08 Abril 2025
"A decisão de remarcar a assembleia dos bispos é um fato totalmente excepcional. Nos últimos vinte anos, isso só aconteceu em três circunstâncias: pela morte de João Paulo II e mais duas vezes pela emergência da Covid-19. Eventos imprevisíveis, certamente não atribuíveis a divisões internas da Igreja na Itália, como neste caso."
O artigo é de Giovanni Panettiere, publicado por QN, 05-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A base católica se rebela e devolve ao remetente o documento final da segunda assembleia do caminho sinodal da Igreja italiana, apresentado pela presidência dos bispos para o futuro do cristianismo.
Ele é excessivamente paternalista e clerical no que diz respeito ao acompanhamento das pessoas homossexuais e pouco incisivo sobre a questão do papel das mulheres, em particular pela total ausência no documento de uma clara solicitação para a retomada do diaconato feminino. Sem mencionar o pouco aprofundamento dado ao tema dos abusos, da transparência econômica e da urgência do binômio paz e estabilidade democrática em um contexto geopolítico nunca como agora à mercê dos ventos da guerra.
Como resultado, os 957 delegados, que representam 219 dioceses de um total de 226 – 442 leigos, 44 religiosos, 246 padres, 176 bispos, em um total de 664 homens e 293 mulheres – votaram ontem na Sala Paulo VI para reenviar para 25 de outubro a aprovação do texto, que terá de ser amplamente reformulado. Apenas doze votaram contra. Como consequência, foi adiada para novembro a assembleia geral da CEI, que deveria ter adotado em maio o relatório resultante de um caminho sinodal iniciado em 2021 a pedido do Papa Francisco, apesar das resistências expressas na época por uma parte consistente do episcopado. A decisão de remarcar a assembleia dos bispos é um fato totalmente excepcional.
Nos últimos vinte anos, isso só aconteceu em três circunstâncias: pela morte de João Paulo II e mais duas vezes pela emergência da Covid-19. Eventos imprevisíveis, certamente não atribuíveis a divisões internas da Igreja na Itália, como neste caso.
Que o caminho fosse acidentado para o texto das 50 proposições, elaborado pelo Comitê Nacional do Caminho Sinodal, presidido pelo vice-presidente da CEI, Erio Castellucci, arcebispo de Modena, já estava claro na terça-feira, no início dos trabalhos no Vaticano. 95 por cento das intervenções, dos 28 grupos de estudo, foram marcadas por uma forte crítica ao documento. O número de emendas foi alto demais para que o texto fosse alterado a tempo para a assembleia dos bispos em maio. O que aconteceu dá a medida de uma fase crítica pela qual a Igreja italiana está passando. Representa um revés para a própria presidência da CEI, desde 2022 nas mãos do cardeal bergogliano Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha. No entanto, é também o sinal de uma vitalidade inesperada da catolicidade do país, descrita como silenciosa e atolada pelos observadores. Mas, em vez disso, quando solicitada, se mostra mais progressista do que sua liderança, que em si não é conservadora.
“Não se pode falar de uma reprovação, mas de uma segunda época para outubro”, Castellucci usa a metáfora escolar ao comentar o resultado da assembleia sinodal antes de reconhecer “dois pecados” na gênese do documento: “Faltou tempo para a reflexão final e a questão da comunicação não foi levada suficientemente em conta, considerando muitas coisas como garantidas”. Por sua vez, Zuppi, que defendeu uma atmosfera franca na assembleia, embora não esperasse o adiamento das proposições, admite: “Há uma certa decepção, não em relação à assembleia, onde ao contrário houve um grande senso de liberdade e de sentimento eclesial, mas sim em relação ao fato de que gostaríamos de ter respeitado o calendário”. Mas “não basta fixar o calendário, essa é a beleza da vida e de uma Igreja viva”. E, para aqueles que, tendo como pano de fundo os resmungos dos nostálgicos de uma CEI de orientação firme e sem debate com a base, perguntam se ele pretende renunciar depois do que aconteceu, ele responde: “E por quê?”.