31 Julho 2024
"No momento, a previsão da Cúria Romana parece bem fundamentada: apenas dois prelados, até onde se sabe, se manifestaram, por um lado lamentando os tons 'exagerados' de Viganò, mas, por outro lado, compartilhando também as suas críticas a pontos-chave do atual pontificado, como sua aceitação, embora tortuosa, das pessoas LGBTQ+, desde que sejam castas: o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito do atual Dicastério para a Doutrina da Fé, e Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar em Astana", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 29-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Será, afinal, epidemia ou fracasso? O dilema abala o mundo católico um mês depois que as autoridades vaticanas iniciaram os procedimentos para excomungar Dom Carlo Maria Viganò, bispo acusado do crime de cisma.
Viganò considera Francisco "abusivo" e rejeita a autoridade do Concílio Vaticano II, que ele considera uma metástase para a Igreja. Em comparação com as grandes excomunhões do passado (como quando, em 1521, Leão X torpedeou Martinho Lutero com tal penalidade, chamando-o de javali selvagem que havia entrado na vinha do Senhor) as vinte linhas do decreto de excomunhão emitido em 4 de julho e comunicado no dia seguinte à pessoa em questão parecem de tom menor, quase um obrigatório dever burocrático. E a diferença está no fundo histórico e geopolítico: há cinco séculos, Roma temia que o protesto do ex-monge agostiniano espalhasse o fogo do cisma em todo o norte da Europa; agora, em vez disso, no Vaticano constata-se que a insurgência do ex-núncio em Washington atrai apenas um punhado de superconservadores, para depois se dissolver na irrelevância.
No momento, a previsão da Cúria Romana parece bem fundamentada: apenas dois prelados, até onde se sabe, se manifestaram, por um lado lamentando os tons "exagerados" de Viganò, mas, por outro lado, compartilhando também as suas críticas a pontos-chave do atual pontificado, como sua aceitação, embora tortuosa, das pessoas LGBTQ+, desde que sejam castas: o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito do atual Dicastério para a Doutrina da Fé, e Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar em Astana, no Cazaquistão. Ambos são extremamente críticos em relação à tolerância de Bergoglio com as pessoas homossexuais e à sua ideia, considerada perigosa, de sinodalidade.
Mas, para eles, o papa reinante, embora criticável em alguns aspectos, é absolutamente legítimo. Os próprios discípulos de D. Marcel Lefebvre, a quem João Paulo II excomungou em 1988 por ter se rebelado contra a autoridade papal, não são sedevacantistas, ou seja, de forma alguma consideram vazia, há décadas, a Sé de Pedro. Portanto, Viganò está praticamente deixado sozinho; a maior parte dos antibergoglianos procura minar decisões isoladas de Francisco, roem o seu poder, mas, formalmente, consideram-no, ainda assim, um papa legítimo.
E as massas? Será que nos Estados Unidos milhares de católicos seguirão o ex-núncio? Ele talvez espere por isso, mas é altamente improvável. E o prelado de 83 anos corre o risco de acabar em uma solidão desconsolada (talvez reduzido ao estado laical pelo papa, se ele prosseguir com suas injúrias). Roma, portanto, não precisa temer epidemias cismáticas por esse lado: outras virão, e em avalanche, como a saída de muitas pessoas que esperam por profundas reformas evangélicas, muitas vezes vislumbradas, mas, até agora, quase nunca realizadas. O resultado da segunda sessão do Sínodo dos Bispos, dedicada justamente à sinodalidade, que será realizada em outubro, portanto, não iniciará, se for decepcionante, um êxodo a favor de Viganò, mas um cisma silencioso daqueles que constatam que "esta" Igreja não quer se reformar. De fato, quando, se não agora?