Arrastadas, espancadas, baleadas, violentadas. A infinita cruzada do patriarcado contra as mulheres. Destaques da Semana no IHUCast

Arte: Mateus Dias | IHU

Por: Cristina Guerini e Lucas Schardong | 06 Dezembro 2025

O Destaques da Semana do IHUCast mergulhou no debate sobre a escalada da violência de gênero e o feminicídio, o avanço da bancada ruralista sobre o meio ambiente, e as tensões geopolíticas envolvendo a Europa, Rússia e a América Latina sob a sombra da Doutrina Monroe. Mas claro, é tempo de Advento, e por isso também fazemos memória ao menino que renasce todos os anos e a esperança severina, onde o desejo de vida se sobrepõe à morte.

💔 Violência de Gênero

A cada 10 minutos uma mulher é assassinada em algum lugar do mundo, o equivalente a cerca de 137 feminicídios por dia, segundo relatório da Organização das Nações Unidas. A ONU ainda estima que 840 milhões de mulheres — quase 1 em cada 3 — sofreram violência física ou sexual por parte de um parceiro, violência sexual por parte de terceiros ou ambas, pelo menos uma vez na vida. O Brasil contabilizou, em 2024, 1.459 feminicídios, conforme dados do Ministério da Justiça. Uma média de quatro mulheres mortas a cada dia. Só na cidade de São Paulo, foram 51 feminicídios em 2024, número já superado neste ano - até outubro, foram 53. Na Espanha, 1 a cada 3 mulheres sofreu ao menos um tipo de violência por parte de seu parceiro ou ex-parceiro.

Monetização do ódio

Estima-se que mais de 38% das mulheres já sofreram violência online, e 85% testemunharam abusos direcionados a outras mulheres em plataformas. Já a chamada “machosfera”, um conjunto de comunidades online que lucram com vídeos e cursos que incentivam a violência de gênero, contribui diretamente para essa escalada. Uma pesquisa analisando 76.289 vídeos em 7.812 canais do YouTube demonstrou que o conteúdo misógino somava mais de 4 bilhões de visualizações.

Patriarcado

A socióloga Rosana da Silva Cuba aponta que os crimes contra mulheres são sintoma de uma sociedade cujas raízes estão fincadas no patriarcado, no racismo e no capital. A violência de gênero, segundo a socióloga, só terá fim quando a sociedade for capaz de construir novas formas de convivência que não sejam fundadas nas lógicas da exploração e da dominação. Enquanto a misoginia prospera online, barreiras e limitações ainda persistem nos espaços oficiais de diálogo com os jovens sobre gênero e violência contra a mulher.

Explosão de misoginia na rede

Especialistas alertam que a "misoginia em rede" está turbinando a ação de comunidades digitais estruturadas para despejar e disseminar ódio contra mulheres. Crimes hediondos, como o que resultou na amputação das pernas de Taynara Santos na Marginal Tietê, chegam a ser endeusados em fóruns obscuros da internet, sem controle ou punição.

Mobilização

Em resposta à urgência da situação, movimentos feministas vão intensificar a mobilização neste final de semana. O Festival Mulheres em Lutas Rio Grande do Sul, ocorre em Porto Alegre nos dias 5 e 6 de dezembro, transforma a capital gaúcha no epicentro do debate sobre a escalada do ódio nas redes e seus desdobramentos trágicos na violência cotidiana. A escolha do RS é simbólica, visto que o estado figura entre os que apresentam os maiores índices de feminicídio no Brasil.

🌳 Ofensiva

"O Congresso não dá trégua para o meio ambiente?" A resposta, na voz de Gabriel Vilardi, é uma dura crítica à bancada ruralista e suas ações no Congresso Nacional. A derrubada dos vetos da Lei de Licenciamento Ambiental foi citada como um “golpe mortal com requinte de extrema crueldade”. “O que desejam suas excelências no Congresso Nacional? Cortar a última árvore, secar os rios que restam, exterminar as comunidades indígenas que resistiram?”, indagou Vilardi.

🌍 Ecoam os tambores da guerra

Os tambores da guerra soam na Europa, com a OTAN considerando um "ataque híbrido preventivo contra a Rússia," que responde afirmando estar pronta para a guerra. O ministro alemão da Defesa alertou para um possível ataque russo antes de 2029. Em meio à desconfiança em relação a Washington, países como Alemanha, França e Itália estão planejando o retorno a alguma forma de serviço militar obrigatório. 

De volta à Doutrina Monroe

O deslocamento de um porta-aviões para a costa venezuelana, em meio à chamada Operação Lança do Sul, demonstra que a postura intervencionista americana mudou de roupagem, mas não de intenção. A soberania agora é vista como o “direito do soberano — Donald Trump — de exercer qualquer força... que ele julgue necessária para perseguir o que ele determina ser do interesse dos Estados Unidos”, como as sanções contra o Brasil ou as ameaças contra a Venezuela e Colômbia.

Copa do Mundo

A ambição de Donald Trump em sua ofensiva contra a imigração já ultrapassou vários limites, como a vontade de eliminar a cidadania por nascimento e a cassação da cidadania americana de estrangeiros que a obtiveram. O presidente Trump também ameaça confiscar partidas de cidades democratas, segundo a Human Rights Watch, que revelou a detenção e deportação de solicitantes de asilo em dias de eventos esportivos, aumentando o medo de torcedores e funcionários frente a agentes federais.

🚨 Catástrofe em Gaza

A catástrofe humanitária continua em Gaza. Apesar do cessar-fogo concluído há um mês, Israel mantém o bloqueio ao enclave, permitindo a entrada de ajuda humanitária apenas a conta-gotas e mantendo a população na miséria. Botijões de gás tornaram-se uma raridade, e a madeira também custa caro para os moradores que vivem há meses na precariedade. Para garantir comida à família, muitas crianças palestinas saem todos os dias em busca de qualquer material que possa alimentar uma fogueira e permitir que se cozinhe. A população palestina, exausta após anos de conflito, enfrenta a falta de água potável, desnutrição e o surgimento de doenças respiratórias agravadas pelas chuvas e pelo frio. Além disso, segue o assédio de colonos na Cisjordânia, mostrando a violência para além da Faixa de Gaza.

🎄 Natal, o desejo de vida se sobrepõe à morte 

Estamos na primeira semana do Advento, tempo que antecede a celebração da chegada do Jesus Menino. Tempo também de esperançar, de acreditar em um futuro promissor. Por isso, queremos nos preparar para este Natal lembrando que a esperança reside nos pobres e marginalizados. Para isso, recuperamos as palavras do padre Alfredinho Gonçalves:

Mais do que nunca, o Menino representa fé e ESPERANÇA,

Dos que, tragados por catástrofes, têm a vida por um fio,

Ou que, em fuga da terra natal, encontra fechadas as fronteiras;

O divino-humano irrompe na história humano-divina,

ESPERANÇA de quem só em Deus pode encontrar abrigo e salvação!

Recuperamos também, o Auto de Natal, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Um poema que transcende a simples narrativa para se tornar uma profunda reflexão sobre a condição humana. O personagem central, Severino, é o retirante nordestino anônimo, que foge da seca e da morte no agreste em busca de uma vida melhor no litoral. Severino é uma esperança de que a vida, mesmo em condições adversas, tem o poder de se renovar. Ele nos lembra que a luta pela existência é, em si, um ato de resistência e um valor a ser cultivado. Severino mostra que na fé, o desejo de vida se sobrepõe à morte.

Do sertão à beira d'água, o drama severino persiste, Onde a morte anuncia o fim, a resiliência resiste. No ciclo infindável de penúria e luto sem cor, o nascimento de um menino reacende o amor. Ali, a fé dos marginalizados tece o amanhã, sempre de novo.

O IHUCast é uma produção do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e está disponível nas plataformas de áudio e no canal do IHU no YouTube.

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