08 Setembro 2025
Ele frequentava a missa todos os dias, cuidava de moradores de rua e fascinado por "milagres eucarísticos", que muitos teólogos encaram com ceticismo. Seus restos mortais estão em Assis, onde passou vários verões e respirou o espírito franciscano.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 07-09-2025.
Sua popularidade pode levá-lo a suplantar o imperecível Padre Pio. Carlo Acutis, que o Papa Leão XIV canonizado no domingo, juntamente com Piergiorgio Frassati, apresenta uma face jovem da Igreja, mas promove um catolicismo bastante tradicional. Acima de tudo, seu perfil (um menino normal, de comportamento gentil) e sua morte trágica (em Milão, aos 15 anos, em 2006, de leucemia agressiva) fazem dele uma figura já venerada em todo o mundo, mesmo antes de se tornar santo.
Nascido em Londres em 03-05-1991, onde seus pais trabalhavam, Carlo vem de uma família rica e profundamente católica. Seu pai, Andrea, um piemontês, dirige a Vittoria Assicurazioni, cargo herdado de seu pai, que recebeu o nome de Carlo em homenagem ao futuro santo.
Sua mãe, Antonia Salzano, romana, hoje guarda com paixão a memória do filho e sempre foi profundamente católica: no Vaticano, ela conhece a Pontifícia Academia "Cultorum Martyrum", que, como o próprio nome sugere, promove o culto aos mártires entre os fiéis, e sua família de origem inclui outros santos da história da Igreja.
No mesmo ano de seu nascimento, a família retornou a Milão, onde Carlo passou a vida. Ele cursou o ensino fundamental no Instituto Tommaseo, administrado pelas Irmãs Marcelinas, e o ensino médio no Instituto Jesuíta Leão XIII, em Milão.
Carlo Acutis era piedoso desde cedo: recebeu a Primeira Comunhão com apenas sete anos, mais cedo do que o habitual, ia à missa todos os dias e era devoto de Nossa Senhora. Nas aulas, não se esquivava de discussões acaloradas para contestar o direito das mulheres ao aborto e era muito atencioso com os pobres do bairro onde morava, fornecendo, por exemplo, sacos de dormir para moradores de rua.
Desenvolveu uma paixão precoce tanto pela internet, onde rapidamente aprendeu a criar websites, quanto pela Eucaristia, centro da vida da fé católica. Dessa combinação inusitada nasceu a iniciativa de promover "milagres eucarísticos" online, que na tradição da devoção católica são episódios de sangramento da hóstia ou fenômenos portentosos semelhantes relacionados à Eucaristia.
Esse fenômeno suscita inúmeras preocupações dentro da própria Igreja Católica, tanto que, a respeito de Carlo Acutis, por exemplo, Andrea Grillo, professor de Teologia dos Sacramentos e Filosofia da Religião no Pontifício Ateneu de Santo Anselmo, falou de "grosseria eucarística": "Como é possível que um jovem beato possa comunicar uma teologia eucarística tão ultrapassada, tão penosa, tão obsessiva, tão focada no inessencial e tão negligente em relação às coisas cruciais?"
Carlo Acutis faleceu em 12-10-2006, vítima de leucemia fulminante. Seu corpo encontra-se no Santuário da Spogliazione, na Igreja de Santa Maria Maggiore, em Assis, onde, quando criança, passou vários verões com a família, absorvendo a espiritualidade franciscana. Poucos dias antes de sua hospitalização, ofereceu sua vida ao Senhor pelo Papa, pela Igreja e para ir para o céu.
Com uma rapidez incomum, a causa de sua beatificação, incentivada por sua mãe, avançou rapidamente. O Papa Francisco reconheceu um primeiro milagre, ocorrido no Brasil por intercessão de Carlo Acutis, e o beatificou em 2022. Um segundo milagre, em Florença, em 2022, abriu caminho para sua canonização.
O Papa Francisco desejava presidir pessoalmente a canonização, já marcada para abril do ano passado, mas faleceu poucos dias antes, deixando a tarefa para seu sucessor. Muitos presumiram que a canonização ocorreria durante o Jubileu da Juventude, realizado no fim de julho e início de agosto em Roma.
No entanto, o Vaticano, provavelmente irritado com a hiperatividade da família do beato, preferiu adiá-la por algumas semanas, evitando assim a identificação da JMJ com a figura do futuro santo. De qualquer forma, o santo desperta curiosidade e devoção muito além da Itália, entre católicos e até mesmo não católicos em todos os continentes, até mesmo em países árabes, América Latina e China.
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