“Com o áudio, Francisco evitou se transformar num santinho”. Entrevista com Enzo Bianchi

Foto: Vatican Media

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17 Março 2025

O Papa “escolheu se fazer presente com sua voz sofrida e fraca e não com uma foto porque a imagem poderia se tornar um santinho”.

A entrevista é de Serena Sartini, publicada por Il Giornale, 11-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

“Ele quer a verdade, a transparência, e com a gravação de áudio dá provas de seu sofrimento, não é um ícone”. Enzo Bianchi, fundador da Comunidade Monástica de Bose e membro da fraternidade Casa della Madia, fala ao Il Giornale e reflete sobre o momento difícil que o papado de Francisco está vivendo.

“Estou vivendo este período de doença do Papa de uma maneira diferente em relação aos Papas anteriores, porque Francisco é um amigo, uma pessoa que conheço muito bem, em profundidade, e também acredito que interpreto suas atitudes e suas palavras. Sinto um sofrimento compartilhado. Um papa como ele é algo singular na Igreja. Pode agradar ou não, mas antes dele não houve um papa tão corajoso, e será difícil haver outro tão corajoso depois. Ele teve atitudes proféticas para a Igreja que não podemos desconsiderar, escolhas que abriram a Igreja para novos caminhos”.

Eis a entrevista.

O senhor acha que o Papa vai se recuperar?

A situação é tal que também estamos prontos para sua passagem, afinal a vida tem seu nascimento, crescimento e fim. O Papa tem 88 anos, não está bem de saúde, e rezamos por ele.

Também sobre a doença, está realizando uma reforma comunicativa...

É verdade. Francisco quer transparência, não quer que nasçam lendas em torno da agonia do Papa, como sempre aconteceu. Ele quer que toda a Igreja saiba, que possa participar da verdade de uma agonia, de uma morte, de uma doença. Ele é assim: com sua força, quer a verdade. Ele é um homem determinado, não suporta as lendas.

É por isso que escolheu enviar um áudio e não uma foto?

Uma foto poderia ser transformada em santinhos. O áudio é a voz de uma pessoa doente, de uma pessoa que está em sofrimento e doente, mas não se torna um ícone ou um santinho. É o testemunho de que ele está vivo e que pede para ser acompanhado com a oração.

Que testemunho ele está nos transmitindo com suas mensagens e palavras?

O que o Papa vive se torna uma oportunidade de sabedoria, de Evangelho, de mensagem evangélica. Ele tem essa capacidade. E eis que de sua doença emerge a importância do cuidado e da ternura; com a homilia para a Quaresma, ele nos fala da necessidade de purificação e conversão. Francisco é um Papa que transforma em vida espiritual tudo o que é a sua vida real.

Domingo também há o link do vídeo para os exercícios espirituais...

Sim, ele é assim. Tudo o que ele pode fazer, o faz, sem ostentação, sem heroísmos, sem titanismos, que ele não suporta, mas na cotidianidade.

Como o papado mudará com seu retorno a Santa Marta?

Nada mudará. Vimos que, mesmo em seu leito de hospital, ele faz nomeações, convoca consistórios. Ele governa até o fim. Somente se sua mente estiver ameaçada, enfraquecida, obscurecida, ele renunciará.

Mas ele não poderá mais viajar, se locomover, se encontrar com “seu” povo?

As viagens não alteram a situação. Até três papas atrás, não aconteciam. O importante é que ele saiba dizer a palavra certa para a Igreja no momento certo e que continue a oferecer uma palavra profética.

Quais são seus votos para o Papa neste momento?

Que ele possa ser sereno, como sempre demonstrou nos momentos difíceis e de crise. Que ele tenha sempre serenidade, diante do Senhor, até o fim.

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