22 Janeiro 2024
”Os ataques às atividades econômicas dos batizados chegaram a quadruplicar: mais de 27 mil. Esta última estratégia visa privar a comunidade da possibilidade de se sustentar, obrigando-a muitas vezes à fuga. O relatório fala de 'Igreja refugiada', um fenômeno em constante aumento como as pressões cotidianas”, escreve Lucia Capuzzi, jornalista italiana, em artigo publicado por Avvenire, 17-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Prisões, abusos, torturas, exclusão do trabalho e até morte. Um em cada sete cristãos no mundo - até um em cada cinco na África e dois em cada cinco na Ásia - é vítima de graves formas de perseguição. Um total de 365 milhões de pessoas em mais de 70 países. O recorde dos últimos trinta e um anos.
Juntamente com a quantidade, aumenta a velocidade com que as discriminações se estendem ao longo do tempo. E no espaço: as nações em alto risco passaram de onze para treze. O alerta está contido no novo Relatório PorteAperte/OpenDoors que analisa o período entre 1º de outubro de 2022 e 30 de setembro passado. No topo da trágica lista dos países mais perigosos para as Igrejas está novamente a Coreia do Norte, no topo do ranking desde 2002, exceto em 2022. O regime de Kim Jong-un pratica uma política de tolerância zero em relação às religiões. Em Pyongyang é, portanto, de fato impossível para os cristãos viverem a sua fé de alguma forma. Seguem-se dois países africanos – Somália e Líbia – flagelados por uma instabilidade endêmica e pela presença de grupos extremistas de matriz islâmica que se aproveitam do caos para agir sem ser perturbados. Os não-muçulmanos são obrigados a esconder as suas crenças: se forem descobertos, correm o risco de morte. Além disso, nas prisões da Líbia, estão encarcerados milhares de migrantes, muitos são cristãos, também visados por causa de seu credo.
A situação não é muito melhor na Eritreia, na quarta posição, ou no Iêmen, na quinta, onde o conflito prolongado tornou a condição dos batizados ainda mais precária. A Nigéria, em sexto lugar, com 4.118 assassinados e mais de 3.900 sequestrados, continua sendo o lugar mais letal e mais violento para os cristãos, enquanto o Paquistão, em sétimo, confirma ser o segundo. O Irã caiu para o nono lugar, mas não por causa de mudanças positivas internas, mas sim devido ao agravamento do cenário dos países que o precedem. Em Teerã e arredores, os não-islâmicos são forçados a encontrar-se em pequenos grupos nas casas, pois os edifícios de culto são vistos como uma ameaça à hegemonia dos aiatolás.
Em vez disso, regista-se uma leve melhoria no Afeganistão. Também nesse caso as causas são complexas. Os primeiros dois anos do Emirado dos talibãs foram caracterizados pela fuga dos cristãos. Quem ficou, foi morto ou se converteu ao Islã. Por isso, os estudantes do Alcorão deram por “debelado” o perigo representado pelos “infiéis”. Nos últimos meses, portanto, afrouxaram o controle para se concentrarem na consolidação do regime. No Sudão, vítima da guerra que explodiu em abril, porém, a vida dos cristãos tornou-se ainda mais difícil e o país subiu duas posições, alcançando a oitava posição. O cenário sudanês resume um fenômeno que diz respeito à toda a região. “A crescente instabilidade política na África Subsaariana – destaca Cristian Nani, diretora da PorteAperte/OpenDoors – faz aumentar a violência de base religiosa”.
Fechando os “top treze” estão a Índia – onde o assédio é principalmente obra de extremistas hindus apoiados pelo atual governo de Narendra Modi –, a Síria em conflito latente e a Arábia Saudita. De modo geral, os homicídios devidos à fé diminuíram levemente. Em 2023 foram 4.998, mais de seiscentos a menos que no período anterior. No entanto, cresceram exponencialmente os assaltos, os fechamentos e os confiscos de igrejas e propriedades eclesiásticas públicas, incluindo escolas e hospitais: estamos falando de quase 15 mil. Os ataques às atividades econômicas dos batizados chegaram a quadruplicar: mais de 27 mil. Esta última estratégia visa privar a comunidade da possibilidade de se sustentar, obrigando-a muitas vezes à fuga. O relatório fala de "Igreja refugiada", um fenômeno em constante aumento como as pressões cotidianas. Uma forma de perseguição menos evidente que a violência, mas igualmente feroz, que se expressa em impedimentos de acesso a determinados empregos, na negação de cuidados médicos ou educação, em ameaças.
Um caso peculiar é o da Nicarágua. A campanha de ódio de Daniel Ortega fez o país pular vinte posições, passando da 50ª para a 30ª posição. Bispos, padres, religiosos e religiosas são presos ou expulsos. O pastor de Metagalpa, Rolando Álvarez, ficou preso por 528 dias antes de ser exilado para Roma no domingo.
PorteAperte/OpenDoors não desiste de encontrar alguns raios de esperança. No Mali, por exemplo, em junho, foi aprovada uma nova Constituição que reconhece a liberdade de fé. E no Sri Lanka, os ativistas assinalam progressos na formação de líderes cristãos para defender os seus direitos.
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Em um ano, 365 milhões de perseguidos: Kim e Ortega lançam seus ataques contra os cristãos. Artigo de Lucia Capuzzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU