25 Setembro 2023
“Não se brinca com a vida, nem no começo nem no fim”. O Papa Francisco termina os seus dois dias em Marselha com uma clara rejeição do projeto de lei sobre o fim da vida pretendido pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Mas, acima de tudo, nega completamente a versão dada pelo Eliseu sobre o encontro presencial com Macron.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 23-09-2023.
"Hoje – disse Bergoglio na tradicional coletiva de imprensa do voo de volta – não falamos sobre esse assunto, mas falamos sobre isso na outra visita, quando nos encontramos, falei sobre isso com clareza, quando ele veio ao Vaticano; disse-lhe a minha opinião, claramente: não se pode brincar com a vida, nem no início nem no fim. Não jogue. É minha opinião: valorize a vida, sabe? Porque então você acabará com aquela política de não dor, de uma eutanásia humanística”. E acrescentou: “Hoje temos cuidado com colonizações ideológicas que arruínam a vida humana e vão contra a vida humana. Hoje estão sendo apagadas as vidas dos avós, por exemplo; quando a riqueza humana entra no diálogo entre avós e netos... ela se apaga: eles são velhos, não servem para nada. Você não brinca com a vida. Dessa vez não falei com o presidente, mas da outra vez sim, quando ele veio e eu disse a minha opinião: não se pode brincar com a vida, seja a lei de não deixar o filho crescer no ventre da mãe, a lei da eutanásia nas doenças ou na velhice, não estou dizendo que isso é coisa de fé, é coisa humana, humana; existe má compaixão. A ciência conseguiu tornar algumas doenças dolorosas menos dolorosas e as acompanha com muitos medicamentos. Não podemos brincar com a vida".
Eliseu, porém, explicou que na conversa privada o presidente ilustrou a Bergoglio o calendário e a metodologia do projeto de lei sobre o fim da vida que será colocado em prática nas próximas semanas. Macron, ainda segundo o que explicou Eliseu, “não entrou em detalhes, nem sobre o conteúdo nem sobre o equilíbrio do texto”. Mas o Papa deixou claro que o tema não foi abordado no encontro presencial em Marselha. A visita de Francisco à cidade francesa estabelece uma certa tensão entre o Vaticano e Paris, tanto no delicado dossiê da imigração como no projeto de lei sobre o fim da vida. Mas também sobre a altamente contestada reforma das pensões e fortemente desejada por Macron. “A dignidade dos trabalhadores – disse Bergoglio – deve ser respeitada, promovida e protegida”.
Francisco também respondeu a uma pergunta sobre a missão de paz na Ucrânia que confiou ao cardeal Matteo Maria Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana e arcebispo de Bolonha. “Sente-se alguma frustração”, explicou o Papa, “porque a Secretaria de Estado está fazendo tudo para ajudar isso, até a ‘missão Zuppi’ foi para lá, há algo com as crianças que está indo bem, mas esta guerra ocorre para me que também está um pouco interessado não só no problema russo-ucraniano, mas na venda de armas, no comércio de armas. Um economista disse há alguns meses que hoje os investimentos que mais rendem são as fábricas de armas, certamente fábricas de morte! O povo ucraniano é um povo mártir, tem uma história muito atormentada, uma história que faz sofrer, não é a primeira vez: no tempo de Stalin sofreram muito, muito, muito, são um povo mártir. Mas não devemos brincar com o martírio destas pessoas, devemos ajudá-las a resolver as coisas da forma mais real possível. Nas guerras o real é o possível, não ter ilusões: que amanhã os dois líderes em guerra irão comer juntos, mas na medida do possível onde iremos fazer o que for possível. Agora tenho visto que alguns países estão a conter-se, a não desistir das suas armas, e inicia-se um processo onde o mártir será certamente o povo ucraniano. E isso é uma coisa ruim!”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Não apenas sobre os migrantes, também existe tensão entre o Papa e a França quanto ao fim da vida: Bergoglio rejeita a nova lei e nega o relato de Eliseu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU