26 Abril 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 25-04-2024.
Com que seriedade os movimentos sedevacantistas devem ser levados em conta? Embora sejam muito poucos e suas posições apenas provoquem um sorriso cansado em muitos católicos, suas teses podem ser compatíveis pelo menos com alguns crentes em tempos de teorias conspiratórias na sociedade, especialmente numa fase em que a Igreja está mudando.
Em qualquer caso, para o Papa Francisco os sedevacantistas são ‘hongos’ (Fungos) na Igreja. Este grupo e outros críticos que se movem em ambientes tradicionalistas estão interpretando deliberadamente mal suas declarações. Como afirmou recentemente o Pontífice em uma entrevista com jornalistas espanhóis [em referência ao encontro com Religión Digital]. "Não são maus, são tristes, me dão pena", disse.
Assim analisa Matias Altmann em Katholisch o fenômeno ‘sedevacantista’, que, na acepção que ele trata, se refere a um crescente fenômeno durante o pontificado de Jorge Mario Bergoglio que “significa que a cadeira do Papa está vazia mesmo que haja alguém sentado nela. A pessoa que ocupa a presidência não é apenas um Papa ilegítimo, mas também um ‘pseudo Papa’”, à luz da interpretação desses críticos, entre os quais se destaca o ex-núncio Carlo Maria Viganò.
“Sempre houve dúvidas sobre a legitimidade de um Papa na história da Igreja. O sedevacantismo como teoria ou visão apenas se desenvolveu após o Concílio Vaticano II. Como outros grupos tradicionalistas, seus representantes estão incidindo em suas reformas [conciliares]: reforma litúrgica e reposicionamento sociopolítico da Igreja Católica, como a aceitação dos direitos humanos, a reconciliação com a democracia, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso e a liberdade religiosa”, assinala Altmann.
“Mas não se limita a uma única crítica: aos olhos dos sedevacantistas, o papado em Roma e seus seguidores se afastaram da verdadeira fé católica com o Concílio Vaticano II” e, como resultado, aqueles pontífices “que defendem ou não rejeitam os ensinamentos do Concílio são hereges. E um Papa herege automaticamente deixa de ser Papa: aqui se referem à teoria moderna precoce do papa haereticus do teólogo e cardeal Roberto Bellarmino (1542-1621). E como já não existem ordenações episcopais benévolas, os padres já não podem ser ordenados validamente e, portanto, já não podem administrar sacramentos válidos”.
No entanto, acrescenta o analista, “falar dos representantes do sedevacantismo como de um movimento real é uma exagero. São na sua maioria pequenos grupos e indivíduos dissidentes. Também estão longe de ser um grupo homogêneo em termos de conteúdo”, por isso nesse caldo de cultura se encontra inclusive a autodenominada Igreja Católica Palmariana, especialmente conhecida na Espanha.
“Não importa quão estranhos possam parecer os pontos de vista e os grupos, as teses sedevacantistas às vezes parecem se consolidar até mesmo entre crentes que não querem ter nada a ver com tais movimentos”, assinala Altmann, que lembra, por exemplo, que “assim se desenvolveram as coisas em torno da renúncia de Bento XVI”.
“Em 2013 - prossegue o analista -, desapareceu o mito de que ele tinha conservado o ‘munus’, o cargo petrino, e apenas havia renunciado ao ‘ministério’, o exercício ativo do pontificado. Segundo a lógica dessa tese, o papa Francisco não seria um Papa legítimo. Assim, de certa forma, surgiu uma nova variedade de sedevacantismo”.
“Alguns críticos do discurso inicial de Francisco aludem repetidamente a essa narrativa. Houve até mesmo padres que descreveram o pontífice reinante como um ‘usurpador antipapal’ que havia usurpado o cargo de Bento XVI”, o que levou no início do ano, em um duro artigo, o diretor de mídia do Vaticano, Andrea Tornielli, a criticar tais “teorias absurdas e ridículas sobre a renúncia/não renúncia”, que considera, no fundo, um ataque "à pessoa e à inteligência de um grande teólogo, bispo, cardeal e papa como Joseph Ratzinger".
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“Fungos sedevacantistas”: a nova praga da velha guarda ultramontana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU