20 Setembro 2023
"Nós, os bispos da Igreja Católica no Haiti, fazemos eco ao ‘grito de todo um povo confrontado com o abandono’ e vivemos com amargura e dor o sofrimento do nosso povo causado pela violência cega de bandidos fortemente armados, pelo cinismo e pela indiferença de líderes políticos e a hesitação da comunidade internacional".
A reportagem é publicada por SIR, 18-09-2023.
Assim começa mais um apelo sincero da Conferência Episcopal Haitiana face à situação do país, que está completamente fora de controle há algum tempo. Há cerca de quatro anos, resumem os bispos, “o nosso país atravessa uma das crises sociopolíticas e de segurança mais longas e letais da sua história. Todo o povo, todo o país, foi profundamente afetado".
O Estado “perdeu o controle do território nacional. O crime organizado assumiu o controle de todos os departamentos, de todas as dioceses e de quase todas as grandes cidades. A região metropolitana de Porto Príncipe é quase inteiramente controlada por bandidos armados, organizados em gangues.
No departamento de Artibonite, pontos estratégicos foram abandonados às ações terroristas. A população é mantida refém da violência implacável dos bandos e dos seus aliados, bloqueada pela inação e pelo silêncio cúmplice do governo. Uma guerra de baixa intensidade contra a população pacífica e desarmada está ocorrendo em todo o país”.
O terror diário em Carrefour-Feuilles e Lilavois (só para citar alguns) e o massacre na região de Canaã “parecem confirmar que as gangues receberam carta branca para agir contra a população. Estes crimes contra uma população indefesa são acompanhados, entre outras coisas, de ataques a igrejas e locais de culto de diversas religiões, que já não podem funcionar”. Os bispos haitianos se perguntam: “O que devemos fazer então? Parece que já esgotamos todos os caminhos comuns e normais”. E continuam respondendo: “Diante da barbárie que se instala em nosso país, a solução é não ser passivo”.
Consequentemente, “pedimos a todo o povo de Deus no Haiti, a todos os batizados aqui e em outros lugares e a todas as nossas instituições eclesiais que permaneçam ativas nestas horas sombrias da nossa história como povo. Onde quer que estejamos, mesmo nos recantos mais remotos, a nossa solidariedade, a nossa proximidade, as nossas orações, as nossas exortações como cidadãos e como povo podem contribuir para isso. Convidamos os sacerdotes de todas as paróquias das dez dioceses do país, os religiosos e os fiéis leigos a organizarem uma verdadeira corrente de orações".
A mensagem continua: "Também continuamos a apoiar, esperançosamente, os esforços para uma resolução pacífica desta crise multidimensional. Encorajamos todas as iniciativas tomadas para impedir que o sangue flua livremente e para proteger a população vulnerável deixada à própria sorte. Reiteramos em voz alta ao mundo que este genocídio deve ser interrompido. Apelamos aos que estão atualmente no poder para que tomem medidas fortes e concretas no sentido de uma verdadeira reconciliação histórica aqui e agora no Haiti. Pedimos também que as autoridades públicas e outros setores da nação ponham fim à sua cumplicidade e apoio aos bandos armados, que a polícia se torne aliada do povo e que o diálogo político e social seja construído com base nas necessidades reais da população".
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Haiti: bispos, “uma verdadeira guerra de baixa intensidade está em curso contra a população pacífica e desarmada. Pedimos aos fiéis que permaneçam ativos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU