03 Fevereiro 2025
Três dias após o cessar-fogo que inaugurou a primeira do que deveriam ser as três fases dos acordos sobre operações militares na Faixa de Gaza, a tensão nos territórios palestinos ocupados está em vertiginoso e constante aumento.
A reportagem é de Matilde Moro, publicada por Domani, 23-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Apenas um posto de controle permanece aberto para entrar em Belém. Há uma atmosfera de suspensão na cidade: “Estamos todos muito felizes com a trégua em Gaza”, comenta Mohammed, que trabalha há décadas como taxista em Belém e em toda a Cisjordânia, “mas aqui a situação voltou a ser como depois de 7 de outubro, e sabemos que vai piorar”.
Ele mesmo parou de dirigir fora de Belém depois de escurecer: “Normalmente não há nenhum problema, mas nos últimos dias os ataques a carros palestinos nas ruas são muito frequentes, os colonos atiram pedras e é muito perigoso”. Enquanto isso, fala-se explicitamente na cidade sobre um deslocamento do front de guerra de Gaza para a Cisjordânia. O exército coloca veículos pesados e blocos de cimento nas entradas da cidade. E ontem houve outra violenta incursão em Jenin, no qual sete palestinos foram mortos. Trinta e cinco ficaram feridos.
As vias de comunicação entre as cidades palestinas estão quase todas fechadas, e o deslocamento se torna mais difícil a cada hora. Mesmo onde não há pontos de controle ou barreiras, os controles policiais estão por toda parte. Ontem de manhã, uma fila de horas se formou para sair de Ramallah; aqueles que se puseram em viagem às 9h só puderam sair no final da tarde. Também na Jerusalém ocupada, no campo de Shufat, houve ataques violentos durante a noite, com uso maciço de gás lacrimogêneo.
Não muito longe de Belém, na região de Masafer Yatta, colinas ao sul de Al Khalil (em hebraico, Hebron), na zona C de acordo com os acordos de Oslo, começaram a circular mensagens em que os colonos ameaçam atacar vilarejos. Em Masafer Yatta, onde a população palestina vive sob a autoridade civil e militar israelense, a situação é crítica e as violências são contínuas, mesmo em uma situação de relativa normalidade.
“Na manhã de quarta-feira”, conta Giorgia, uma voluntária da Operazione Colomba, um corpo de paz não violento que atua no vilarejo de At-Tuwani há mais de 20 anos, ”houve um ataque violento no vilarejo de Qawawis, os colonos chegaram com os rostos cobertos, como acontece nesses casos, e espancaram, entre outros, um homem muito idoso, atingindo-o com barras de ferro nas costas e nas pernas; enquanto isso, vários colonos e colonos-soldados impediram os palestinos de arar seus campos, uma estratégia usada com frequência para impedir que os habitantes da área se sustentem, inclusive pela exigência de obter uma permissão para cultivar suas terras, muitas vezes depois os colonos vão arar as terras no lugar deles, para que possam tirá-las deles”.
O telefone dos ativistas toca incessantemente, vários vilarejos solicitam sua presença: “As pessoas estão assustadas, mas também muito cansadas. Se a situação antes de 7 de outubro já era extremamente pesada para a população, com ataques contínuos, depois de mais de um ano em que a violência aumentou ainda mais, os habitantes das aldeias continuam a resistir com o único meio de que dispõem no momento, que é continuar a permanecer em suas próprias terras, mas com um esforço cada vez maior, também devido à expansão contínua e cada vez mais rápida das colônias”.
Os ativistas da italiana Mediterranea Saving Humans, cuja presença nos territórios ocupados é retomada hoje após uma fase inicial no verão passado, também enfatizam a necessidade de continuar no campo: “Como coordenadores do projeto Mediterranea Saving Humans na Palestina”, comentam da associação, “acreditamos que é necessário estar presentes onde os direitos humanos são violados e testemunhar o impacto devastador na vida das pessoas”.
Portanto, nessa segunda fase do projeto, a Mediterranea publicará um relatório semestral sobre as violações dos direitos humanos sofridas diariamente pela população palestina na Cisjordânia.
Incursões e ataques também estão ocorrendo no norte da Cisjordânia. Além das duas primeiras incursões da operação “Muro de ferro” em Jenin, que até agora deixaram 16 mortos e mais de 75 feridos, na cidade de Azzoun, a leste de Qalqilyq, o exército israelense prendeu mais de 60 palestinos. No mesmo dia em que, conforme estipulado nos acordos de cessar-fogo, o governo israelense libertou 90 detidos: “É sempre assim”, comenta Mohammed, “soltam alguns e prendem outros, não existe uma verdadeira trégua na vida sob ocupação”.