20 Agosto 2025
Antecipação de consultas a governos é vista como caminho para abordagem de temas espinhosos, como a insuficiência das NDCs atuais.
A informação é publicada por ClimaInfo, 20-08-2025.
A Presidência da COP30 divulgou nesta 3ª feira (19/8) mais uma carta pública à comunidade internacional, dessa vez focada nos pontos mais polêmicos das negociações climáticas. O texto foge do tom das cinco missivas anteriores e mira questões que, até agora, vinham sendo abordadas de forma discreta, como a insuficiência das metas climáticas nacionais (NDCs) sob o Acordo de Paris, a necessidade de se eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e de zerar o desmatamento até 2030.
No documento, o embaixador André Corrêa do Lago anunciou a antecipação pela Presidência da COP30 das consultas às delegações governamentais, um instrumento tradicionalmente utilizado durante as COPs para alinhar interesses e viabilizar compromissos. Segundo o diplomata, as consultas serão realizadas ao longo das próximas semanas e até a abertura da COP30, no começo de novembro, e têm como objetivo criar um ambiente favorável ao diálogo aberto, à transparência e à construção de confiança.
“Nas COPs anteriores, as consultas da Presidência provaram ser um modo de trabalho excepcionalmente eficaz para abordar questões de alto perfil político, bem como impasses nas discussões técnicas, garantindo inclusão e transparência. Esperamos que as consultas da Presidência da COP30 ofereçam espaço para que as Partes canalizem prioridades que não estejam atualmente cobertas por itens formais de agenda”, pontuou a carta.
As consultas poderão abrir caminho para a inclusão de temas que não estão garantidos na agenda de negociação da COP30. Não à toa, a carta elenca questões que podem ser abordadas nessas consultas, a partir do feedback obtido pelos negociadores brasileiros durante a última reunião intersessional (SB62) dos órgãos subsidiários da UNFCCC realizada em junho passado em Bonn, Alemanha.
“Na SB62, a Presidência da COP30 ouviu atentamente as Partes, que acreditam que a COP30 deve responder a como nossas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), em conjunto, prometem efetivamente à Humanidade um futuro seguro, próspero e sustentável. Também observei divergências significativas sobre a forma e o escopo da nossa resposta às NDC e ao relatório-síntese a ser publicado pelo secretariado da UNFCCC em outubro. Essas divergências podem e devem ser superadas, e estou determinado a oferecer todas as condições para um diálogo franco, aberto e criativo com esse fim”, afirma no documento.
Outro tema destacado pela Presidência para as consultas é o financiamento climático. Apesar da nova meta global de US$1,3 trilhão anuais para financiar a ação climática nos países pobres, persistem muitas dúvidas sobre a viabilidade desses recursos, especialmente pela indisposição dos países ricos em ampliar suas contribuições. “A Presidência também ouviu as preocupações de muitas Partes quanto à sua capacidade de se engajar em ações climáticas ambiciosas quando há frustrações relacionadas ao financiamento climático”.
A implementação de compromissos já assumidos, como as metas de triplicar a capacidade de energia renovável global, dobrar a taxa média anual mundial de melhoria da eficiência energética, zerar o desmatamento até o final desta década e o afastamento dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia, também foram assinaladas pela Presidência da COP30. “Assim como no caso das NDCs, essas questões são relevantes, mas nem todas figuram como itens individuais de agenda para discussão em Belém”.
Para o Observatório do Clima (OC), a nova carta da Presidência da COP30 finalmente coloca questões importantes para o futuro da ação climática global dentro das discussões em Belém. “A carta mostra a cara que a negociação da COP30 precisa ter. A Presidência da COP está fazendo um esforço pelo sucesso de Belém no que lhe compete, a diplomacia climática”, comentou Marcio Astrini, secretário-executivo do OC.
CNN Brasil, Exame, Folha, O Globo, Pará Terra Boa e SBT, entre outros, repercutiram a nova carta da Presidência da COP30.
A COP30 no Brasil é uma chance histórica para os países completarem o ciclo do multilateralismo ambiental iniciado na Rio-92, afirmou o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore em entrevista ao apresentador de TV Luciano Huck (TV Globo). Em passagem pelo Brasil para o treinamento recente oferecido pelo Climate Reality Project no Rio de Janeiro, o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2007 reconheceu as dificuldades políticas do mundo atual, mas demonstrou otimismo sobre as chances da Humanidade impedir o pior da crise climática. O Globo deu mais detalhes.