24 Fevereiro 2023
Após a repressão ao rito latino com o qual a corrente tradicionalista foi definitivamente amordaçada, o Papa Francisco motiva sua decisão explicando que "tudo na Igreja deve estar de acordo com as exigências do Evangelho e não com as visões de conservadores ou progressistas, mas ao fato de que Jesus chega à vida das pessoas. Portanto, cada escolha, uso, estrutura e tradição devem ser avaliados na medida em que favorecem o anúncio de Cristo”. Na audiência geral que esta manhã cai na Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, a reflexão papal desenvolvida diante dos fiéis na Sala Paulo VI tem como protagonista o anúncio do Espírito Santo, segundo um trecho do Evangelho de Mateus (Leitura: Mt 28:18-20).
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 22-02-2023.
Francisco lamenta as divisões, o empurrão e o desenlace evidentes em quase todos os lugares, explicando que “ toda tradição religiosa é útil se facilita um encontro com Jesus. Poderíamos dizer que a decisão histórica do primeiro Concílio, da qual também nós nos beneficiamos, foi movida por um princípio, o princípio do anúncio: tudo na Igreja deve se conformar às exigências do anúncio do Evangelho” . Mas se tudo permanece “sem alma”, então a Igreja “fecha-se em si mesma, em debates estéreis e exaustivos, em polarizações desgastantes, enquanto se apaga a chama da missão. O Espírito, ao contrário, nos faz sair, nos impulsiona a anunciar a fé para nos confirmar na fé, para ir em missão para redescobrir quem somos. Por isso o Apóstolo Paulo aconselha: Não extingais o Espírito”.
Francisco pede aos fiéis que recomecem com o mesmo espírito intrépido que tiveram as comunidades dos primeiros séculos, deixando de lado investigações, debates, pesquisas para ver qual é a opinião predominante. "É sem dúvida importante que na nossa planificação pastoral partamos dos levantamentos sociológicos, das análises, da lista das dificuldades, da lista das expectativas e das queixas. Porém, é muito mais importante partir das experiências do Espírito: este é o verdadeiro ponto de partida”.
Os impulsos de desintegração que estão presentes na Igreja emergem das notícias diárias onde já parece reinar a anarquia, dependendo das áreas geográficas: das bênçãos aos casais homossexuais na Alemanha, apesar das proibições da Congregação para a Doutrina da Fé as lágrimas doutrinárias sobre a comunhão concedida a políticos abertamente pró-aborto nos Estados Unidos, desde o lobby pela abolição do celibato até a autorização para o sacerdócio feminino. Inserem-se também neste panorama as posições daquele mundo tradicionalista recortado que prefere o rito em latim segundo o missal de 1962, mas que foi de facto banido pelo Papa Francisco sob a alegação de que causaria mais divisões e polarizações.
“É muito triste ver a Igreja como se fosse um só Parlamento. A Igreja é outra coisa, é uma comunidade de homens e mulheres que crêem e anunciam Jesus Cristo, mas movidos pelo Espírito Santo, não por suas próprias razões", afirma em outro trecho de seu discurso na Sala Paulo VI, no Vaticano. "O Evangelho não é uma ideologia, é um anúncio que te toca e te faz mudar o coração. Mas se te refugias numa ideologia, seja de direita, seja de esquerda, seja de centro, estás a fazer do Evangelho um partido político, uma ideologia, um clube".
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Papa Francisco defende suas escolhas após a repressão aos tradicionalistas: “O Evangelho não é de direita ou de esquerda, apenas polarizações” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU