28 Outubro 2016
Martinho Lutero ao centro do Monumento da Reforma, em Worms, na Alemanha. (Wikimedia Commons/JD)
Um globo na Praça do Mercado de Wittenberg traz um relógio em contagem regressiva para o 500º aniversário da Reforma, em 20 de maio de 2017. (Wikimedia Commons/Dr. Avishai Teicher)
Falecido há 470 anos, a luz de Martinho ainda tem de se difundir pela Alemanha. Na verdade, aquele que foi uma vez monge, tendo lecionado por 37 anos na Universidade de Wittenberg e pregado mais de dois mil sermões nesta pequena cidade alemã, promete transmitir a sua luz por todo o país, por toda a Europa e o mundo na medida em que cerimônias começam este mês a marcar o 500º aniversário da Reforma Protestante.
A reportagem é de Patricia Lefevere, publicada por National Catholic Reporter, 22-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Para os católicos que não cresceram ouvindo falar muito sobre Lutero – pelo menos não a ponto de ser edificante –, o próximo ano promete não uma história revisionista tanto quanto promete um olhar renovado ao homem que alterou a história desafiando tanto o papa como o imperador o Sacro Império Romano no começo do século XVI. Séculos à frente de seu tempo, concordam os críticos, Lutero lutou pela liberdade de consciência e buscou educar os fiéis, especialmente os pais e chefes de família, com o seu Catecismo Menor, bem como o clero com o seu Catecismo Maior.
Em sentido real, Lutero deixou carimbada na língua alemã a sua espiritualidade e a semelhança de sua alma, criando uma embarcação literária na qual pôde colocar suas traduções das Escrituras, tornando-as acessíveis a todos os leitores. Este empreendimento não só popularizou o cristianismo como também se transformou num fator na construção da nação alemã. Lutero também traduziu a missa para o alemão e escreveu dezenas de hinos que levaram o movimento para fora das fronteiras de geração em geração.
O seu legado pode ser encontrado não só em reformas introduzidas na Igreja Católica durante o Concílio Vaticano II, mas 400 anos antes, no Concílio de Trento. É o que afirma Wolfgang Thönissen, pesquisador que vive em Paderborn, na Alemanha, e que trabalha como consultor da Comissão Católico-Luterana para a Unidade.
Lutero passou a vida se perguntando: “Como posso encontrar um Deus misericordioso?” Os seus esforços preenchiam-se com dias de oração, jejum, leitura, escrita, confissão, ensino e pregação.
Na medida em que o Ano da Misericórdia católico se encerra e um ano de recordações da Reforma se abre, esta repórter aqui escolheu percorrer os passos de Lutero, viajando, em meados de setembro, por oito dias a destinos na Alemanha, por onde ele andou entre o nascimento (em 10-11-1483) e sua morte (em 18-02-1546).
Os peregrinos – mais de um milhão são esperados na Alemanha em 2017 – podem querer começar a jornada nas portas de ferro da Igreja de Todos os Santos, de Wittenberg, onde Lutero, segundo consta, postou as suas 95 Teses em 31-10-1517. As portas atuais datam de 1858; os originais foram destruídos pelo fogo um século antes.
A porta da Igreja de Todos os Santos com as 95 Teses de Martinho Lutero inscritas no original em latim. (Wikimedia Commons/Fewskulchor)
Estudiosos contemporâneos duvidam que o monge tenha pregado as suas 95 frases denunciando a venda de indulgências e outras práticas que considerava corruptas na Igreja Católica. Pesquisadores reconhecem que Lutero escreveu este seu tratado, provavelmente no início de 1517, e as apresentou em pregação, publicando-as mais tarde, mas nunca as martelando à porta.
Até o Papa Francisco concordou que a Reforma se deu em meio a abusos na Igreja Católica. “Naquela época (…) vemos que a Igreja não era propriamente um modelo a imitar: havia corrupção na Igreja, havia mundanidade, havia apego ao dinheiro e ao poder”, disse ele a jornalistas no voo papal que o trouxe de volta a Roma no final de sua visita à Armênia em 26 de junho.
Somente um político pregaria um aviso na porta de uma igreja, contou ao National Catholic Reporter o pesquisador Timothy Wengert antes de proferir uma palestra sobre a Reforma na Seton Hall University em 5 de outubro.
“Lutero foi muitas coisas, menos político”, disse Wengert, professor emérito de história da igreja no Seminário Teológico Luterano na Filadélfia.
Pintura sobre a porta da Igreja de Todos os Santos retratando Lutero com uma Bíblia alemã e Philip Melanchthon segurando a Confissão de Augsburg. (Wikimedia Commons/Dr. Avishai Teicher)
Discussões acadêmicas de lado, pegue sua câmera e tire uma selfie na porta de 997 aquilos de ferro, que tem todas as 95 teses inscritas em latim. Acima do texto há uma pintura representando Lutero com uma Bíblia em alemão e o seu colega teólogo de Wittenberg, Philip Melanchthon, segurando a Confissão de Augsburg, documento que Melanchthon escreveu em 1530 definindo as crenças luteranas.
Os dois reformadores contam com um lugar de destaque no belo mercado de Wittenberg, onde se ergueram suas estátuas no século XIX. O mercado convida à contemplação e à admiração. Para uma direção, o espectador pode ver a torre da Igreja de Todos os Santos e, na extremidade oposta, pode fitar a Igreja de Santa Maria. Saia deste momento de contemplação e entre nesta segunda igreja. Aí irá encontrar uma pia baptismal de bronze e um púlpito esculpido da época de Lutero.
As torres da Igreja de Santa Maria vistas da Praça do Mercado em Wittenberg. (Wikimedia Commons/Asurnipal)
Perto há um belo altar com cenas pintadas por Lucas Cranach, o Velho, que inclui Lutero entre um grupo de apóstolos imersos em um diálogo. Cranach – e mais tarde o seu filho, Lucas, o Jovem – era o principal ilustrador da Reforma. Os seus frequentes retratos e xilogravuras dos reformadores difundiram o movimento pela Europa.
O altar fornece um bonito ambiente para a celebração em inglês realizada semanalmente aqui ou na Igreja de Todos os Santos. Organizado pelo grupo Wittenberg English Ministry, o serviço da Palavra – atualmente em seu 19º ano – é conduzido por pastores convidados dos Estados Unidos e do Canadá.
Se puder, visite a Casa de Lutero, lugar originalmente chamado de o Mosteiro (ou Convento) Negro dos eremitas agostinianos. Aqui, o reformador viveu primeiro como monge católico em 1508. O piso superior contém a cela de Lutero, o andar do meio é um ambiente acadêmico, e o piso inferior serve de refeitório. Lutero continuou a viver na casa mesmo depois de o mosteiro ser dissolvido e quase todos os monges terem deixado a vida religiosa.
O eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio, soberano e patrono de Lutero e dono da Igreja de todos os Santos, cedeu a casa para o reformador. Depois de Lutero se casar com a ex-freira Katharina von Bora em 1525, aí eles criaram os seis seus filhos, além de seis sobrinhos e sobrinhas. A eles se juntavam a tia de Katharina e vários alunos e convidados. Os biógrafos observam que Katharina fazia todas as noites um jantar para até 40 convidados.
De volta ao ônibus ou ao seu carro, pare brevemente na cidade vizinha de Halle, onde o compositor George Friedrich Handel nasceu e foi batizado em 1685. Os luteranos e católicos vêm cantando os seus dramáticos oratórios há três séculos. Visite a casa de Handel em Halle ou pegue um bonde com o compositor a conduzir e com sua orquestra pintada por sobre a superfície do vagão.
Dentro da Igreja de Santa Maria em Halle, veja a máscara mortuária de Lutero e a sua bíblia pessoal, além de uma série de notas manuscritas.
Não longe de Halle está o local da morte e do nascimento de Lutero, Eisleben. As duas casas que relembram o seu início e o seu fim não são as estruturas originais, embora o conteúdo delas deem uma impressão do que era a vida de uma família de mineiros na idade média, e a casa de sua morte contenha uma réplica do leito de morte de Lutero.
A casa que lembra a morte de Lutero em Eisleben. (Wikimedia Commons/Tilman2007)
Em um esforço para resolver uma disputa de terra entre os condes de Mansfeld – dois irmãos que não se davam bem entre si –, Lutero voltou para Eisleben em janeiro de 1546. Ele tinha 62 anos e esteve doente a maior parte do tempo das três semanas que aí ficou. Mesmo assim, pregou os seus quatro últimos sermões na Igreja de Santo André, onde seu corpo foi velado por dois dias após morrer de ataque cardíaco em 18 de fevereiro. As últimas palavras escritas por ele estão exibidas em sua câmara mortuária: “Nós somos mendigos, essa é a verdade”.
Em seu leito, Lutero professou Cristo como o seu Salvador e Senhor antes de respirar pela última vez, segundo os dois condes e seus filhos que o atendiam.
Milhares de pessoas em luto saíram pelas ruas de Halle e outras cidades ao longo do caminho enquanto o corpo de Lutero era levado de volta a Wittenberg por 60 cavaleiros para o enterro na Igreja de Todos os Santos. E, ao longo de quatro séculos, dezenas de milhares de crentes continuaram a prestar-lhe reverência no local em que foi enterrado.
Um memorial a Lutero ergue-se na Praça do Mercado de Eisleben. (Wikimedia Commons/Tilman2007)
“Lutero viveu como um católico e morreu como um católico”, disse o Rev. David Elseroad, que também estava andando nas pegadas do reformador. Elseroad, pastor da Igreja Luterana da Trindade, em Hawthorne, Nova York, ainda que ordenado pastor luterano, considera-se católico.
“Eu tenho que compartilhar constantemente o Evangelho”, diz ele ao National Catholic Reporter, notando que Lutero o tem ajudado nessa tarefa. “Lutero não quis uma revolução; ele quis uma reforma”.
Para apreciar a catolicidade de Lutero, a sugestão ao peregrino é passar um tempo em Erfurt, cidade onde Lutero recebeu os títulos de bacharel, mestre e doutor. Além da excepcional universidade, a cidade também ficou conhecida pelas suas numerosas igrejas e ordens monásticas que proliferaram nela após a fundação de Erfurt por São Bonifácio em 742.
O pai de Lutero queria que o seu brilhante filho estudasse Direito de forma que não tivesse de trabalhar na mineração e que pudesse ajudar a família. Mas em meados de 1505, voltando para a universidade depois de uma visita com a família, Lutero é levado ao chão por um raio perto da localidade de Stotternheim. Aterrorizado, invocou Santa Ana, padroeira dos mineiros. Ele a prometeu que se tornaria monge.
Vitral do século XIV na catedral católica de Erfurt, onde Lutero foi ordenado em 1507. (Wikimedia Commons / GFreihalter)
Dentro de poucos dias, o reformador se despojou de todos os bens e bateu à porta de uma das ordens mendicantes mais austeras de Erfurt, os frades agostinianos. Uma decisão que seu pai detestou, mas que levou Lutero a ser ordenado em 1507. Visite a catedral católica de Erfurt, local de sua ordenação, e o mosteiro que ainda tem alguns dos pisos e vitrais originais que Lutero via em seus dias.
Ao sul de Erfurt, no belíssimo vale do norte da Baviera está a Veste Coburg, ou Fortaleza de Coburg, com 900 anos de idade. Aqui, Lutero refugiou-se por seis meses no ano de 1530, enquanto os seus companheiros reformadores foram para Augsburgo participar de uma reunião com o imperador do Sacro Império Romano. Acharam que os tempos estavam demasiado turbulentos para Lutero e que os seus inimigos eram demais numerosos para que participasse da Dieta Imperial, que fora convocada para unir a Alemanha em torno de uma única fé cristã num momento em que os turcos invadiam a Europa.
Monumento a Lutero sobre os muros da Veste Coburg. (Wikimedia Commons/Storfix)
Seja no lado de fora, seja no lado de dentro do Castelo de Coburg, o visitante pode maravilhar-se com a paisagem deslumbrante que talvez tenha inspirado a escrita dos 26 tratados reformistas de Lutero. A música há muito também está ligada a Coburg. Quase se pode ouvir Lutero, que adorava cantar e tocar o alaúde, cantarolando em sua câmara encantada.
Ao leste de Erfurt e ao norte de Coburg está a cidade de Eisenach, onde Lutero passou os anos de estudante secundarista, quando também frequentou uma escola de latim bem conceituada. Além do latim, ele estudou retórica, poesia e música e ganhava uns trocados ao cantar no coro dos meninos, que cantarolava de casa em casa muitas vezes pedindo um pão como recompensa.
Frau Ursula Cotta gostou de ouvir o jovem Martin a cantar. Ela lhe ofereceu moradia durante três dos quatro anos em que ficou Eisenach e o contratou para cuidar de seu filho pequeno.
Vale a pena visitar a casa de Cotta, que foi transformada num museu interativo da Bíblia. Todas as exposições estão em inglês e alemão. Um quarto contém elogios generosos de grandes nomes alemães como Goethe, Hegel, Nietzsche, Heine e Brecht para a tradução que Lutero fez do livro sagrado. “Lutero (...) despertou e libertou a língua alemã, um gigante adormecido”, observou o teólogo Johann Gottfried Herder.
A casa de Cotta em Eisenach, onde Lutero morou enquanto estudava o ensino médio. (Wikimedia Commons/Hjalmar)
Grande parte deste despertar ocorreu não muito longe, no Castelo de Wartburg. O verdadeiro peregrino de Lutero irá contar os 250 passos que levam do ônibus até a porta do castelo. Foi aqui, em 1521, que o reformador passou 11 semanas vertendo as Escrituras Gregas para um idioma que pudesse ser entendido por todos, criando uma tradução tão bem-sucedida que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da língua alemã na modalidade escrita.
A escrivaninha onde Lutero traduziu a Bíblia para o alemão encontra-se no Castelo de Wartburg. (Wikimedia Commons/Vitold Muratov)
Nada disso aconteceu facilmente. O visitante pode ainda ver a mancha na parede onde Lutero lançou o seu tinteiro contra Satanás, que estava infernizando os seus esforços literários.
Os dez meses de Lutero neste castelo não eram um período sabático de Wittenberg. Em vez disso, foram uma emboscada e refúgio seguro arranjado por seu apoiador, Frederico, o Sábio, depois que Lutero desafiou o chamado do imperador Carlos V na Dieta de Worms para se retratar de seus escritos. Lutero recusou, tendo supostamente dito a Carlos e portanto ao Papa Leão X, cuja bula papal o ameaçava de excomunhão: “Aqui estou, não posso fazer outra coisa”.
Temeroso de que Lutero fosse morto, uma vez que sua resposta o colocava como um fora da lei, Frederico mandou os seus homens sequestrá-lo no caminho de volta a Wittenberg e o pôs no Castelo de Wartburg. Aqui o reformador deixou crescer a barba e ficou conhecido como o Cavaleiro Jorge para os pouquíssimos que o viram naqueles dias.
As semanas de Lutero no Wartburg foram talvez as mais prolíficas em uma vida de estudos e escritas contínuos. Mas estiveram também repletas de depressão, melancolia e doenças digestivas trazidas pelos alimentos ricos servidos no castelo – tão diferentes das refeições escassas servidas nos seus aposentos agostinianos.
Antes de desembarcar no Castelo de Wartburg, os dias de Lutero frequentando a Dieta de Worms estiveram entre os mais estressantes de sua vida. O monge aguardou com expectativa a reunião com Carlos durante a primeira viagem do imperador à Alemanha. Lutero pensou que a dieta – reunião imperial – seria o lugar onde as suas 95 Teses finalmente receberiam uma audiência. Ficou assustado quando soube que o encontro não seria para debater os seus pontos de vista, mas sim uma audiência que terminaria em sua condenação e excomunhão.
Uma laje esculpida em Worms exibe a recusa de Lutero em se retratar. Também na cidade está o maior monumento da Reforma na Alemanha, com personagens como Calvin, Zwingli, Erasmus, Savonarola, e o boêmio Jan Hus, que fora queimado na fogueira em 1415 na sequência do julgamento do Concílio de Constança que o classificou como herege. Passar um tempo estudando esta obra gigante de bronze, com Lutero em seu centro, pode ser uma lição sobre uma revolução que começou antes do seu nascimento e que foi levado para muito além das fronteiras da Alemanha pelos escritos e ensinamentos de Lutero.
Lutero ao centro do Monumento da Reforma em Worms. (Wikimedia Commons/JD)
Embora os tratados de Lutero eram, em geral, edificantes e inspiradores, eles também foram ataques mordazes ao papado, que ele chamava de uma “uma instituição do diabo”, aos cardeais e especialmente aos vendedores de indulgências. Os judeus sofreram muito com os textos de Lutero também, especialmente nos tratados que ele produziu na parte final de sua vida, significativamente diferentes dos primeiros sermões anteriores em que havia buscado um tratamento mais justo para os judeus, cuja longa história na Alemanha é plena de discriminação, morte e guetização.
Um dos lugares mais tranquilos em Worms é o cemitério judaico de Worms, o mais antigo cemitério judeu da Europa, datando de 1059 e contendo mais de 2.500 lápides, pelo menos um terço deles erguido na Idade Média. O local fica perto do Monumento Reforma.
Lápides no cemitério judaico em Worms. (Wikimedia Commons/Dietrich Krieger)
Worms e a região de Mainz são antigos assentamentos com longas histórias de vida judaica. Os alemães são ávidos em mostrar aos visitantes as muitas lembranças de seu passado maculado nesta terra de Lutero, incluindo gravuras depreciativas ao lado da Igreja de Santa Maria, em Wittenberg, a redescoberta sinagoga de 600 anos de Erfurt e o grande Memorial aos Judeus Assassinados da Europa, celebrando o Holocausto erguido em Berlim na sombra do Palácio de Reichstag e do Portão de Brandemburgo.
Em Mainz, os visitantes podem visitar a catedral, cujo interior dá sensação é a de uma barca ecumênica a cruzar o Reno, rio que fez conhecida esta cidade desde os tempos romanos. Na época de Lutero, foi Johannes Gutenberg, ourives de Mainz, quem inventou a prensa de tipos móveis, assim ajudando a difundir os tratados da Reforma com uma intensidade missionária ao longo das rotas comerciais dos mercadores alemães.
Dentro do Museu Gutenberg, os visitantes podem assistir a impressão real de um texto, parecido com os métodos empregados nos dias de Lutero. Eles podem ouvir também o que se chama de o “beijo da impressora”, quando o rolo afasta-se da página e a página, agora preenchida com o tipo impresso, suspende-se.
Das 180 Bíblias de Gutenberg, restam apenas 49. Três estão no museu de Mainz. Um par delas – dispostas lado a lado e abertas ao mesmo texto – mostra a variedade de iluminação e arte que estava disponível para os nobres, comerciantes ricos e ordens religiosas, que foram os primeiros compradores deste presente alemão à civilização.
A Reforma não teria tido sucesso sem aquilo que Ernest Weidl chama de “as mãos ajudantes” de Lutero. Um lugar de destaque entre estes está reservado aos tipos móveis de Gutenberg e às inovações tipográficas. Poucos dias depois de um sermão de Lutero ou de um tratado escrito a mão por ele, uma cópia impressa tornava-se disponível em formato de panfleto, cartaz ou xilografia, diz Weidl, de Augsburg, na Alemanha, professor aposentado que conduziu o passeio pelos sítios aqui relatados.
Weidl apontou para Cranach, para o prefeito de Wittenberg bem como para o seu principal agente, que divulgava os eventos dos reformadores através de retratos, xilogravuras e por meio do seu fácil acesso ao aristocratas e proprietários de terras. Ele fez notar também as contribuições da dinastia Saxe-Coburgo-Gota e o papel de Frederico, o Sábio e de seu sucessor, João, o Firme, promovendo as ideias de Lutero e protegendo-o contra as autoridades papais.
Os protestantes alemães não têm a intenção de canonizar Lutero, e estão bem cientes de suas faltas e diatribes não só contra Roma, mas também judeus e muçulmanos. “Nós não temos santos”, Weidl diz.
Mas mais tarde, nesse mesmo dia, o nosso guia confessou a necessidade de tê-los, quando um dos 43 peregrinos do grupo de excursão “Oportunidades Educacionais” desapareceu em Heidelberg. A cidade universitária é onde Lutero apresentou a sua visão das Escrituras a eremitas agostinianos e convidou os convivas para aquilo que veio a ser chamado de a Disputa de Heidelberg de 1518.
Uma placa na Universidade de Heidelberg comemora a Disputa de Heidelberg de 1518. (Wikimedia Commons/Anneyh)
Wiedl chama-a de “a cidade mais romântica da Alemanha”, cuja universidade está interligada com cada uma das ruas e foi destaque em um filme chamado “O Príncipe Estudante”. Entre 35 mil alunos e um número igual de turistas, não há lugar melhor na Alemanha a se maravilhar distanciado da multidão.
“Sou luterano a minha vida toda”, contou o guia ao nosso grupo. “Mas às 13h10 de hoje, me tornei católico romano, orando para Santo Antônio nos ajudar a encontrar a nossa passageira perdida”.
Santo Antônio sempre ajuda, disseram os poucos católicos que estavam no ônibus quando, duas horas depois, ele guiava a alma perdida para o seu assento. No mínimo um católico no ônibus se perguntou se Santo Antônio poderia ajudar com que luteranos e católicos se aproximem, talvez recebam a Ceia do Senhor na mesa um do outro, neste ano de lembrarmos Lutero e celebrarmos a misericórdia.
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Percorra a vida de Lutero através destes destinos na Alemanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU