23 Setembro 2020
Terremoto EUA-Vaticano. Para Thomas Williams, da Breitbart, o ataque de Pompeo ao acordo China-Santa Sé não tem precedentes, mas também é "um ato de coragem", e é compartilhado pela Igreja estadunidense. O papa responderá?
A reportagem é de Francesco Bechis, publicada por Formiche, 22-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Sem precedentes. Em toda a minha vida, nunca vi um alto funcionário do governo dos Estados Unidos fazer um apelo tão duro à Santa Sé e ao Papa sobre uma questão política". Quem fala é Thomas Williams, 56, jornalista e ex-sacerdote, representante em Roma de Breitbart, a emissora ultraconservadora estadunidense que já foi dirigida pelo ex-conselheiro de Donald Trump, Steve Bannon.
A investida do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, contra o acordo China-Santa Sé, apenas nove dias antes de sua visita ao Vaticano prevista para 29 de setembro, causou um arrepio de espanto, e de entusiasmo, em uma grande fatia do catolicismo conservador de seu país que mal suporta o diálogo entre os palácios sagrados e a Cidade Proibida para renovar o acordo sobre a nomeação de bispos chineses dois anos após a assinatura.
Dúvidas e incompreensões que preocupam não só os fiéis, mas também a hierarquia. É datado de junho um comunicado dos bispos estadunidenses, divulgado durante a "Semana da liberdade religiosa", em que se pede para "rezar pela liberdade da Igreja na China" e se denuncia a "sinicização da religião" por parte do governo chinês.
Alia-se a isso Williams, que de Roma conta as tramas do Vaticano para a elite do mundo neoconservador das estrelas e listras. “Um choque, mas um choque agradável”, confidencia ao Formiche.net no dia seguinte. “Aquele de Pompeo é um pedido à honestidade, um convite à Santa Sé para que cesse toda ambiguidade e use sua autoridade moral para denunciar as violações clamorosas e diárias dos direitos humanos na China”. Não é por acaso que o ex-chefe da CIA, em seu editorial para o site First Things, lembra João Paulo II. “Ele teria denunciado esses crimes - diz Williams - ele o fez com outros regimes comunistas”.
Na frente da liberdade religiosa, os contornos entre agenda eleitoral e diplomática do governo Trump são confusos. É um tema caro a um eleitorado ferrenho do Tycoon, um bloco transversal que começa pelos evangélicos (arengados pelo vice-presidente Mike Pence) e chega aos católicos conservadores, pouco próximos (eufemismo) da sensibilidade teológica e diplomática do papa Francisco.
“Também será incomum no mundo diplomático. Mas a intervenção de Pompeo usa uma linguagem clara, a Igreja deveria fazer o mesmo. Todos os domingos, no Angelus, o papa troveja contra as violações dos direitos humanos no mundo. Nunca sobre a China, para não comprometer a retomada das relações diplomáticas. Mas em Xinjiang, há quase um milhão de muçulmanos uigures em campos de concentração. Não podemos ficar calados”.
No entanto, o Vaticano não é estado qualquer. A Igreja conhece e dialoga com o mundo chinês há séculos, não há anos. E, vamos explicar a Williams, o Papa é responsável pelo destino de milhões de cristãos na China. “Este discurso é reapresentado para justificar os silêncios de Pio XII em relação ao Holocausto. Queremos cometer os mesmos erros novamente? Aqui estamos diante de outro holocausto”, responde.
Depois do ataque do governo dos Estados Unidos, são aguardados sinais de São Pedro. É improvável que deixe seus interlocutores no Vaticano indiferentes. Além disso, a sede escolhida para a investida, First Things, é um site que certamente não é generoso com o pontífice. “É verdade, poderia ter escolhido o New York Times ou o Washington Post. Mas vamos encarar os fatos: o jornalismo estadunidense não é mais o que era, hoje esses são bastiões da ideologia liberal. First Things tem sua própria seriedade acadêmica”.
A Santa Sé responderá a Pompeo? “Se eu tivesse que apostar um dólar, diria que não - comenta o correspondente da Breitbart -, usarão canais secundários para manifestar seu descontentamento e constrangimento. O papa Francisco poderia fazer uma referência velada, é no seu estilo: intelligentibus pauca”.
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China-Vaticano? Vou explicar quem está com Pompeo. A palavra de Williams (Breitbart) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU