03 Julho 2024
“Agora é o momento de retomar decididamente o caminho” foi o encorajador convite dirigido a todos os bispos do mundo, pouco mais de um mês após o encerramento da primeira sessão do Sínodo, de parte dos cardeais Grech e Hollerich, secretário e relator gerais, respectivamente.
A reportagem é de Franco Ferrari, publicada por Missione Oggi, n. 3, maio-junho de 2024.
Um caminho caracterizado pela complexidade, que exigiu da Secretaria do Sínodo mais de quatro meses para desenvolver uma estratégia de trabalho. De fato, o Relatório de Síntese (RdS) votado pela primeira sessão do Sínodo - que vale a pena recordar é dedicado à busca de uma forma sinodal da Igreja - entregou ao Bispo de Roma e à Igreja uma longa lista de "propostas" e complexas “questões a serem aprofundadas”.
Uma primeira indicação de trabalho foi dirigida às Igrejas locais para um novo processo de consulta com base no RdS para responder à pergunta “Como ser Igreja Sinodal em missão?”.
O objetivo é duplo. Prolongar e manter viva a experiência sinodal nas Igrejas locais, por partilhar experiências e boas práticas; os resumos dessa adicional avaliação deveriam dar uma indicação da situação e serão disponibilizadas aos membros do Sínodo, sem filtros adicionais, com o ambicioso objetivo de ajudá-los a ter uma ideia da recepção que o caminho sinodal está tendo nas igrejas locais.
Em segundo lugar, chamar a atenção para os aspectos estruturais (órgãos participativos, ministerialidade, relações entre Igrejas locais e Bispo de Roma, ...) a adaptar ao princípio da sinodalidade. Um breve resumo, elaborado pelas Conferências Episcopais e entregue em meados de maio, fornecerá uma base para elaborar o Instrumentum laboris (IL) da segunda sessão.
Paralelamente, a Secretaria Geral e alguns Dicastérios da Cúria organizaram um encontro internacional dos párocos (“Os párocos pelo Sínodo”, 28 de abril – 2 de maio) para “valorizar a sua experiência", mas ainda mais "por um seu maior envolvimento no processo sinodal". A consulta inicial tinha revelado, de fato, uma certa relutância em envolver-se no processo sinodal.
Os participantes (mais de 200) divididos em 18 grupos linguísticos (espanhol, inglês, francês e italiano) discutiram sobre três macrotemas: O rosto da Igreja sinodal; Todos discípulos, todos missionários; Tecer laços, construir comunidades.
A discussão confirmou essencialmente o que já se sabia desde a fase de consulta. Em particular: as dificuldades em abraçar a visão sinodal (os grupos anglófonos temem o seu poder destrutivo); o temor de perder o poder com a insurgência de uma contraposição presbíteros-laicos; a crise devido a um excesso de incumbências e responsabilidades organizacionais e muitas vezes por uma condição de solidão/isolamento.
Além disso, mesmo entre os párocos, despontou a necessidade de adequar o Direito Canônico, de rever a formação e a vida nos seminários, de valorizar o papel das mulheres. Mas não há nenhum vestígio das questões: celibato, diaconato feminino, padres casados, reinserção "dos sacerdotes que deixaram o ministério" (RdS, 11l). Em essência, os párocos estão em posições mais retrógadas em comparação com o que o Povo de Deus expressou nas consultas.
Ao final do encontro, para sinalizar a extensão da resistência, os participantes receberam do Papa o "mandato" para "tornar-se missionários da sinodalidade" junto aos outros párocos, com o pedido de “informar a Secretaria do Sínodo” sobre os frutos do seu trabalho.
O aspecto mais desafiador é, sem dúvida, o aprofundamento das “questões” sobre as quais os padres e as madres sinodais não chegaram a um acordo ou apresentaram propostas. Muito trabalho confiado a uma complexa arquitetura de grupos de estudo (v. quadro) compostos por especialistas e Pastores que será endereçada e coordenada, por mandato expresso do Papa, pela Secretaria Geral do Sínodo.
