25 Março 2025
Francisco está de volta. Mostrando-se finalmente ao mundo, após 38 dias de esconderijo forçado, durante os quais ele “experimentou a paciência de Deus”. No meio-dia romano, no terceiro domingo da Quaresma, seus olhos mais uma vez encontraram aqueles da multidão que se aglomerava do lado de fora do hospital. Em sua cadeira de rodas, na pequena sacada do segundo andar, o Papa - embora fraco - cumprimenta, abençoa e sussurra algumas palavras de agradecimento. Ele repete o gesto habitual do polegar levantado. Cercado pelas atenções do fiel enfermeiro pessoal Massimiliano Strappetti. Uma aparição fugaz, apenas um minuto, e a cadeira de rodas desaparece novamente. Inesquecível, no entanto. Um momento muito esperado, depois de um período de angústia e medo. O pontífice conseguiu. Superou a prova mais difícil de sua vida, sustentado pela oração incessante e insistente dos fiéis, pela esperança de todos em todos os cantos do mundo. A multidão que o aguarda aplaude, grita “Francisco!”, lágrimas furtivas aparecem.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 24-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma senhora trouxe um buquê de flores, rosas amarelas, recebendo o agradecimento do Papa: “Obrigado a todos. Estou vendo esta senhora com flores amarelas, é uma boa pessoa”. Seu nome é Carmela Vittoria Mancuso, 79 anos, e explica que “estou em Roma há seis anos, em todas as audiências me apresentei com flores para o Santo Padre. Na primeira vez, ele me perguntou: são para mim? E a partir daquele momento, eu sempre as levo para ele. Ao acenar com esse buquê de rosas amarelas, eu queria cumprimentá-lo e animar seu olhar. Não sabia se ele se recuperaria. E saber que ele olhou para mim foi uma emoção que não consigo explicar com palavras. Não sou digna. Eu também queria cumprimentá-lo em nome dos doentes e das crianças que estão neste hospital e em todo o mundo”.
Há também médicos de jaleco branco, os “anjos da guarda” do paciente Bergoglio. Ao redor da estátua de São João Paulo II - outro ilustre “hóspede” do Gemelli - reuniram-se mais pessoas do que o normal, cerca de três mil pessoas que vieram para “ver Pedro”, para ouvir sua voz novamente, após de longos dias de silêncio. Entre os muitos que se reuniram estava a Irmã Geneviéve Jeanningros - como informa o Vatican News - a religiosa “anjo” do Parque de Diversões de Óstia, empenhada na pastoral de ciganos e sinti, mas também de homossexuais e pessoas trans. Uma velha conhecida do Papa (que a chama de enfant terrible), presente todas as quartas-feiras na audiência geral.
Esse também é o dia do tão esperado e ansiado retorno para casa, a longa internação acabou, Francisco pode finalmente voltar para Santa Marta. O Fiat 500L branco aparece, ele se senta ao lado do motorista, com as cânulas de oxigênio que o ajudam a respirar. O cortejo parte, mas não está indo direto para o Vaticano, há um desvio inesperado. Como em todo retorno de uma viagem, o Papa pretende passar por Santa Maria Maior, pela “sua” Nossa Senhora, a Salus Populi Romani, deixando um buquê de flores como agradecimento, entregue ao Cardeal Rolandas Makrickas, arcipreste coadjutor da basílica: são as rosas amarelas que a Sra. Carmela trouxe de presente para o Papa no Gemelli, entregando-as à Gendarmaria do Vaticano. A última etapa não programada de Francisco antes de retornar à sua residência, a poucos metros do Portão Perugino: o carro branco do Pontífice para e, da porta aberta, Bergoglio cumprimenta a Sra. Stefania, que mora bem diante da entrada do Vaticano.
No Angelus, que foi difundido apenas por escrito, o Bispo de Roma confessa à humanidade que “neste longo período de hospitalização, tive a oportunidade de experimentar a paciência do Senhor”. Ele a vê “refletida também no incansável cuidado dos médicos e dos profissionais da saúde, bem como nas atenções e esperanças dos familiares dos doentes. Essa paciência confiante, ancorada no amor de Deus que não falha, é realmente necessária em nossas vidas, especialmente para enfrentar as situações mais difíceis e dolorosas”.
E imediatamente o Papa passa a recordar as feridas que sangram no mundo, como nunca deixou de fazer, mesmo de seu leito de hospital: “Fiquei triste com a retomada dos pesados bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, com tantos mortos e feridos”. Ele volta a implorar: “Que as armas se calem imediatamente; e se tenha a coragem de retomar o diálogo, para que todos os reféns sejam libertados e um cessar-fogo definitivo seja alcançado”.
Na Faixa de Gaza, a situação humanitária é mais uma vez muito grave e exige o empenho urgente das partes em conflito e da comunidade internacional”. Francisco está “satisfeito com o fato de a Armênia e o Azerbaijão terem concordado com o texto definitivo do acordo de paz”. Ele conclui chamando mais uma vez pelo nome as numerosas estações da Via Sacra do momento atual: “Imploramos o fim das guerras e que se faça a paz, especialmente na martirizada Ucrânia, na Palestina, em Israel, no Líbano, em Mianmar, no Sudão, na República Democrática do Congo”. Agora, a convalescença, que se prevê dure por dois meses.