O silêncio ressonante do Papa Leão XIV sobre a peregrinação LGBTQ+. Artigo de Marco Grieco

Foto: InkBoB/Wikimedia Commons

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09 Setembro 2025

"A canonização de dois jovens santos no dia seguinte à peregrinação LGBTQ+ é a expressão plástica de duas imagens antitéticas de igreja: uma que pede para ser escutada e outra, mais forte por ser institucional, que encontra novas maneiras de atrair uma juventude que — os números mostram — está fugindo das igrejas, buscando respostas de sentido em outros lugares", escreve Marco Grieco, jornalista, em artigo publicado por Domani, 07-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

No final, o Papa Leão XIV não disse nada sobre a presença das 1.500 pessoas LGBTQ+ que participaram da peregrinação de La Tenda di Gionata no sábado. No dia seguinte à festa dos católicos queer, o receio de um retorno ao silêncio.

No final, as palavras do Papa Leão XIV não vieram. No Angelus, que o pontífice pronunciou ao final da cerimônia de canonização de Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, nenhuma palavra foi dita sobre a imensa peregrinação que, na tarde de sábado, levou 1.500 pessoas da comunidade LGBTQ+ a passar pela Porta Santa pela primeira vez em um evento aprovado pela Santa Sé.

No entanto — asseguram fontes do Vaticano — algumas linhas de saudação aos "peregrinos de La Tenda di Gionata" estavam sobre a mesa de Leão, aparentemente por sua própria decisão. De qualquer forma, a confirmar que o sucessor de Francisco estava ciente do evento, foi o D. Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, que, ao final da missa celebrada em 6 de setembro na Igreja de Jesus, em Roma, com a presença de um mar de católicos arco-íris, lembrou o encontro com o pontífice, que lhe garantiu seu total apoio.

Uma palavra não significa nada, mas para aqueles que creem no Evangelho de Cristo, renegado por seus próprios discípulos, o silêncio pesa muito.

A peregrinação dos últimos

A Tenda di Gionata, que há anos acompanha fiéis LGBTQ+, bem como associações de pais com filhos e filhas queer, sabem bem como, na Igreja Católica, casa e igreja têm sido frequentemente um oxímoro: "Livra-nos — livra-me — de qualquer tentação polêmica ou ideológica, porque queremos servir e seguir somente a você, para que venha o seu Reino e ninguém jamais se sinta excluído, ninguém jamais o tema como uma ameaça, para todos, todos, todos, o seu Reino seja vida da vida", disse D. Savino no coração de sua homilia, abafado pelo estrondo dos aplausos e pelo lento escorrer de algumas lágrimas.

Nunca antes a Igreja de Jesus tinha visto o agitar de leques do Orgulho entre os bancos, fiéis transgênero rezando ao lado de freiras e padres, demonstrando, em uma etimologia invertida, que o testemunho da fé sempre, ao longo de sua história, andou próximo ao martírio.

Havia tudo isso e muito mais nos rostos sóbrios ou maquiados das pessoas queer que cruzaram pela Porta Santa: "É justo que eu esteja aqui, acompanhando um grupo de fiéis da minha paróquia, porque é importante fazê-los sentir a proximidade", disse o Padre Simone, com seu boné arco-íris, uma metáfora perfeita para uma comunidade que veste seu orgulho para se proteger daqueles que pretendem trazer a luz da tradição e da doutrina, apenas para depois queimar tudo.

A nova imagem dos jovens

Assim, quando, ao final da canonização dos dois santos adolescentes, Acutis e Frassati, o Papa Leão não disse nem meia palavra sobre o evento, o pensamento de que a festa de sábado, 6 de setembro, havia sido um sonho que passou pela cabeça de muitas pessoas. No entanto, essas mesmas pessoas, que cantavam e rezavam enquanto a fachada de São Pedro ia se ampliando, não deixaram que a decepção se misturasse às lágrimas de alegria que riscaram seus rostos: "Não esperamos que uma pessoa nos autorize a sentir-nos em casa; estamos em casa e caminhamos juntos", disse Francisco, que veio de Florença.

A canonização de dois jovens santos no dia seguinte à peregrinação LGBTQ+ é a expressão plástica de duas imagens antitéticas de igreja: uma que pede para ser escutada e outra, mais forte por ser institucional, que encontra novas maneiras de atrair uma juventude que — os números mostram — está fugindo das igrejas, buscando respostas de sentido em outros lugares. As pessoas crentes queer, por outro lado, não apenas lotaram a Igreja dos jesuítas, como também reivindicaram seu pequeno espaço de oração; não os escutar parece um pecado de omissão.

Em nome de Francisco

Sábado, ao longo da Via della Conciliazione, muitos saudaram os peregrinos arco-íris como nos mais belos desfiles, quando o apoio não exige palavras, mas passa pelos gestos. Muitos e muitas teriam gostado de uma palavra corajosa, uma palavra incômoda; mas, mesmo assim, participar de um evento carregando a delgada cruz arco-íris, atravessando com ela a Porta Santa e elevá-la diante de Pedro, o papa pescador e frágil sobre o qual Cristo construiu a Igreja, teve o sabor daquela verdade evangélica que liberta.

No dia seguinte, muitos sentiram a necessidade de saudar o Papa Francisco, a mão que tornou esse evento possível, autorizando-o certamente, mas também se tornando próximo: "Com ele, teria sido diferente; teríamos sentido realmente apoio; sentimos falta dele", diz Luca, um peregrino. Um toque de amargura na boca, os olhos brilhando, cheios de esperança.

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