22 Setembro 2023
UNICEF emite um alerta: 200.000 deslocados devido à extrema violência no país. Dom Max Leroy Mésidor apela à comunidade internacional: "Não podemos ficar de braços cruzados".
A reportagem é de Luana Foti, publicada por Vatican News, 21-09-2023.
Os cidadãos haitianos vivem uma situação dramática marcada pela extrema violência, fome e desnutrição. Max Leroy Mésidor, arcebispo metropolitano de Porto Príncipe, a capital do país, é enfático: "Haiti está à beira do abismo". Contatado pela agência de notícias SIR, ele descreve as condições em que a república caribenha se encontra: "A insegurança assola Porto Príncipe há mais de dois anos. Mas nos últimos meses, a situação piorou. Gangues controlam mais de três quartos do território da capital. A cada dia, eles ocupam novas áreas diante da indiferença e apatia das autoridades". Roubos, estupros, saques, incêndios criminosos, sequestros e assassinatos são a norma que mancha os dias dos haitianos. No segundo trimestre de 2023, a violência aumentou 14% em relação ao primeiro trimestre. Diante de um cenário tão sangrento, a embaixada dos Estados Unidos instou seus cidadãos a deixar o país o mais rápido possível. "O Estado só existe de nome. O povo está abandonado a si mesmo, ou pior, aos bandidos", denuncia o religioso.
Enquanto as gangues criminosas se desafiam em demonstrações constantes de poder, transformando bairros inteiros em seus próprios feudos armados e aterrorizando os residentes, as famílias são forçadas a deixar suas casas para escapar da violência. De acordo com dados da UNICEF, atualmente há 200.000 deslocados, sendo 190.000 apenas em Porto Príncipe. O agravamento de uma já precária situação de segurança começou no Haiti após o brutal assassinato do então presidente Jovenel Moïse em julho de 2021. Moïse estava investigando políticos e empresários haitianos envolvidos no tráfico de drogas. Após sua morte, houve distúrbios civis, protestos e atos de violência nas ruas, enquanto seu substituto e primeiro-ministro Ariel Henry não é reconhecido pelo povo como presidente interino legítimo.
Devido à fraca atuação das instituições políticas, surgiu uma reação violenta de baixo para cima contra as gangues criminosas. "No mês passado, os moradores de alguns bairros iniciaram um ressurgimento através do movimento 'Bwa kale', eliminando fisicamente aqueles que suspeitavam ser assassinos ou cúmplices", afirma o arcebispo de Porto Príncipe. Cidadãos de várias partes do país se uniram para criar um movimento popular de autodefesa que visa localizar membros de gangues armadas e seus cúmplices para matá-los brutalmente, com o objetivo de libertar as cidades de seu domínio. D. Max Mésidor reconhece que "enquanto as autoridades permanecerem tão passivas diante da violência cruel e indiscriminada das gangues, a população tentará fazer justiça com as próprias mãos", mas ressalta: "não podemos incentivar uma justiça precipitada para a população que sofre, embora a compreendamos".
As últimas conclusões das agências da ONU sobre a situação humanitária no país caribenho pintam um quadro profundamente alarmante: uma nova epidemia de cólera eclodiu, com 823 mortes registradas, 3.612 casos confirmados e 57.859 casos suspeitos. Além disso, oficialmente, 5,2 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária, das quais 2,9 milhões são crianças. Haiti, o país mais pobre e menos desenvolvido da América Latina e do Caribe, enfrenta oficialmente o que é chamado de "a pior catástrofe humanitária em décadas". A complexa situação política e social do Estado, cujo nome significa "terra de montanhas", é agravada por uma vulnerabilidade endêmica a desastres naturais. Furacões frequentes, períodos de seca, tsunamis e terremotos - o último, devastador, ocorreu em 2021 - contribuem para agravar as situações de dificuldade.
Diante desse cenário sombrio, o arcebispo de Porto Príncipe lança luz sobre as dificuldades da Igreja em sua missão de evangelização: "A Igreja compartilha o destino da população: também está particularmente exposta. Sacerdotes e religiosos foram sequestrados e depois libertados em troca de resgate. Irmã Luisa Dell'Orto, freira italiana, foi friamente executada à luz do dia no ano passado". Paróquias foram fechadas, bem como nosso centro de formação pastoral". Apesar das dificuldades, ele reitera que "a Igreja está de pé e acompanha os fiéis na medida do possível". Por fim, faz um apelo à comunidade internacional: "em nome da solidariedade internacional e da fraternidade universal, as instituições internacionais têm o dever de nos ajudar em um momento em que todo um povo está exposto ao terror das gangues. Chegou a hora de agir concretamente".
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Aumenta a violência no Haiti. Diz o arcebispo de Porto Príncipe: o país está à beira do abismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU