10 Setembro 2020
O jornalista e acadêmico estadunidense, especialista em relações com a China, ganhador do Prêmio Pulitzer em 2001, Ian Johnson, defendeu o Papa Francisco das críticas ao acordo de 2018 do Vaticano com o governo de Pequim. "O status quo que existia antes não funcionava. Os críticos também devem reconhecer que o antigo método não teve sucesso, que falhou", disse Johnson, correspondente na China dos principais jornais internacionais e autor de livros importantes. O autor falou longamente na entrevista para o programa "Religião aktuell" (Rádio ORF Ö1), conforme relatado pela Kathpress. "Havia cada vez menos sacerdotes e cada vez menos religiosas na China. A Igreja estava quase em queda livre", disse Johnson. É normal criticar o Papa, mas as pessoas também devem entender que ele teve que agir e tentar algo para se contrapor a essa realidade.”
A reportagem é de RC, publicada por Il Sismografo, 09-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Do ponto de vista dos analistas, o Vaticano fez uma “aposta compreensível” com o acordo sobre a situação da Igreja Católica na China. "Quando é difícil consagrar bispos ou ordenar padres, ou quando não há padres legítimos para manter a igreja funcionando, torna-se muito difícil para a igreja progredir."
Claro, o acordo "ainda não funcionou como o Vaticano esperava", observou o jornalista. Segundo ele, ainda é muito cedo para um juízo final. Se um acordo com a China tivesse sido feito há 20 ou 30 anos, poderíamos ver o sucesso agora, disse Johnson.
Ele está ansioso pela prorrogação do acordo provisório sobre a nomeação de bispos e a regulamentação das fronteiras diocesanas, que expira em cerca de duas semanas (22 de setembro). O especialista chinês Johnson vê um problema para o Vaticano no fato de que agora existe um "governo muito forte e autoritário sob a liderança de Xi Jinping que não tolera qualquer tipo de influência ou ingerência externa", como disse ele em entrevista ao ORF.
É "muito difícil" para o atual governo permitir que uma organização externa como o Vaticano determine os assuntos clericais na China. Johnson presume que o Vaticano "vai querer examinar toda essa complexa situação sem pressa antes de considerar o acordo um fracasso". Segundo o especialista, os interesses do Vaticano e os da China divergem amplamente. O interesse da China é permitir a saída das sombras da igreja clandestina. “Eles dizem que todos os bispos são ordenados, todos os pastores são legais e, portanto, não há mais nenhuma razão para uma igreja clandestina. Então – dizem os funcionários – junte-se à igreja oficial, organizada pelo estado”.
Isso está ajudando a China a "se livrar de uma sociedade civil" que está fora do controle do governo e colocá-la sob os parâmetros políticos, culturais e administrativos de Pequim. Johnson enfatiza: "Este é o interesse máximo do governo chinês".
O interesse de Roma, porém, é diferente e reside no desejo de fortalecer a Igreja a longo prazo, diz Johnson. O Vaticano espera que a divisão entre a igreja clandestina e a oficial seja superada e que “a igreja se torne mais jovem, mais flexível, mais forte”. Não é uma tarefa fácil: a igreja clandestina existe há décadas e a desconfiança em relação à igreja oficial ainda é grande, afirmou o jornalista: “Há muita desconfiança numa mesma cidade, numa mesma aldeia, entre a igreja clandestina e a igreja de estado. Não é realista pensar que todos eles se tornarão um. Vai demorar muito tempo".
Ian Johnson é um escritor que viveu e trabalhou em Pequim por muito tempo e é um estudioso independente. Seu nome chinês é Zhang Yan. Ele escreve regularmente para The New York Review of Books e The New York Times e profere palestras sobre a China na Europa e na América do Norte. Ele ganhou o Prêmio Pulitzer de Jornalismo Internacional em 2001. Este ano a China não renovou seu visto de entrada no país devido às tensões entre Washington e Pequim.
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Acordo entre o Vaticano e Pequim. Especialista estadunidense defende o Papa Francisco e analisa o futuro das relações bilaterais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU