29 Novembro 2023
"A dialética tem raízes apologéticas, é uma dinâmica que cria uma divisão entre nós e eles, que leva a uma crença na superioridade moral, à radicalização religiosa diante da falta de identificação social com o ambiente. Algo que exige redes nas quais, além das instituições, pessoas diferentes com valores comuns se reúnem para práticas comuns. Trata-se de integrar as diferenças em uma Igreja para todos, todos, todos", escreve Luis Miguel Modino, padre espanhol, missionário Fidei Donum.
Novas perspectivas, dinâmicas e caminhos na vida da Igreja são uma constante na vida do Papa Francisco, também no campo teológico. Esse é o tema do encontro teológico e interdisciplinar com especialistas acadêmicos e pastorais realizado em Bogotá, de 27 a 29 de novembro, sobre "A linguagem simbólica da cultura popular".
Uma oportunidade para descobrir que a reflexão teológica está repleta de simbolismo e que o transcendente se manifesta de diferentes maneiras. Ele está presente no rap, na poesia popular, nas tradições culturais e religiosas, na religiosidade popular, no debate teológico que tem um ouvido atento ao que o povo vive, especialmente nas periferias. Não podemos nos esquecer de que o símbolo é um lugar que representa o que está acontecendo e que é descoberto por meio da escuta, dos sentidos.
A Igreja pós-conciliar chamou a ir como Igreja às fronteiras, o que na América Latina nos leva a entender que o político, o ideológico e o religioso não estão separados, ainda mais quando percebemos que na história do continente as religiões acompanharam opressores e oprimidos. O desafio é acompanhar a fraternidade universal e descobrir os conceitos que marcam a vida do povo latino-americano, entre outros, Pátria Grande, justiça social, comunidade comprometida e libertadora, fazer memória a partir das vítimas, entender que a teologia e a sociedade são construídas a partir das vítimas.
Encontro Celam (Foto: Luis Miguel Modino)
Trata-se de criar pontes em busca da fraternidade universal, porque, como o Papa Francisco destaca, ninguém se salva sozinho. Criar um caminho alternativo que leve a dizer que vale a pena viver em nossa sociedade, por meio de uma mudança de paradigma que distancie a Igreja de qualquer força opressora ou polarizadora. Uma reflexão do simbólico e do ritual, que nos leva a entender os sistemas de comunicação relacionados aos símbolos, uma realidade presente em várias esferas.
Uma teologia que se expressa na cultura popular, em um maior protagonismo das mulheres, incluindo as mulheres migrantes, que assumiram o trabalho pastoral na Igreja, muitas vezes por meio da promoção da religiosidade popular. Uma realidade urbana que deve motivar uma reflexão sobre a experiência do religioso nas cidades, onde a conexão com Deus é mais um relacionamento do que uma religião, que dissolve o sagrado e o profano, o religioso está permanentemente se expressando. Uma visão de Deus como aquele que me protege e cuida de mim, deixando para trás um Deus rígido. Em um ambiente assim, muitos não têm necessidade de ir à igreja, não têm necessidade de comunidade.
A reflexão sobre a religião das margens nos leva a abordar fenômenos como a narco-religião, a rejeição das práticas religiosas dos latinos nos Estados Unidos, associando-as à marginalidade, sendo o uso de rosários um exemplo disso, uma atitude repreendida pela polícia. Também é necessário refletir sobre outros fenômenos, como as tatuagens, um elemento cada vez mais comum, visto como moda e não associado a grupos marginalizados. Algumas tatuagens são religiosas, embora nem todas tenham um significado espiritual, mas têm paralelos com a prática religiosa, é uma prática penitencial, dói e é algo para a vida toda, e como as religiões servem para marcar uma vida, são uma prática de sacralização.
É aí que entra em cena a estética, algo presente na religiosidade popular, que é uma expressão da vida social do povo, produzindo um senso de fé que se expressa por meio de festividades, com um senso de comunidade. Nessa religiosidade popular, um elemento-chave é quem tem o poder da manifestação religiosa, se é a hierarquia ou o povo.
Encontro Celam (Foto: Luis Miguel Modino)
A dialética tem raízes apologéticas, é uma dinâmica que cria uma divisão entre nós e eles, que leva a uma crença na superioridade moral, à radicalização religiosa diante da falta de identificação social com o ambiente. Algo que exige redes nas quais, além das instituições, pessoas diferentes com valores comuns se reúnem para práticas comuns. Trata-se de integrar as diferenças em uma Igreja para todos, todos, todos. Uma dialética que é superada a partir de uma visão poliédrica.
Essa estética se manifesta no sagrado e no profano, hoje de diferentes formas, dada a experiência digital da fé, algo cada vez mais presente que provoca uma mudança na experiência religiosa e na manifestação do religioso. Uma mudança que ocorre por meio de novas temporalidades, espacialidades, materialidades, discursividades e ritualidades. Algo que leva à expressão de elementos como as virtudes teologais por meio do rap, com projetos que fazem rap para dar respostas coletivas como um grupo. Essas são novas expressões do misticismo, de uma estética pop, que atinge as multidões, como, por exemplo, o Fator Francisco.
Encontro Celam (Foto: Luis Miguel Modino)
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Descobrir as manifestações do religioso na cultura popular, um desafio para uma reflexão teológica poliédrica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU