Trechos da recente entrevista do presidente do estado ucraniano, V. Zelensky, ao jornal argentino Infobae (Texto completo da entrevista disponível aqui).
A entrevista é publicada por Il Sismógrafo, 01-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Há algumas semanas o senhor teve um encontro com o Papa Francisco. Embora já tenha dito que o Papa se ofereceu para interceder nas negociações e ajudá-lo com as crianças deportadas para a Rússia, gostaria de saber se saiu com a sincera impressão de que o Papa apoia a Ucrânia ou se considera que tem uma posição pouco definida sobre a questão.
O Papa apoia os ucranianos e a Ucrânia. Ele realmente quer que esta guerra sangrenta termine. Eu me encontrei com ele por duas vezes e chamei sua atenção para alguns aspectos críticos com os quais ele tentou me ajudar. A primeira vez que conversamos, contei a ele sobre os prisioneiros. [8 de fevereiro de 2020] Eu queria que ele me ajudasse com o retorno do nosso povo. É uma questão muito complicada porque devolver as pessoas significa encontrar alavancas para empurrar. É mais fácil entre os militares, entre os oficiais da inteligência que podem ser trocados, mas a troca de civis, que não são militares, que foram tirados de nosso território pelos russos, é mais difícil de realizar.
A primeira vez que nos encontramos, a invasão em grande escala ainda não havia acontecido, e pedi a ele que me ajudasse com os tártaros da Criméia, com os prisioneiros políticos, os ucranianos, os jornalistas, os militares, etc. Ele me ajudou em alguma coisa, francamente ele tentou e fiquei grato a ele. Além disso, tem as orações por nós, é claro.
As orações são suficientes?
Eu disse ao Papa: “agradeço por todas as suas orações, mas estou aqui não só para unir o mundo inteiro às suas súplicas a Deus, mas também para influenciar, com sua personalidade, os ateus que não acreditam em nada, e que mantêm nosso povo cativo". E ele tentou ajudar. E fiquei muito grato a ele. A segunda vez que o encontrei foi recentemente [13 de maio de 2023]. Eu queria que o Vaticano fosse representado numa cúpula de paz e queria que o Papa apoiasse a minha fórmula de paz [referindo-se ao encontro internacional que está sendo preparado por ocasião dos 500 dias de guerra e do plano de paz de 10 pontos ucraniano].
Veja bem, ninguém deve tirar vantagem de sua personalidade política ou de suas capacidades comunicativas. Às vezes acontece que o Papa fala sobre algo e a mídia, algumas mídias – especialmente aquelas russas – começam a deturpá-lo a seu favor. Por isso era muito importante que conversássemos. Ele tem uma posição muito clara sobre o apoio à Ucrânia e sobre a paz. Falamos sobre a fórmula de paz [10 pontos] e a deportação das crianças. Ele sabe que milhares de nossas crianças foram levadas para a Rússia e pedi a ele que usasse seus contatos para influenciar o processo de retorno de algumas de nossas crianças. Estamos procurando ferramentas para operar, mas não é fácil.
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O presidente Zelensky conta a Infobae seus dois encontros com o Papa Francisco e os temas sobre os quais falaram em 2020 e 2023 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU