16 Setembro 2025
Na COP30, rede de organizações quer visibilizar a contribuição de indígenas, quilombolas e outros como agentes de conservação e de resistência.
A reportagem é de Débora Menezes, publicada por ((o))eco, 15-09-2025.
“Vivemos um momento decisivo para o Cerrado. Sem ele os nossos povos não têm vida, e nossos saberes e fazeres vão acabar”, alerta a quilombola Lucely Morais Pio, durante o 11º Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, realizado em Brasília (DF). O encontro ocorreu entre 11 e 13 de setembro de 2025 e envolveu 22 diferentes segmentos de povos e comunidades tradicionais e indígenas, como quilombolas e quebradeiras de coco babaçu, em debates, feira de produtos da agrobiodiversidade e atividades culturais, além de seminário em comemoração ao Dia Nacional do Cerrado (11) na Câmara dos Deputados.
No sábado (13), os participantes da chamada Rede Cerrado se reuniram para dialogar sobre estratégias de ação para a COP30, para dar visibilidade, tanto ao bioma, quanto às iniciativas dos povos e comunidades tradicionais que contribuem para a sua conservação. Entre as principais propostas está a de visibilizar as comunidades locais como guardiões do Cerrado, assim como defender a agroecologia, a regularização territorial junto a comunidades tradicionais e a demarcação de Terras Indígenas.
“Na COP, o que estará em negociação de certa forma é a terra das comunidades tradicionais. E precisamos valorizar esses povos, que têm outro tipo de relação com a terra e são os mais vulneráveis diante das alterações climáticas”, disse Samuel Leite Caetano, atual presidente do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) e coordenador-técnico do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas. Ele contrapõe atividades como a perda de áreas para o agronegócio, cujas atividades de pastagens e lavouras ameaçam o bioma.
A quilombola Lucely, que é vice-coordenadora da Rede Cerrado (organizadora do encontro), é da Comunidade Quilombola dos Cedros, em Mineiros (GO), uma das tantas regiões de Cerrado onde o agronegócio avança. “Precisamos olhar com urgência para a demarcação e a titulação de territórios indígenas e quilombolas e visibilizar nossos povos”, lembra ela. Sobre os quilombolas, um estudo do MapBiomas (2023) mostra que seus territórios estão entre as áreas de menor desmatamento do país.
A coordenadora geral de mobilização da COP30, Luciana Abade, que também participou do encontro, destacou que a proteção do Cerrado é “fundamental para atingir as metas da NDC”, que, em resumo, compõem o plano de ação climática de cada país.
Apesar de a proteção do bioma ser essencial para o cumprimento das metas climáticas do Brasil, a Rede Cerrado entende que é preciso ir além das negociações. A invisibilidade do Cerrado perante a população em geral, como pontuou a secretária executiva Ingrid Silveira, é um desafio. Por isso, a rede criou a campanha “Cerrado Coração das Águas” e está preparando uma carta de compromissos para levar à COP30, visando não apenas influenciar as decisões, mas também engajar o público. A rede também declarou apoio, durante o encontro, para a campanha “A Resposta Somos Nós”, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
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