Francisco, por indicação da Secretaria Geral, identificou dez macrotemas em torno dos quais foram coletadas muitas das questões postas pelo RdS. Entre esses: a figura e os critérios de seleção dos bispos; os critérios para abordar as questões doutrinárias, pastorais e éticas controversas (fim da vida, identidade de gênero, orientação sexual, ...); o serviço aos pobres e às situações de marginalização; a recepção dos resultados do caminho ecumênico. A questão do diaconado feminino é confiada ao grupo que tratará dos ministérios, enquanto o pedido de reforma dos Códigos de Direito Canônico (latino e oriental) foi confiada a uma comissão ad hoc sob a orientação do Dicastério para os textos legislativo.
No entanto, desapareceram do horizonte as questões relativas ao sacerdócio (celibato, reintegração dos padres casados, ordenação de viri probati). O Cardeal Grech afirmou numa coletiva de imprensa que a questão do celibato “nunca foi posta na agenda”, mas é importante observar que é feita referência a ela tanto nas sínteses da consulta, quanto no IL (B2, 9), e no RdS (12 f, l) e que o Sínodo da Amazônia já havia se manifestado sobre a ordenação dos viri probati. Também sobre a central questão litúrgica, - muitas questões críticas assinaladas com evidência pela consulta -, presente de modo atenuado no RdS (1c; 3l, m), não se encontra traço.
Além disso, a Secretaria Geral utilizará um “Fórum Permanente” para vários aprofundamentos (ver quadro).
Nesse extenso trabalho de reconhecimento também serão envolvidos os dicastérios, a Comissão Teológica Internacional e a Pontifícia Comissão Bíblica.
Se, portanto, a Assembleia Sinodal, que em todo o caso receberá um relatório sobre os trabalhos dos grupos de estudo, foi “expropriada” das questões controversas, do que irá tratar em outubro? Terá que responder à pergunta “Como ser Igreja sinodal em missão?”, mas para ter uma ideia precisa será necessário esperar pelo IL que ainda está sendo elaborado.
O caminho escolhido não pode deixar de parecer razoável dada a natureza fundamental e, em alguns casos, de fundação das questões, mas convida a alguns questionamentos.
Se os grupos de estudo tiverem mandato até junho de 2025, quem decidirá quais soluções adotar com base nas suas propostas? Talvez uma série de sínodos temáticos, ou Bergoglio poderia decidir sobre as questões sobre as quais haverá maior convergência e adiar as demais para o seu sucessor, ou ainda adiar tudo para quem vier depois dele.
A Igreja, no entanto, não parece poder esperar mais por soluções calibradas a longo prazo. Thomas Reese, renomado repórter jesuíta do "National Catholic Reporter", observou a esse respeito: "Nesse interim, me sinto no Titanic, enquanto a tripulação se reúne para falar sobre como deveriam se escutar uns aos outros, milhões de católicos estão indo embora."
Levando em conta as recepções “insuficientes” dos sínodos sobre a família e sobre a Amazônia, talvez não seja inadequado repensar a hipótese, que há tempo está sendo proposta, de um novo concílio. A consulta ao Povo de Deus já indicou a agenda, os aprofundamentos extras sinodais poderiam ser sua base preparatória.
Esses grupos terão a tarefa de aprofundar também os aspectos relativos à implementação da sinodalidade nas dioceses; ao estatuto das Conferências Episcopais e dos organismos continentais; ao papel da Cúria Romana, ao primado petrino e à relação entre papa e colegialidade episcopal.
O “Fórum Permanente” deverá aprofundar os aspectos teológicos, jurídicos, pastorais e espirituais da noção e da prática da sinodalidade, prestando atenção em: esclarecer a relação entre sinodalidade, comunhão e colegialidade; estudar a contribuição da experiência sinodal das Igrejas católicas orientais (RdS 1, 6d, 7g).
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