03 Janeiro 2024
Pelo menos 13 padres e dois seminaristas foram presos entre 20 e 30 de dezembro na Nicarágua, incluindo os monsenhores Carlos Avilés, Silvio Fonseca, Miguel Mántica e o padre Pablo Villafranca.
A reportagem é de Wilfredo Miranda, publicada por El País, 31-12-2023.
A polícia do regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo atacou a Igreja Católica no Natal: entre 20 e 30 de dezembro, 13 padres e dois seminaristas foram presos, incluindo padres conhecidos como os monsenhores Carlos Avilés, Silvio Fonseca, Miguel Mántica e o padre Pablo Villafranca. Essas detenções se somam à condenação do bispo Rolando Álvarez e do titular da diocese de Siuna, Isidro Mora Ortega.
"A ditadura sandinista desencadeou uma caçada feroz contra os padres esta semana, levando vários deles para a prisão, que se somam a dois bispos que já estavam presos", denunciou o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, exilado nos Estados Unidos. "Peço aos bispos e às conferências episcopais do mundo que não nos abandonem neste momento, que orem pela Igreja da Nicarágua e se solidarizem, levantando suas vozes denunciando essa perseguição da ditadura contra nossa Igreja!"
Na madrugada de 30 de dezembro, foram detidos religiosos pertencentes à Arquidiocese de Manágua, como monsenhor Mántica, o padre Gerardo Rodriguez, Jader Hernández e Raúl Zamora, este último pároco da Igreja Divina Misericórdia, a igreja que foi alvejada por paramilitares sandinistas em 13 de julho de 2018. Foi um ataque brutal que durou horas durante a chamada Operação Limpeza, quando o governo ordenou a desarticulação das barricadas dos manifestantes. Naquela noite de fogo aberto, dois estudantes universitários, Geral Vásquez e Francisco Flores, perderam a vida. Alguns dos padres agora perseguidos e presos participaram como mediadores no fracassado processo de diálogo nacional entre o governo sandinista e a oposição.
Monsenhor Silvio Fonseca, vigário de Família, Vida e Infância da Arquidiocese de Manágua, foi outro sequestrado na noite de sexta-feira, 29 de dezembro, por policiais. Silvio Fonseca é um crítico aberto do casal presidencial e os acusou de "promover um ódio nunca visto" contra a Igreja Católica e de "privar o povo católico de se formar em sua fé".
Os outros religiosos detidos em dezembro são Monsenhor Marcos Diaz (León), Fernando Calero (Matagalpa), Héctor Treminio Vega (Manágua), Mykel Monterrey (Manágua) e Gerardo Rodríguez (Manágua). Também constam outros seminaristas não identificados pelo Monitoreo Azul y Blanco, que documenta a repressão do regime orteguista.
Actualización de los sacerdotes detenidos arbitrariamente por la Policía Nacional. Demandamos su liberación y la de todas las personas presas políticas. Actualizado al 30/12/23 a la 1.00 PM. #LibertadParaLosPresosPolíticos #SOSNicaragua pic.twitter.com/ldqmBSPKtA
— Monitoreo Azul y Blanco (@AzulyMonitoreo) December 30, 2023
As detenções dos sacerdotes impedem o exercício da fé de forma livre e sem medo na Nicarágua. A liberdade de culto e pensamento são pilares fundamentais em uma sociedade plural e democrática. Sua proteção é essencial para promover sociedades inclusivas e respeitosas. A detenção destes 14 religiosos se soma à condenação política contra o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, e o monsenhor Isidoro Mora, titular da diocese de Siuna", criticou a Unidade de Defesa Jurídica (UDJ) que defende os presos políticos.
Desde o ano de 2018 até 2023, a Igreja Católica tem suportado 740 ataques, de acordo com a pesquisadora e advogada Martha Patricia Molina, autora do estudo "Nicarágua, uma Igreja perseguida". "Somente no ano de 2023, ocorreram 275 agressões. Podemos qualificar este último ano como o de mais ataques contra a Igreja Católica no quinquênio recente. Além disso, 176 religiosos e religiosas não estão exercendo seu ministério na Nicarágua devido a expulsões, proibições de entrada ou envio ao exílio", afirma a jurista exilada.
Policía sandinista secuestra al Padre Mykel Monterrey, párroco de Ntra. Sra de Candelaria. Arquidiócesis de Managua#Iglesiaperseguidani pic.twitter.com/60z2Uee4QK
— Martha Patricia M (@mpatricia_m) December 30, 2023
O mais recente exílio de sacerdotes ocorreu em outubro passado, quando o regime do país centro-americano retirou uma dúzia de padres de suas prisões, mantendo-os como prisioneiros políticos, e os enviou em um avião para Roma. No entanto, a expulsão de religiosos começou em 2018, quando os Ortega-Murillo forçaram o exílio do bispo auxiliar de Manágua, Monsenhor Silvio Báez, uma das vozes pastorais mais críticas contra a deriva autoritária e as violações aos direitos humanos na Nicarágua. O padre Edwin Román, um pároco que foi fundamental na proteção dos cidadãos da repressão na cidade de Masaya durante os protestos de 2018, também se exilou.
"Condenamos veementemente esses atos repressivos e fazemos um apelo à solidariedade internacional. Exigimos a libertação imediata dos padres, seminaristas e bispos, bem como o fim de qualquer forma de perseguição à Igreja. Instamos os líderes globais a se unirem na denúncia desses crimes e a exercerem pressão diplomática para pôr fim a essa escalada de violência. A comunidade internacional deve direcionar urgentemente sua atenção para a crescente ameaça à liberdade religiosa na Nicarágua", expressou o grupo de opositores reunidos no processo de Concertação de Monteverde.
Em uma linha do tempo feita pelo El País sobre a perseguição ao catolicismo, encontram-se agressões contra padres e bispos, profanações de igrejas, fechamento de meios de comunicação e ONGs administradas pelas dioceses, congelamento de contas bancárias e uma narrativa sustentada contra o catolicismo e seus líderes. Por exemplo, em 24 de janeiro de 2022, a "copresidente" Rosario Murillo atacou os sacerdotes, chamando-os de "atrasados e retrógrados" que se "disfarçam com máscaras e trajes supostamente elegantes".
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O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo desencadeia uma caçada aos padres no Natal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU