Não aos “minerais de sangue”: a Igreja do Congo na COP30. Artigo de Yanick Nzanzu Maliro

Foto: Engin Akyurt | Pexels

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12 Novembro 2025

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) foi oficialmente aberta nesta segunda-feira em Belém, no Brasil, em um clima de emergência internacional. Entre as vozes que se levantam com força neste ano está a da Igreja Católica da República Democrática do Congo (RDC), por meio da delegação da Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO), determinada a denunciar com vigor a exploração violenta e ecocida dos recursos naturais, mais comumente chamados de “minerais de sangue”.

A informação é de Yanick Nzanzu Maliro, publicada por Settimana News, 11-11-2025. 

De fato, em um país cujo subsolo é rico em cobalto, coltan, cobre, ouro e lítio — recursos estratégicos cobiçados mundialmente —, a exploração artesanal e industrial ocorre com frequência em meio a conflitos armados, corrupção, deslocamentos forçados de populações e graves violações da dignidade humana. Os bispos congoleses estão prestes a lembrar que milhares de famílias vivem sob medo e insegurança, enquanto crianças trabalham em condições desumanas para alimentar a indústria digital e energética mundial.

Com uma mensagem forte e profética, a Igreja da RDC convida a comunidade internacional a romper o silêncio, estabelecer cadeias de abastecimento justas e transparentes e sancionar qualquer forma de comércio que alimente a violência. Para ela, a transição ecológica não pode — e não deve — basear-se no sacrifício de vidas africanas. “Não se pode pretender salvar o planeta destruindo o ser humano”, reiteram os pastores do Congo.

Em Belém, a delegação congolesa também insiste na proteção das florestas da bacia do Congo, verdadeiros pulmões do planeta. Sua destruição acelerada ameaça a biodiversidade mundial, perturba os regimes climáticos e fragiliza as comunidades locais. A Igreja pede que as promessas financeiras em favor da conservação ecológica sejam finalmente cumpridas, e não relegadas a discursos protocolares.

Diante das grandes potências econômicas, ela convida a um despertar moral: reconhecer o valor sagrado da vida, respeitar o direito dos povos de dispor de suas terras, apoiar modelos sustentáveis de exploração e colocar a ética acima do lucro. Encoraja também os governantes congoleses a assumirem suas responsabilidades, pôr fim à impunidade, investir em educação e defender os direitos das comunidades mineradoras.

Enquanto a COP30 pretende ser um ponto de virada decisivo na luta contra o aquecimento global, a voz da Igreja da RDC ecoa a dos anônimos do Katanga e do Kivu, das crianças das minas e das mães enlutadas. Ela recorda que a transição energética só faz sentido se integrar a justiça social. Em um mundo onde a tecnologia avança em velocidade vertiginosa, é urgente não esquecer aqueles que pagam o preço secreto desse progresso — debaixo da terra e no silêncio.

Porque nenhuma bateria, nenhum smartphone, nenhum carro elétrico deveria carregar as marcas do sangue de inocentes. Ao denunciar os “minerais de sangue”, a Igreja congolesa apela por uma ecologia integral, em que o ser humano e a criação sejam respeitados conjuntamente.

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