17 Janeiro 2025
"Todos em Gaza estão esperando que o acordo seja mantido. Dois milhões de pessoas na Faixa estão rezando pelo cessar-fogo. A cada minuto há mortos e feridos em Gaza, de modo que todos nós estamos esperando que as armas sejam depostas”. Essa é a mensagem enviada da Faixa do Dr. Mohammed Abu Mughaiseeb, médico da organização Médicos Sem Fronteiras em Khan Yunis, no sul do país. O médico, desde o início do conflito, está empenhado em operações de socorro para a população ferida de Gaza, sendo o vice-coordenador médico das operações da organização internacional.
A entrevista é de Nello Del Gatto, publicada por La Stampa, 16-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ele gerencia toda a equipe médica dos Médicos Sem Fronteiras na Faixa de Gaza, que conhece bem e cujas necessidades aumentaram durante esse conflito, devido ao grande número registrado de vítimas civis, especialmente crianças e pessoas indefesas.
Quais são as maiores dificuldades que vocês estão enfrentando e qual é a situação sanitária?
Dia após dia, a situação em Gaza vem se deteriorando desde 7 de outubro. Principalmente as estruturas sanitárias na Faixa foram alvos de ataques das forças israelenses durante essa guerra. Algumas instalações foram completamente destruídas, outras sofreram danos extensos que as impediram de funcionar, outras sofreram danos menores. Houve muitas prisões entre o pessoal médico, algumas até mesmo entre nossos colegas. Onde estou, em Khan Yunis, temos algumas estruturas ainda funcionando. Algumas outras estão no centro. O norte está em colapso. A maioria das instalações médicas é administrada por organizações internacionais como a nossa. O sistema de saúde em Gaza entrou em colapso total, há enormes demandas e necessidades de ajudas, além dos pedidos básicos.
Vocês conseguem enfrentar as emergências?
Não, é muito difícil, nos esforçamos ao máximo, mas essas estruturas não conseguem dar conta do número de feridos e das demandas médicas. Não é possível enfrentar as grandes emergências que, aliás, são cotidianas. Quando você tem eventos com duzentos feridos ao mesmo tempo, com as nossas capacidades operacionais limitadas de leitos e salas de emergência, dificilmente consegue prestar uma assistência digna desse nome. E passamos por isso durante toda a guerra.
Não deve ter sido fácil lidar com situações de todos os tipos, também imaginamos a sensação de impotência, mas, ao mesmo tempo, o desejo de continuar. Há alguma história que o marcou mais do que outras?
Tivemos muitas situações difíceis, tristes, enfrentamos muitas emergências diferentes e sempre tentamos oferecer mais do que podíamos com os poucos meios à nossa disposição. Lembro-me de uma menina de dois anos cujas pernas tivemos que amputar. Ela havia sido tratada em um de nossos hospitais da Médicos Sem Fronteiras. Tínhamos conseguido incluí-la em uma lista de pessoas que deveriam ser evacuadas para a Jordânia por motivos humanitários, mas, em vez disso, os israelenses negaram sua saída da Faixa. Ficamos chocados. E me lembro de uma mulher grávida. Ela também amputada, perdeu a parte inferior da perna. Infelizmente, não foi possível salvar o bebê que ela carregava. Ela havia sido ferida no Norte, não conseguimos hospitalizá-la lá por causa do colapso das estruturas sanitárias na área e, por meio da Organização Mundial da Saúde, conseguimos trazê-la aqui no sul. Outro dia, tivemos uma menina internada que havia sido ferida em um ataque israelense. Foi difícil para a equipe médica tratá-la, mas, acima de tudo, dizer a ela que seus pais haviam morrido no ataque e que ela havia ficado sozinha. Sem mencionar os colegas que, mesmo na sala de cirurgia, recebiam notícias de familiares mortos em ataques aéreos. Agora rezamos por um cessar-fogo.