Destaques da Semana: 07 a 15 de setembro de 2023

Colapso climático, mitigação e adaptação; disputas geopolíticas; e reações aos Sínodo sobre Sinodalidade

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

18 Setembro 2023

Tragédia climática no RS


Equipes trabalham na recuperação da cidade de Encantado/RS, após inundações.
(Foto: Rodrigo Ziebell/GVG/Secom RS)

A semana foi de reconstrução nas cidades do Vale do Taquari, devastadas pelas cheias. Mas, também, de muita reflexão sobre o que aconteceu. Pesquisadores da UFRGS apontam que todo este desastre poderia ter sido evitado. Roberto Malvezzi, o Gogó, insiste que a ocorrência não é algo natural, mas que é uma tragédia socioambiental. O que nos leva a refletir sobre nossa parcela de responsabilidade. Como aponta estudo publicado pela Nature é visível que preterimos a natureza ao lucro.

Recorrência de eventos extremos

O que assusta é que, em meio a esse movimento e recuperação, o Rio Grande do Sul foi atingido por outra tempestade nesta semana.

As chuvas dessa semana atingiram menos o Vale do Taquari e mais a região metropolitana e sul do RS, mas revelam que recorrência dos chamados eventos extremos. Para especialistas, isso indica diretamente a ação humana no desequilíbrio climático. Esta é uma das constatações dos professores Douglas Lindemann, da Universidade Federal de Pelotas - UFPel, de Francisco Eliseu Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e do meteorologista Leandro Puchalski, em debate promovido pelo IHU.

Um só planeta

Neste mesmo debate promovido pelo IHU, os painelistas também apontaram que estes extremos climáticos não são uma realidade somente do Brasil ou do continente americano.

Afinal, vivemos um só planeta e a tragédia da Líbia e as enchentes por toda Europa e China depois de um verão escaldante, mostram, como pontua Leonardo Boff, que a mãe terra nos surpreende nem sempre de forma agradável. Situações como o martírio da Líbia escancaram o problema. Mas, também é preciso lembrar de outras dores menos estrondosas, como o deslocamento forçado de 2 milhões de crianças refugiadas do clima na África subsaariana, por exemplo.

Em Doolow, na Somália, um menino recolhe a pouca água disponível de um rio seco devido a uma seca severa. (Foto: Reprodução | UNICEF | Rich)

Por isso, é importante que não nos esqueçamos que, enquanto as periferias são as mais assoladas pelas tragédias climáticas, os bilionários, maiores responsáveis pela crise do clima, já pensam na sua sobrevivência.

Passamos da hora, mas ainda dá tempo

Também no debate promovido pelo IHU, ficou claro que passamos da hora de mudar nossa relação com o planeta. O próprio professor Aquino já disse que o gelo dos polos está derretendo. Ou seja, necessitamos ouvir experiências como a das Mulheres Biomas.

Foto: Rede de Comunicadores da Coiab

E, principalmente, exigir uma mudança de postura de governos. Se por um lado os EUA, um dos maiores poluidores do mundo, parece ensaiar mudanças, por aqui, o governo Lula insiste em explorar petróleo na foz do Amazonas, ao mesmo tempo que fala em necessidade de transição energética.

Cerrado

Na semana que passou celebramos o Dia do Cerrado, em 11 de setembro. Cessar a devastação deste bioma é também evitar tragédias futuras.

Preservação. Mensagem que este homem, vítima das enchentes no Vale do Taquari, no RS, parece ter entendido.

A manifestação do sujeito é o claro exemplo do que observa o Papa Francisco, acerca do Tempo da Criação, sobre cuidado da casa comum como vocação. 

Bofetada

O Papa Francisco tem mesmo se mostrado tenaz em suas posições tanto nas questões climáticas como na luta pela paz. Nem mesmo “bofetadas” ucranianas, como observa Marco Politi, o abalam.

Papa Francisco | Foto: JMJ Lisboa 2023/Flickr CC

Enquanto a maioria do ocidente sucumbe à manipulação da guerra, o Vaticano segue denunciando e criticando o uso de armas até a partir da inteligência artificial. E ainda parece não hesitar em aproximações com China em prol da Paz, como bem descrito no apelo por terra, paz e dignidade, feitos por Michele Santoro e Raniero La Valle.

Quem tem medo do Espírito Santo?

E se o Papa não tem medo de “bofetadas”, há quem fique receoso com a possível ação do Espírito Santo no Sínodo sobre a Sinodalidade, como provoca James Martin. A ver pela resistência ao Sínodo, há quem ainda não entendeu a mensagem sobre sinodalidade na Igreja, mas, mesmo assim, Francisco não tem medo e parece disposto a arriscar. O Cardeal Blase Cupich, por sua vez, tranquiliza que não a nada a temer. Já, Andrea Grillo, sugere três remédios para curar as polarizações em torno da Tradição. 

Geopolítica

Embora Francisco se revele chocado com a morte e guerra pelo mundo, ele também está de olho em outros movimentos da geopolítica. É o caso das mudanças no BRICS, como observa Massimo Faggioli. Aliás, é interessante observar como a oposição à Francisco emerge justamente dos EUA. Bruno Beaklini dá pistas sobre como o aumento do BRICS pode impactar a hegemonia norte-americana. Ao que parece, não será mais só G7 que dará as cartas na geopolítica atual.

Chile

Também foi destaque na semana a memória da morte de Allende e o início da ditadura de Pinochet.

Marrocos

No Marrocos, neste mundo de tragédias climáticas, o terremoto, outro grande desastre, revelou ainda outra tragédia: a pobreza de um povo que é agudizada com estes desastres e o silencio gerado pelas disputas políticas até mesmo no socorro humanitário.

Um tempo de ócio e contemplação

Para encerrar, fazemos memória ao italiano Domenico De Masi, que morreu nesta semana.

Ele foi um sujeito que, num mundo tão complicado e acelerado, convidou-nos a contemplar, e do ócio conceber e criar um mundo melhor.

News 16/09