Mulheres barram o avanço da extrema direita na Argentina, Brasil e outros países

Marcha de mulheres contra Bolsonaro em Westminster, no Reino Unido, em 2018. (Foto: Esdras Beleza | Flickr)

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09 Novembro 2023

"Na maioria dos países, uma maior proporção de homens declaram voto em partidos e candidatos populistas e de extrema-direita, enquanto uma menor proporção de mulheres acompanham a onda conservadora", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 08-11-2023.

Eis o artigo.

“O grau de emancipação das mulheres é o termômetro através do qual se mede a emancipação de toda a sociedade”.
Charles Fourier (1772-1837)

Na maioria dos países, as mulheres conquistaram o direito de voto no século XX, mas continuaram excluídas dos espaços de poder e permaneceram minoria do eleitorado. Mas o quadro mudou no século XXI. De modo geral, as mulheres avançaram na educação, no mercado de trabalho e na política, conquistando maiores graus de empoderamento em grande parte do mundo.

Diante da onda de extrema direita que atinge diversos países, as mulheres têm sido uma barreira à maré ultraconservadora. O gráfico abaixo, do jornal El País (Andrino, 27/10/2023), apresenta os dados de intenção de voto, por sexo, em 12 eleições recentes ao redor do mundo e mostra que as mulheres foram decisivas para impedir a chegada da ultradireita ao poder ou impediram a reeleição de candidatos ultradireitistas.

Verifica-se que, na maioria dos países, uma maior proporção de homens declaram voto em partidos e candidatos populistas e de extrema-direita, enquanto uma menor proporção de mulheres acompanham a onda conservadora.

 

O caso do Brasil é exemplar. As mulheres brasileiras são maioria da população desde a década de 1940, mas continuaram minoria do eleitorado até o final do século XX. Somente no século XXI as mulheres passaram a ser maioria do eleitorado e ampliaram a vantagem rapidamente e, em 2022, já havia mais de 8 milhões de mulheres a mais do que homens no eleitorado, conforme mostra o gráfico abaixo.

 

As intenções de voto indicaram que os homens eram maioria entre os eleitores do candidato Jair Bolsonaro e as mulheres eram maioria entre os eleitores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Como a diferença final das urnas no segundo turno foi em torno de 2 milhões de votos, não resta dúvidas de que as mulheres brasileiras foram fundamentais para barrar a reeleição do candidato ultraconservador no Brasil em 2022.

Tudo indica que as mulheres serão decisivas no segundo turno das eleições presidenciais argentinas em 19 de novembro de 2023. O eleitorado argentino consta com 18,2 milhões de mulheres aptas a votar e 17,6 milhões de homens. As mulheres são maioria, mas com uma diferença bem menor do que no Brasil.

As pesquisas eleitorais da Argentina indicam resultados contraditórios e uma pequena diferença na intenção de voto entre Javier Milei e Sérgio Massa. As mulheres argentinas podem ser decisivas, uma vez que estão se mobilizando em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos e pela ampliação dos direitos de cidadania e a favor de maior equidade de gênero.

Neste sentido, as argentinas colocaram um freio às propostas conservadoras e super neoliberais do candidato autodenominado anarcocapitalista no primeiro turno das eleições presidenciais ocorridas em outubro. Apesar da falta de alternativas e de uma situação de crise econômica severa, pode ser que as mulheres consigam barrar os avanços da onda de ultradireita em 19 de novembro na Argentina.

Como disse o pensador francês da linha do socialismo utópico, Charles Fourier (1772-1837), há mais de 200 anos: “O grau de emancipação das mulheres é o termômetro através do qual se mede a emancipação de toda a sociedade”.

Referências

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022. Disponível no link.

ALVES, JED. Retrocessos na Argentina: empobrecimento de um país que já foi rico, Ecodebate, 18/10/2023. Disponível no link

Borja Andrino. La ola de la extrema derecha solo encuentra un dique: el voto feminino, El País, 27/10/2023. Disponível no link

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