Sudão do Sul. O bispo Christian Carlassare: “Agora a verdade sobre o meu ataque”

O Bispo eleito da Diocese de Rumbek do Sudão do Sul, Mons. Christian Carlassare foi levado de avião para a capital do Quênia, Nairóbi, por meio dos serviços da Fundação Africana de Pesquisa e Medicina (AMREF) para tratamento especializado. (Foto: Cortesia | ACI África)

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30 Abril 2021

 

O prelado italiano ferido em Rumbek: “Padres envolvidos? Vamos aguardar as provas. Que tudo seja esclarecido para chegar à reconciliação. Que o Papa venha para levar a paz adiante”.

A reportagem é de Paolo M. Alfieri, publicada por Avvenire, 29-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

“Sim, ouvi falar dos rumores que circulam sobre o suposto envolvimento de membros da diocese no que me aconteceu. Agora só temos que deixar as investigações seguirem seu curso. É uma história muito triste, mas se surgirem responsabilidades internas, a Igreja local também terá que bater no peito e reconhecer suas próprias culpas em uma realidade como a do Sudão do Sul, onde é a única voz profética”. De seu leito de hospital em Nairóbi, onde está hospitalizado por ferimentos às pernas sofridos no ataque realizado na noite entre domingo e segunda-feira, o padre Christian Carlassare confia essas palavras ao Avvenire depois que fontes locais relataram a detenção de cerca de vinte pessoas, incluindo três membros do clero de Rumbek, em relação ao ataque dos últimos dias. “Disseram-me que entre os detidos está também o padre John Matiang, que coordenou a diocese nos últimos nove anos - continua o padre Christian -. No momento, porém, ele e os outros são apenas suspeitos. Apenas a verdade, mesmo que dolorosa, poderá nos dizer quais escolhas teremos que fazer. Para a Igreja é um grande sofrimento, talvez necessário para construir algo sobre alicerces limpos”.

 

O padre Christian Carlassare, no hospital em Nairóbi. (Foto: ACI África)

 

Por diversas vezes, nestes dias, o comboniano, cuja ordenação episcopal está marcada para o próximo dia 23 de maio, falou da necessidade de "reconciliação". Logo após o ataque, fontes locais indicaram como motivo a recusa por parte de alguns membros da etnia dinka de um novo bispo que veio de outra diocese para substituir o padre John Matiang, que é do local. E as solicitações econômicas e de serviços da própria comunidade de referência podem ser muitas. O Padre Christian, 43 anos, no Sudão do Sul desde 2005, está convencido de que o diálogo possa contribuir para resolver situações complicadas. “Meus ferimentos nas pernas vão sarar, mas estou preocupado que a comunidade possa se curar - continua ele -. Cheguei a Rumbek no dia 15 e fui bem recebido por todos. O próprio Padre Matiang fez questão que eu fosse bem recebido, então os primeiros passos foram positivos. Obviamente, porém, ainda havia todo um caminho a ser percorrido. Não cheguei em Rumbek como um chefe, mas colaborando com todos e o diálogo sempre foi positivo”.

 

Visita ao padre Christian Carlassare, no hospital em Nairóbi. (Foto: Avvenire)

 

A diocese de Rumbek, continua o padre Christian, “vive uma situação complexa, na qual apenas 12% da população é católica. Muito trabalho foi feito graças à presença de muitos institutos religiosos que se concentraram na formação dos jovens. São 112 escolas acompanhadas pela diocese: é um empenho importante, na convicção de que a evangelização começa com a educação: é a melhor forma de construir uma sociedade até aqui prejudicada pela violência endêmica”. A guerra civil dos últimos anos deixou sua marca. “Existem muitas armas em circulação, usadas sobretudo em confrontos entre clãs e para defender o gado, a verdadeira conta bancária dos dinka - explica o padre Christian -. Acredito que seja preciso confiar nas autoridades locais mesmo que haja muito o que fazer, principalmente pelo desarmamento. A reconciliação e o diálogo devem dizer respeito a todos, não apenas à Igreja Católica”.

O Papa Francisco em novembro de 2019 expressou o desejo de uma viagem ao Sudão do Sul. O Padre Christian - determinado a regressar à diocese o mais rapidamente possível, depois de algumas semanas de reabilitação - espera "que isso seja possível, para levar adiante uma nova fase do processo de paz". Aquela paz que, dez anos após o seu nascimento, o mais jovem país africano ainda não conheceu.

 

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