21 Dezembro 2023
A Audiência Geral contou com a presença de um grupo de jovens haitianos, que vieram à Itália através da missionária Madalena Boschetti, que vive no país há mais de 20 anos. Eles deram a Francisco uma cruz de madeira, feita por um deles, que mostra a esperança e o sofrimento do povo do Haiti.
A reportagem é de Benedetta Capelli, publicada por Vatican News, 20-12-2023.
Nos rostos de "seus meninos", como Madalena Boschetti, missionária fidei donum há mais de 20 anos no Haiti, os chama, há o que o Papa Francisco chama de "a menor, porém mais forte virtude teologal", ou seja, a esperança. Em suas histórias, algumas de doença e abandono, há a presença de uma Igreja que não olha para o outro lado, mas escolhe caminhar junto, tornando conhecido o amor de um Pai fiel e misericordioso. A palavra que Madalena usa com mais frequência é "humanidade", ter ensinado a esses jovens o valor da vida, o respeito e a dignidade dos outros, ter tornado conhecida a importância da dedicação e do trabalho, ter lançado as bases para assumir a responsabilidade no futuro pelos centros com os quais colaboram, fundados por tantos missionários que acreditaram incondicionalmente nessa terra, hoje ultrajada pela violência e pelo abuso.
As bandeiras do Haiti na Sala Paulo VI (Foto: Vatican Media)
Na manhã desta quarta-feira, 20 de dezembro, na Sala Paulo VI, houve o encontro com o Papa Francisco no final da Audiência Geral. "A primeira emoção", disse Madalena ao Vatican News-Rádio Vaticano, "foi a alegria de poder encontrá-lo e não sozinha, mas com esses meus jovens maravilhosos que vieram à Itália para testemunhar a situação do país e testemunhar com sua presença e amizade sua gratidão à Igreja. Eles cresceram comigo, então, para mim, são minha grande família haitiana, o sinal do cêntuplo que o Senhor nos dá mesmo nesta terra". Uma gratidão que os jovens pretendem demonstrar na noite desta quarta-feira na Basílica de São Bartolomeu na Ilha Tiberina, santuário dos novos mártires, trazendo do Haiti as relíquias de Ir. Luisa Dell'Orto, assassinada em Porto Príncipe, em 25 de junho de 2022. "Irmã Luisa", explicou Madalena, "é uma nova mártir, mas nós viemos de um país de mártires porque essa população é uma vítima inocente, há homens e mulheres que trabalham com enorme esforço numa situação que nem podemos imaginar aqui, eles fazem isso para alimentar seus filhos. Então, são pessoas que simplesmente tentam viver".
A situação no Haiti continua muito grave, "há uma enorme dificuldade em tudo o que é cotidiano". "O povo quer paz, quer viver com dignidade. Há uma fuga dos jovens, há uma fuga de todos. Na verdade, isso é motivado pelo fato de que não há condições nem para a vida cotidiana, por exemplo, na minha área, no noroeste, as pessoas passam fome e não sabem como encontrar um prato diário de arroz. Na capital, as pessoas tentam se defender das gangues criminosas".
Até mesmo a chegada à Itália, num país onde não há mais uma estrutura pública que funcione normalmente, foi um desafio com a preparação dos documentos que começou em julho. "O valor dessa missão com o testemunho dos jovens era muito importante", explicou Madalena. "São jovens que escolheram fazer de suas vidas obras-primas, como diria o Papa João Paulo II. Eles fazem isso com uma simplicidade extraordinária, pegando o bastão dos missionários que plantaram obras para os mais vulneráveis, levando para o país as riquezas da humanidade e da fé que os jovens sentiram deles". "Tenho a alegria de dizer que eles são construtores da paz, porque num mundo e num país onde estamos em guerra e somos vítimas da guerra, esses jovens decidiram construir a paz e estão fazendo isso".
O encontro entre o Papa e os jovens do Haiti (Foto: Vatican Media)
Madalena fez questão de nomear seus "filhos": David, de 23 anos, que chegou ao hospital dos Camilianos quando tinha quase dois anos. Estava doente e abandonado. "Ele foi a primeira criança que conheci e por quem me afeiçoei na época, e ele se afeiçoou a mim. Eu o ensinei um pouco a falar crioulo, imagine que eu nem sabia". Depois, Jocelyn, o braço direito de Madalena, Annasteel Falou, que continua fazendo o que a irmã Luisa fazia e, por fim, Jeff Antoine, o artista do grupo.
Ele presenteou o Papa com uma cruz de madeira, que Francisco aceitou com palavras de gratidão: "Linda, linda". "Pensamos em fazer um gesto de Natal para ele proveniente do Haiti", explicou Jeff. Na cruz domina o verde e o azul-celeste nos dois braços, onde "de um lado", explicou o artista, "desenhei uma árvore caída, mas onde se veem as raízes que dão a vida", símbolo, entre outras coisas, da associação Aksyon Gasmy, de Madalena. Do outro lado está a vida cotidiana do Haiti e aqui está o filho pródigo, abandonado por sua família". Essa é uma realidade cada vez mais comum para milhares de crianças e num país agora em desordem. Por fim, na cruz, Jeff desenhou um Cristo de pele negra que representa o sofrido povo haitiano. No rosto desse jovem está a alegria de ter recebido o abraço do Papa e da Igreja, é uma espécie de restituição pelo que ele recebeu desde pequeno e que o mudou profundamente. Hoje, além de desenhar e pintar, Jeff está envolvido no trabalho da Aksyon Gasmy, tentando levar alívio ao seu povo, mas também educando as pessoas a "viver com dignidade e respeito pelos direitos dos mais frágeis". Eu gostaria de um Natal de paz para o Haiti", concluiu, "para que não seja mais refém das gangues".
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As dores do Haiti na cruz entregue ao Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU