Advento: tempo de sermos testemunhas credíveis de Cristo – testemunhá-Lo na carne, tocando as feridas dos corpos crucificados

Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil

05 Dezembro 2025

“Em tempos em que o nome de Deus é instrumentalizado politicamente, invocado e defendido ideologicamente, há um modo mais preciso de se posicionar, como ensinou o Papa da Baviera: ser testemunha credível de Cristo”. 

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestra em Filosofia pela Unisinos e mestra em Teologia pela PUCRS. 

Se a Palavra é uma forma de conhecer a mensagem de Cristo e encontrá-Lo, como disse o jesuíta canadense René Latourelle, outro modo é o testemunho. Essa segunda maneira, sublinha o teólogo, está no centro da revelação da Trindade: O Filho é testemunha do Pai. O Pai testemunha que Cristo é o Filho. O Filho dá testemunho do Espírito. O Espírito vem como testemunha do Filho. A revelação, portanto, é um testemunho. 

Ela foi testemunhada, entre outros, por João Batista, como nos relembra a proclamação do evangelho deste domingo: “Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3, 11).

Na história da Igreja, inúmeros foram e são as testemunhas de Cristo. Dias atrás, dom Peter Kohlgraf, bispo de Mainz, na Alemanha, recordou o testemunho de São Paulo e de São Francisco. “Estas experiências viraram as suas vidas de cabeça para baixo. Eles entraram numa forma completamente nova de seguir a Cristo”, disse. Mas a experiência mística com o Espírito Santo não é algo que faz parte do passado longínquo, quando pessoas de diferentes etnias, estratos sociais ou condições de vida testemunhavam a soberania do Senhor. “Isto também pode acontecer hoje”, assegura o bispo de Mainz. 

Refletindo sobre a evangelização nos nossos dias, dom Peter Kohlgraf destacou a necessidade de tornarmos o “testemunho de fé mais cotidiano. Deve ser normal dizer: Eu vivo como uma pessoa cristã num mundo secular e não faço segredo disso”. No testemunho, contudo, também temos que aprender a agir como Jesus. Esse modo de ação exige de nós “um pouco de tato”, advertiu, relembrando a formulação de Bento XVI em Deus caritas est: “Há situações em que é bom falar de Cristo, e há situações em que também é bom calar”. Na caminhada com o Senhor, vamos aprendendo o que Bento ensina:

“O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor. Sabe que Deus é amor (cf. 1 Jo 4, 8) e torna-Se presente precisamente nos momentos em que nada mais se faz a não ser amar” (n. 31).

Em tempos em que o nome de Deus é instrumentalizado politicamente, invocado e defendido ideologicamente, há um modo mais preciso de se posicionar, como ensinou o Papa da Baviera: ser testemunha credível de Cristo. “A melhor defesa de Deus e do homem consiste precisamente no amor. É dever das organizações caritativas da Igreja reforçar de tal modo esta consciência em seus membros, que estes, através do seu agir – como também do seu falar, do seu silêncio, do seu exemplo –, se tornem testemunhas credíveis de Cristo” (n. 31).

Ser credível foi o que também pediram Francisco, com o discurso da proximidade e da misericórdia, e Leão XIV, nos primeiros dias do pontificado: “Juntos, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida. Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser credíveis”. 

Que neste Advento, possamos ser testemunhas de Cristo, sem esquecer que ser credível significa testemunhá-Lo na própria carne, tocando as feridas dos corpos crucificados.

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