12 Março 2024
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu-se para “resolver” a crise de insegurança e violência no Haiti, embora não tenha especificado como.
A reportagem é publicada por Página/12, 11-03-2024. A tradução é do Cepat.
A capital haitiana, Porto Príncipe, ainda estava mergulhada neste domingo numa onda de violência desencadeada pelas gangues armadas, em resposta à qual os Estados Unidos anunciaram a evacuação de parte do pessoal da sua embaixada e reforçaram a segurança.
Hospitais sob ataque, falta de alimentos e infraestruturas bloqueadas levaram a cidade a uma situação humanitária cada vez mais precária. O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu-se para “resolver” a crise de insegurança no Haiti, embora não tenha especificado como.
O fim de semana foi marcado por novos confrontos entre a polícia e as quadrilhas criminosas. Porta-vozes militares dos EUA disseram no domingo que realizaram “uma operação para aumentar a segurança na embaixada dos EUA em Porto Príncipe”. A sede diplomática observou na rede social X que “o aumento da violência das gangues nas proximidades da embaixada e do aeroporto levou o Departamento de Estado a tomar providências para permitir a saída de pessoal adicional”.
O chefe da diplomacia dos EUA, Anthony Blinken, e o presidente do Quênia mantiveram uma conversa sobre a crise atual e “sublinharam o seu compromisso inabalável com o envio de uma missão multinacional de apoio à segurança” destinada a “criar as condições de segurança necessárias para a realização de eleições livres e justas”, segundo um porta-voz do Departamento de Estado.
Philippe Branchat, chefe da Organização Internacional para as Migrações (OIM), alertou que “os habitantes da capital vivem confinados e não têm para onde ir”. “A capital está cercada por gangues armadas e perigosas”, disse Branchat, enfatizando que “a insegurança está prestes a se espalhar para todo o país”. Segundo a OIM, 362 mil pessoas estão atualmente deslocadas no Haiti, número que cresceu 15% desde o início do ano.
As gangues, que controlam vastas áreas da capital, bem como as vias de acesso que levam ao resto do território, têm atacado há vários dias delegacias de polícia, tribunais e duas prisões de onde fugiu a maioria dos 3.800 presos. Estes grupos e uma parte da população exigem a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, que está fora do país. De acordo com as últimas informações, Henry está em Porto Rico. O governante deveria deixar o cargo em fevereiro, mas em vez disso fez um acordo para dividir o poder com a oposição até a realização de novas eleições.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro uma missão policial multinacional liderada pelo Quênia, mas esse destacamento ficou paralisado nos tribunais quenianos. Diante da violência, dezenas de moradores assumiram no sábado um escritório da administração pública em Porto Príncipe, na esperança de encontrar ali refúgio.
Na sexta-feira, homens armados atacaram o palácio presidencial e a delegacia da polícia de Porto Príncipe, confirmou o coordenador-geral do sindicato da polícia haitiana. Vários agressores foram mortos, segundo a mesma fonte. Por outro lado, cinco pessoas sequestradas em fevereiro em Porto Príncipe, incluindo quatro missionários, foram libertadas neste domingo.
O governo decretou estado de emergência no departamento ocidental que inclui Porto Príncipe, bem como um toque de recolher noturno que é difícil de aplicar pelas forças policiais, que já estão sobrecarregadas. Diante do surto de violência, a Comunidade do Caribe (Caricom) convocou representantes dos Estados Unidos, França, Canadá e ONU para uma reunião na segunda-feira na Jamaica.
Os cuidados sanitários estão seriamente afetados com “hospitais que foram atacados por gangues e tiveram de evacuar os profissionais de saúde e pacientes, incluindo recém-nascidos”, segundo a OIM. A ONG Mercy Corps alertou para os riscos de abastecimento alimentar no país mais pobre da América.
“Com o fechamento do aeroporto internacional, a pouca ajuda que o Haiti recebe atualmente poderá não chegar” e “se esses refeitórios públicos não tiverem acesso, o Haiti em breve passará fome”, alertou a Mercy Cops. Se a “paralização” em Porto Príncipe continuar nas próximas semanas, “cerca de três mil mulheres grávidas correm o risco de não terem acesso a cuidados de saúde essenciais”, alertaram vários representantes da ONU na semana passada.
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu-se neste domingo para resolver a crise de insegurança e violência causada por grupos armados no Haiti. “Podemos resolver isso. Mas precisaremos de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, do consentimento do país anfitrião e da cobertura de todas as despesas da missão”, escreveu Bukele na rede social X, numa mensagem em inglês que foi posteriormente replicada pela Secretaria de Imprensa da Presidência. No entanto, o presidente salvadorenho não deu detalhes sobre o que faria para resolver a situação no Haiti.
Bukele foi reeleito presidente de El Salvador em fevereiro com 85% dos votos, apoio que conquistou graças à “guerra” contra gangues criminosas que devolveu a tranquilidade às ruas. Em março de 2022, o presidente lançou uma ofensiva contra estes grupos sob um regime de exceção que reduziu os assassinatos a mínimos históricos. Em outubro passado, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina visitou El Salvador e conversou com Bukele sobre o possível apoio do país centro-americano a uma missão internacional no Haiti.
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Haiti. A situação no país piora e Bukele ofereceu-se para “resolver” a crise de insegurança e violência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU