01 Outubro 2020
Na manhã desta quinta-feira o encontro do Secretário de Estado dos Estados Unidos com o cardeal Parolin. Mas a política da Igreja com Pequim não muda: acordos sobre a nomeação de bispos poucos dias antes das eleições nos Estados Unidos.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 30-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O encontro direto entre o secretário de Estado estadunidense Mike Pompeo e aquele do Vaticano, cardeal Pietro Parolin acontecerá na manhã de quinta-feira, mas o confronto público sobre a China entre o governo Trump e a Santa Sé já dura há semanas. E hoje teve um desenvolvimento sem precedentes, com posturas verdadeiramente inusuais para a diplomacia. Um verdadeiro embate de boxe diplomático.
O secretário de Estado estadunidense, Mike Pompeo, pediu ao Vaticano para ter coragem em relação à China, como João Paulo II teve com a URSS, e lhe respondeu imediatamente o subsecretário do Vaticano para as Relações com os Estados, Paul Gallagher.
O Vaticano, que está empenhado em uma nova Ostpolitik com Pequim, depois daquela com os soviéticos, tratou, por meio de uma intervenção de Andrea Tornielli, de informar oficialmente que o acordo com a China sobre a nomeação dos bispos será renovado e que a delegação do Vaticano já partiu para a China, estando a assinatura prevista para 22 de outubro (data de entrada em vigor do acordo provisório em 2018), alguns dias antes das eleições presidenciais nos EUA. Quase como colocar Pompeo (e Trump) diante do fato consumado.
O dia 22 de outubro é uma data muito evocativa, tanto do ponto de vista da Igreja Católica como do ponto de vista geopolítico. É o dia da festa de São João Paulo II, o Grande, que é lembrado no Missal Romano no aniversário do início de seu pontificado que no século passado mudou o curso da história, desencadeando os processos que levaram à queda do Muro de Berlim e ao final do antigo Império Soviético.
É por isso que o papa polonês foi citado hoje com grande força evocativa por Pompeo, lembrando que "há vinte anos, o papa João Paulo II canonizou 87 fiéis chineses e 33 missionários europeus mortos antes que o atual regime comunista assumisse o poder. Na ocasião, disse: 'a Igreja pretende simplesmente reconhecer que aqueles mártires são um exemplo de coragem e coerência para todos nós, e que honram o nobre povo chinês'”. Em seu discurso no simpósio sobre liberdade religiosa organizado em Roma pela Embaixada dos Estados Unidos junto à Santa Sé, ele acrescentou: “Homens e mulheres corajosos em todo o mundo, correndo o 'risco da liberdade', continuam a lutar pelo respeito de seu direito ao culto, porque a sua consciência o exige”. “O Papa João Paulo II – acrescentou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos – deu testemunho ao seu rebanho sofredor e desafiou a tirania. Ao fazer isso, ele demonstrou como a Santa Sé pode mover nosso mundo em uma direção mais humana”. “Que a Igreja, e todos os que sabem que no final devemos prestar contas a Deus, possam ser tão ousados em nosso tempo”, concluiu. Ontem afirmou que os acordos são assinados pelos Estados, mas que a tarefa da Igreja é ensinar as verdades eternas.
Pompeo em entrevista coletiva no Ministério do Exterior, respondendo a uma pergunta do Washington Post, não mediu as palavras: “Trabalhamos para melhorar a vida do povo chinês em todos esses anos de governo. Queremos que não haja violações dos direitos humanos naquele país, escrevi o artigo para homenagear a Igreja Católica que sempre defendeu os oprimidos no mundo. Todos os atores que podem pôr um fim a esse regime autoritário do Partido Comunista Chinês devem fazê-lo”.
"Desde o início de sua presidência, o presidente Trump fez da defesa internacional da liberdade religiosa uma prioridade", disse Callista Gingrich, embaixadora dos EUA junto à Santa Sé na abertura do Simpósio: "A defesa do direito à liberdade religiosa não é apenas uma necessidade moral, mas também é um imperativo de segurança nacional".
Se é isso que foi possível registrar no proscênio, devemos nos perguntar o que está acontecendo nos bastidores e sobretudo se durante o encontro cara a cara que acontecerá amanhã entre Parolin e Pompeo haverá algum golpe de surpresa. Ou seja, se Pompeo, ao cruzar as Muralhas Sagradas, levará a Parolin evidências incontestáveis contra Pequim sobre a perseguição das minorias religiosas (cristãos, budistas e muçulmanos) e sobre o papel da China no desencadeamento da pandemia mundial do coronavírus que em um ano já matou um milhão de pessoas em todo o mundo.
E se os Estados Unidos realmente tiverem essas provas em mãos, isso poderia acabar em uma campanha inclusive midiática em outubro. Talvez não seja por acaso que em sua entrevista ao Repubblica ontem, o cardeal Maradiaga tenha identificado no ex-núncio Viganò e em Steve Bannon (muito ativos nas mídias), os líderes da oposição "EUA" ao Papa Francisco.
Pompeo também havia pedido para se encontrar com o papa amanhã. Isso não vai acontecer. “Ele o havia pedido, mas o Papa afirmou claramente que não se recebem personalidades políticas durante a campanha eleitoral, por outro lado, um secretário de Estado encontra o seu homólogo, justamente o secretário de Estado”, explicou Parolin.
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Faíscas entre EUA-Vaticano sobre a China. Pompeo opõe ao Papa Francisco (que não o recebe) João Paulo II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU