25 Agosto 2020
A chegada do chanceler chinês Wang Yi em Roma para um encontro com seu homólogo italiano Luigi Di Maio nesta terça-feira, voltou a colocar no centro do debate o histórico acordo provisório entre o gigante asiático e o Vaticano, assinado em 2018 e que vence no próximo dia 22 de setembro.
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 24-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Seguramente ocorrerá algum encontro informal com os negociadores da Santa Sé, talvez na mesma embaixada chinesa na Itália”, levantou uma fonte vaticana ao Religión Digital, que imaginou que essa poderia a “base” de aproximação.
“Não se pode esquecer que Wang Yi já se encontrou em fevereiro com Paul Gallagher, seu homólogo vaticano”, agregou a fonte sobre a reunião que tiveram em Munique no início do ano e que poderia se repetir agora em solo italiano.
A chegada de Wang Yi ocorre a menos de um mês do vencimento do acordo provisório para a designação conjunta de bispos que a Santa Sé assinou com a China em 2018, que supôs o primeiro passo da aproximação bilateral desde 1950 e que poderia ser prorrogado por um ou dois anos mais.
“O diálogo com a China não é um caminho fácil, mas embarcamos em um caminho de respeito, atenção e compreensão recíproca para resolver os nós que permanecem e as situações que nos deixam preocupados”, abordou há algumas semanas o arcebispo Claudio Maria Celli, chefe da delegação da Santa Sé na negociação com Pequim.
“Penso que provavelmente deveremos reconfirmar ainda por um ou dois anos, pois a Santa Sé ainda não tomou uma decisão a respeito, que logo será comunicada às autoridades chinesas”, acrescentou Celli em declarações à imprensa.
Depois de cinco anos de aproximação entre China e Vaticano, desde a eleição de Francisco e o presidente Xi Jinping, com apenas um dia de diferença em março de 2013, o grande desafio bilateral foi a assinatura, em 22 de setembro de 2018, de um acordo para a designação conjunta de bispos, que permitiria encerrar mais de 50 anos de divisões em uma Igreja na qual por meio século conviveram bispos leais a Roma e bispos leais a Pequim.
Nessa linha, com o texto do acordo ainda em sigilo, nomeou-se Stefano Xu Hongwei como auxiliar de Hanzhong e a Antonio Yao Shun, titula em Jining/Wulanchabu.
De todos os modos, os dois Estados mantêm diferenças em temas chaves, como a quantidade de dioceses que deveria haver na China, já que o gigante asiático reconhece 40 a menos do que a Santa Sé deseja.
Em fevereiro, a reunião de Wang Yi e Gallager constitui o encontro de mais alto nível desde a proclamação da República Popular da China, em 1949, já que o Vaticano cortou os vínculos com o gigante asiático depois da ascensão de Mao Tsé Tung ao poder e estabeleceu relações bilaterais com Taiwan.
As constantes aproximações nos primeiros cinco anos de convivência entre Francisco e Xi incluíram pontos altos como o que Bergoglio obteve em 2014, com a permissão de sobrevoar o território chinês, diferentemente de João Paulo II desautorizado em 1989, ou as entrevistas concedidas pelo Papa e por seu secretário de Estado, em 2016 e 2018, respectivamente, aos meios de comunicação do gigante asiático.
Na ocasião, Celli abordou que “o clima é positivo, é uma atmosfera de respeito, clareza, corresponsabilidade, previsão. Tentamos olhar para o futuro e tratar de dar ao futuro de nossas relações uma base profunda e respeitosa, e eu diria que estamos trabalhando nesta direção”.
“É inegável que existem situações e eventos que requerem um caminho que não será fácil. Porém, a Santa Sé quer continuar neste passo, quer avançar e alcançar uma normalidade a partir da qual o católico chinês possa expressar toda sua fidelidade ao Evangelho e também com respeito por ser chinês. A Igreja Católica na China deve ser completamente chinesa, porém completamente católica”, finalizou Celli.
A assinatura do acordo colocou sob a órbita de Francisco os últimos sete prelados que estavam fora do radar do vaticano, e assentou as bases para que as futuras nomeações fossem concordadas por ambas partes.
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A chegada a Roma do chanceler chinês dispara versões sobre o acordo Vaticano-Pequim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU