- O presidente da Argentina, por enquanto, não aplicou essa sugestão papal para uma melhor governabilidade, parece não tê-lo ouvido e insiste na polarização e na divisão.
- Não há dúvida nos círculos eclesiásticos de que Jorge Bergoglio - além de pedir que os ônus do ajuste sejam distribuídos o mais equitativamente possível - recomendou que ele se empenhasse em diminuir o nível de confronto verbal.
A reportagem é de Sergio Rubin, publicada por Religión Digital, 19-02-2024.
Cumprimento de Milei e Papa Francisco. Foto: Vatican Media
Na Igreja, ficou uma pergunta pairando após o cordial cumprimento trocado entre o Papa Francisco e o presidente da Nação, e a audiência incomumente prolongada concedida pelo Pontífice: Javier Milei moderará suas declarações e optará pelo diálogo na busca de consensos para superar a crise? Porque não há dúvidas nos meios eclesiásticos de que Jorge Bergoglio - além de pedir que os encargos do ajuste sejam distribuídos o mais equitativamente possível - recomendou que ele se esforçasse para diminuir o nível de confrontação verbal.
Na verdade, a posição de Francisco não é nada nova, lembram. É a mesma que ele vinha adotando como arcebispo de Buenos Aires, juntamente com seus colegas bispos, desde a crise de 2001. Mas - dizem - no contexto atual, isso adquire especial significado devido à personalidade volátil do libertário. E também porque, ao contrário de Néstor e Cristina Kirchner, que eram muito confrontadores - instituíram a famosa divisão -, ele sofre de uma evidente fraqueza legislativa, com pouquíssimos senadores e deputados. Além de não contar com nenhum governador.
Francisco e Javier Milei, no Palácio Apostólico. Foto: Vatican Media.
Por enquanto, destacam o "saudável sinal de convivência" que deram a uma liderança política muito contenciosa e uma sociedade muito tensa ao se encontrarem. De fato, o encontro havia gerado grande expectativa devido às severas desqualificações que o a Francisco anos atrás e depois na campanha (além das alusões críticas ao libertário - embora sem mencioná-lo - do Papa). Mas os maus presságios se dissiparam com o abraço dado por Milei e os comentários simpáticos de Francisco.
Milei dedicou uma boa parte da reunião a expor seu diagnóstico da situação argentina e a receita que considera que deve ser aplicada. Francisco o ouviu atentamente, mas isso não significa - esclarecem as fontes eclesiásticas - que tenha endossado seu plano econômico, como o presidente disse a um jornalista italiano. Apesar de parecer um homem muito inteligente, ao Papa - como clérigo que é - não cabe endossar qualquer questão técnica própria da sociedade civil, afirmam na Igreja.
Francisco pediu que o governo distribua de forma equitativa o peso do ajuste e assista o máximo possível aos mais pobres
Num intercâmbio fluído, é certo que Francisco pediu que o governo distribua de forma equitativa o peso do ajuste e assista o máximo possível aos mais pobres. Assim como que procure reduzir o nível de confronto político e aposte no caminho do diálogo para alcançar com a oposição e os diversos setores acordos mínimos sobre como superar a crise.
Pelo que se viu nos dias imediatamente posteriores à reunião - especialmente pelos seus atritos com o governador de Córdoba, Martín Llaryora, e a cantora Lali Espósito -, não parece que o libertário vá se moderar, pelo menos por agora. Mas na Igreja não perdem a esperança de que ele leve em consideração o pedido do Papa.
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“O que Francisco pediu a Milei? Mais diálogo, consensos e não esquecer dos pobres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU