioso que vem ocorrendo sem que haja uma mobilização internacional. No Sudão, “a atual escalada de ataques e confrontos dentro e ao redor do acampamento de Zamzam, onde pessoas deslocadas se abrigam, perto de El Fasher, no Sudão, impede que Médicos Sem Fronteiras (MSF) continue a fornecer assistência médica à população”, publicou em nota a entidade.
O Brasil entrou na quarta onda de calor extremo, com temperaturas superando as marcas históricas. A assertiva de Leonardo Boff de que a terra é todos, passa desapercebida pelo Brasil, que continua sem fazer sua lição de casa. Lula declarou que quer investir no petróleo na Foz do Amazonas para acabar com os combustíveis fósseis. Enquanto espera ela COP30, o país vê aumentar os índices de desmatamento na Amazônia e Mata Atlântica, e já vislumbra o avanço de pautas antiambientais com novas presidências do Congresso. Nas disputas pela terra, os povos indígenas continuam sendo sacrificados. Além da violência da monocultura e do agronegócio, os Guarani-Kaiowá agora são perseguidos pelos evangélico. Isso tudo em meio ao nefasto projeto de Gilmar Mendes sobre o marco temporal.