13 Março 2023
Atividade foi suspensa temporariamente na unidade de saúde no bairro de Cité Soleil, Porto Príncipe.
A nota foi divulgada pela Assessoria de Imprensa do Médicos Sem Fronteiras (MSF), 08-03-2023.
Devido à situação insustentável de segurança, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi forçada a fechar seu hospital na área de Cité Soleil, em Porto Príncipe, capital do Haiti. A medida temporária foi adotada devido à escalada da violência na cidade, deixando a fuga como única opção às pessoas que estão no meio do fogo cruzado.
Confrontos violentos entre grupos fortemente armados têm acontecido a poucos metros das instalações hospitalares. Por isso, MSF considerou que não é mais possível garantir a segurança de seus pacientes e funcionários no local.
"O que vemos são cenas de guerra a poucos metros do nosso hospital", afirmou o assessor médico de MSF Vincent Harris. "Apesar de o hospital não ter sido diretamente atingido, somos vítimas colaterais do confronto, já que a instalação médica está bem na linha de fogo. Sabemos que o fechamento do hospital terá um forte impacto sobre a população de Cité Soleil, mas nossas equipes não podem trabalhar até que as condições de segurança estejam garantidas.”
Um grande número de balas perdidas atingiu a área do complexo hospitalar, ao mesmo tempo em que ter acesso ao local é atualmente quase impossível para as pessoas doentes e feridas, algumas das quais atingidas pelo confronto que ocorre nas proximidades. MSF, cujas equipes trabalham no Haiti há mais de 30 anos, pede que os confrontos nos arredores do hospital cessem e que as atividades médicas sejam respeitadas para que as equipes possam reiniciar o quanto antes o seu trabalho e continuem oferecendo cuidados de saúde à população de Cité Soleil.
Outra preocupação de MSF é que o aumento da violência na capital haitiana esteja ocorrendo ao mesmo tempo em que a população enfrenta necessidades de saúde e humanitárias cada vez maiores.
Ao mesmo tempo, tem aumentado o número de pacientes atendidos no centro de emergência de MSF de Turgeau, no centro de Porto Príncipe, a 10 km de Cité Soleil. Nos últimos dias, equipes de MSF atenderam um número de feridos a bala dez vezes maior do que o usual.
"Desde a volta dos confrontos no bairro de Bel Air em 28 de fevereiro, recebemos muitas crianças, mulheres e idosos”, explica o gerente de atividades médicas de MSF, o doutor Freddy Samson. “É terrível ver o número de vítimas indiretas destes confrontos. É difícil dizer quantas pessoas ficaram feridas no total em toda a cidade porque muitas pessoas têm medo de sair de seus bairros.”
Equipes de MSF que realizavam atendimentos com estruturas móveis em áreas no epicentro da violência recente testemunharam os confrontos armados, obrigando-as a suspender os atendimentos médicos. Muitas pessoas fugiram das áreas de conflito e buscaram refúgio em abrigos informais, que rapidamente ficaram superlotados. MSF verificou a situação em localidades próximas ao centro da cidade e observou as necessidades críticas de um grande número de pessoas deslocadas, arriscando-se a ser atingidas por balas perdidas e vivendo em condições precárias e com acesso limitado à água potável.
Os conflitos entre grupos armados se espalharam a todos os bairros de Porto Príncipe. Desta forma, toda a população da capital enfrenta uma situação extremamente difícil.
“A violência está ficando cada vez mais perto”, disse um integrante da equipe de MSF que preferiu permanecer anônimo. “Eles estão atirando na nossa casa – meus vizinhos do andar de cima encontraram uma bala perdida nas escadas. Muitas pessoas estão deixando a área. Eu mesmo fui obrigado a sair com minha família e buscar abrigo na casa de um amigo.”
Apesar do fechamento temporário do hospital em Cité Soleil e da deterioração da situação de segurança na capital, equipes de MSF continuam comprometidas com a assistência à população haitiana, a principal vítima da violência que atinge o país há muitos anos. Nossas equipes continuam a tratar vítimas de violência e queimaduras em Tabarre, sobreviventes de violência sexual em Delmas 33 e no Departamento de Artibonite, vítimas de acidentes graves no centro de emergência de Turgeau, grávidas e seus bebês no Departamento Sul, além de populações afetadas por violência urbana por meio de clínicas móveis.
Em 2022, em colaboração com o Ministério da Saúde do Haiti, equipes de MSF realizaram mais de 4.600 intervenções cirúrgicas, ofereceram 34.200 consultas de emergência, atenderam 2.600 pacientes com ferimentos de arma de fogo, trataram 370 vítimas de queimaduras, ofereceram 17.800 consultas médicas por meio de clínicas móveis, deram assistência a 2.300 sobreviventes de violência sexual e realizaram 700 partos. Desde o final de setembro de 2022, foram tratadas mais de 19 mil pessoas com sintomas de cólera.
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Haiti. Violência e balas perdidas obrigam Médicos Sem Fronteiras - MSF fechar hospital - Instituto Humanitas Unisinos - IHU