18 Março 2020
Pesquisadores do Imperial College: caso se continuasse a ignorar a ameaça, ou seja, colocando uma resposta quase nula ao coronavírus, nos EUA haveria 2,2 milhões de mortes e até 510 mil no Reino Unido.
A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada por La Repubblica, 17-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
É o estudo que fez Boris Johnson e Donald Trump mudarem de ideia, inicialmente relutantes em tomar medidas drásticas contra o coronavírus. Não apenas isso: também convenceu o presidente francês Emmanuel Macron, para quem "a França agora está em guerra", depois que o chefe do Elysée adotou nas últimas horas medidas duras e restritivas semelhantes às italianas. O estudo em questão se chama "Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID- 19 mortality and healthcare demand" e os autores são uma equipe coordenada pelo professor Neil Ferguson do Imperial College de Londres, uma das principais instituições de pesquisa e medicina pública no mundo.
O estudo liderado pelo professor Ferguson foi decisivo porque demonstrou aos líderes e às forças-tarefa dos Estados Unidos, Reino Unido e França quais seriam os riscos catastróficos de uma abordagem muito branda à ameaça do coronavírus. Desde a introdução do estudo, Ferguson é muito claro: "Este é o vírus respiratório mais perigoso desde a gripe H1N1 de 1918. Na ausência de uma vacina", o que não é esperado antes de 18 meses, “estas são, em nossa opinião, as medidas de saúde pública, as chamadas intervenções não farmacêuticas (NPIs), para reduzir a propagação da doença".
O estudo não deixou muito espaço para discussão aos líderes mundiais. De acordo com Ferguson e os outros pesquisadores, de fato, caso se continuasse a ignorar a ameaça, ou seja, colocando uma resposta quase nula ao coronavírus, nos Estados Unidos haveria 2,2 milhões de mortes e até 510 mil no Reino Unido. Um massacre colossal. Mas até mesmo uma resposta branda teria gerado perdas extremamente graves e um grande número de vítimas, de acordo com Ferguson: o chamado "cenário 1", que é uma abordagem que prevê medidas limitadas à mitigação do coronavírus, simplesmente desacelerando sua propagação e afrouxando a pressão sobre o sistema de saúde, teria causado, mesmo assim, pelo menos 260 mil mortes no Reino Unido e cerca de um milhão nos EUA.
(Foto: Reprodução)
É por isso que Johnson ontem, como Trump nos últimos dias, mudou sua estratégia. Embora, no caso inglês, não tenha implementado o isolamento de um país inteiro ou o fechamento forçado de locais públicos, assim como fizeram a Itália e outros países. Até ontem, de fato, o Reino Unido havia adotado o citado "cenário um", limitado ao isolamento de uma semana para indivíduos com potenciais sintomas de coronavírus e poucas outras limitações. Hoje, no entanto, há medidas muito mais rigorosas, embora ainda voluntárias, como "sair de casa apenas para os serviços necessários ou por exercícios físicos bem distanciados de outras pessoas, reduzir os deslocamentos dentro do país, trabalhar em casa o máximo possível e limitar drasticamente contatos e locais públicos e, portanto, os tradicionais pubs, discotecas, restaurantes, cinemas e teatros".
Não apenas isso: se tiver um dos dois sintomas do coronavírus (febre alta ou tosse persistente), o sujeito terá que se abster de sair por uma semana, enquanto "todo o resto da família" terá de permanecer em quarentena por duas semanas. Enquanto as categorias "mais frágeis" terão que ficar em casa por 12 semanas, com ou sem sintomas, ou seja, todas as pessoas com mais de setenta anos, adultos com menos de setenta anos com patologias graves e, por fim, mulheres grávidas.
(Foto: Reprodução)
Porque no relatório, Ferguson e o Imperial College também são claros em outro ponto: "Existem duas estratégias para combater o coronavírus: mitigação ou supressão. A primeira visa simplesmente retardar sua propagação, reduzindo a pressão no sistema público e protegendo os mais fracos. A segunda, a supressão, visa, ao contrário, inverter a tendência do contágio, reduzir casos e manter essas medidas em prazo indefinido". Segundo o Imperial College, esse segundo cenário é o que deve ser adotado agora, pois reduziria as mortes ao número ainda trágico de "milhares" ou "dezenas de milhares de pessoas".
No entanto, mesmo essa abordagem teria um custo altíssimo em outros termos, sociais e de saúde inclusive mental da população, enquanto na China e na Coreia do Sul foram aplicadas rapidamente, e aqui não. Portanto, agora, essas medidas para funcionar terão que ser implementadas por muitos meses, segundo Ferguson, "talvez até que uma vacina seja encontrada". Embora elas possam ser afrouxadas nos meses de verão de julho e agosto, sempre lembrando que o vírus poderia retornar.
Além da virada vinda de Johnson ontem, como escreve o New York Times, também Trump e seus especialistas foram persuadidos por Ferguson nos últimos dias: o estudo publicado hoje pelo Imperial College de fato chegou previamente na Casa Branca - como em Downing Street – durante o fim de semana passado e logo depois veio a virada do presidente estadunidense. Le Monde, por outro lado, relata que a pesquisa de Ferguson teve o efeito de um "eletrochoque" para Macron: no dia de sua apresentação no Élysée, o presidente francês anunciou o fechamento de escolas, cafés e restaurantes.
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Coronavírus, o estudo chocante que fez Grã-Bretanha, Estados Unidos e França mudarem de ideia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU