Neste dias no Chile, ainda que de forma muito comedida e cautelosa, estão sendo divulgados por duas das vítimas de Karadima, recebidas alguns dias atrás pelo Papa na Casa Santa Marta, vários pequenos detalhes sobre as conversas confidenciais entre eles e o Santo Padre. Às vezes, os textos identificam a pessoa que narra esses momentos e, às vezes, embora coloquem as frases entre aspas, não é feita qualquer referência à fonte. No final, no entanto, entende-se que substancialmente Andrés Murillo e James Hamilton deixaram vazar alguns detalhes. Fala-se também que em breve poderia fazer o mesmo, nos Estados Unidos, a terceira vítima, Juan Carlos Cruz.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada por Il Sismografo, 05-05-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
São todas passagens importantes, mas que não quebram o que talvez tenha sido um compromisso de todos: não transformar essas reuniões em um espetáculo midiático e, portanto, protegê-los com "o amoroso bom senso da discrição, valor pelo qual a alma tem muito apreço".
Andres Murillo relata, por exemplo, que o Santo Padre se comportou sempre, com todos, como uma "pessoa muito simples. Sempre nos mostrou seu rosto amigável, sereno e em todos os momentos nos fez sentir a sua proximidade, verdadeira. Nada a ver com os bispos chilenos que conhecemos: distantes, indiferentes, temerosos do diálogo". Murillo ressalta: "Ficamos impressionados com a generosidade do seu convite. Ele nos convidou para nos hospedarmos na sua casa, sob o mesmo teto. Enquanto estávamos à mesa, ao nosso lado estava sentado o Papa Francisco comendo a salada como todos nós".
O escritor e filósofo de 43 anos, que veio a Roma com um filho, que apresentou ao Santo Padre no momento do encontro coletivo da segunda-feira, 30 de abril, com uma participação calma e serena acrescenta: "Com o Papa não evitamos nenhum assunto, nem mesmo os mais escabrosos. No encontro coletivo voltamos sobre temas já discutidos nas reuniões individuais. Em alguns desses assuntos, entre nós não havia acordo e nós expressamos diferentes considerações. Até mesmo com o Santo Padre, em alguns momentos, estivemos em desacordo. Tudo isso, com respeito, carinho e confiança, esteve na mesa das conversações”.
Entre os temas abordados Murillo confirma que falaram longamente com o Papa sobre o comportamento dos cardeais Ricardo Ezzati e Francisco Javier Errazuriz, "bem como de outros bispos que fazem parte dessa história, e que aos poucos se tornaram parte do círculo crescente de pessoas que trabalharam para encobrir os crimes de Karadima." Ao mesmo tempo, o escritor chileno lembrou com imensa gratidão os numerosos pedidos do Papa para que os três chilenos se sentissem no dever de dar sugestões e ideias para combater o fenômeno dos abusos sexuais. "Fizemos isso imediatamente", explica Andrés Murillo que conclui com um breve e singular relato.
Concretamente Andres Murillo relatou que perguntou explicitamente ao Papa Francisco, em seu encontro individual sobre o "por quê, sobre o motivo do convite para vir ao Vaticano e falar com ele." Murillo acrescentou que a resposta do Pontífice foi: "No Chile, eu senti um frio muito estranho".
Não é uma frase qualquer, e na boca do Papa Jorge Mario Bergoglio é uma frase de grande relevância sobre todo o episódio chileno, de sua relação com essa nação e com essa igreja, especialmente em sua fase final, de junho de 2017, data em que começou a preparação oficial para a viagem ao Chile.
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