A revolução silenciosa do Jubileu da comunidade LGBTQ: "Esperamos um novo começo para a Igreja"

Foto: Alexander Grey/Unsplash

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08 Setembro 2025

Monsenhor Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, celebrou a missa na Igreja de Jesus, em Roma. Cerca de 1.500 pessoas de mais de vinte países ao redor do mundo participaram. "Já atravessei aquela porta, mas sem poder me revelar, escondendo minha verdadeira identidade", conta Luca. "Este dia é um marco para todos nós."

A informação é de Alessia Arcolaci, publicada por Domani, 06-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

"O Jubileu deve ser um tempo de justiça restaurativa. Ninguém nunca mais deve se sentir excluído." As palavras de Monsenhor Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, trovejam na homilia da missa na Igreja de Jesus, em Roma, para a comunidade LGBTQIA+, que celebrou seu Jubileu em 6 de setembro.

A igreja lotada se levanta de pé e irrompe um aplauso que dura minutos, seguido por uma ovação de pé. É um dia histórico: sob o sol escaldante de Roma, pela primeira vez, a Porta Santa se abre para as pessoas LGBTQIA+. Um evento que marca, mesmo sem apagar as sombras que ainda persistem hoje nos ambientes religiosos, um primeiro passo tangível para o acolhimento da homossexualidade. A prática que o próprio Catecismo da Igreja ainda define como "desordenada" em suas páginas.

Portanto, ouvir D. Savino falar de justiça restaurativa não pode deixar de nos lembrar do quanto a Igreja e suas instituições têm se esforçado para "reparar" por meio de terapias de conversão realizada em pessoas homossexuais que se assumiram dentro da Igreja, desde os seminários até as associações católicas. Isso ainda acontece hoje, em meio ao silêncio de um país, a Itália, que, ao contrário de muitos outros países europeus, não possui uma lei que proíba explicitamente as terapias reparativas e, portanto, continua a permitir sua existência. "Sou uma crente fervorosa e muitas vezes me senti posta de lado pela Igreja. Hoje, pela primeira vez, não está acontecendo." Marta tem pouco mais de vinte anos e veio de Pádua a Roma para passar pela Porta Santa junto com muitos garotos e garotas que fazem parte da associação Tenda di Gionata, que organizou a peregrinação em conjunto com outras organizações.

Reconhecer a identidade

Aproximadamente 1.500 pessoas de mais de vinte países ao redor do mundo participaram da procissão. Ausente a África, onde a homossexualidade é proibida, e as pessoas que pediram para participar tiveram seus vistos negados. "É uma emoção que não sei como descrever", continua Marta, com as mãos tremendo forte. Está tudo ali, naqueles dedos que não conseguem ficar parados, a ferida profunda que as pessoas LGBTQIA+ crentes carregam dentro de si.

Essas mesmas feridas, lembra-nos Monsenhor Savino, "não podem ser apagadas e permanecem junto aos seus estigmas".

Marta diz que sua nova jornada dentro da Igreja começa aqui, na Piazza Pia, diante da Basílica de São Pedro, enquanto uma longa fila de pessoas precedida por um crucifixo arco-íris começa a caminhar em direção à Porta Santa. "Já atravessei aquela porta, mas sem poder me revelar, escondendo minha verdadeira identidade", conta Luca, que chegou de Santiago. "Esse dia é um marco para todos nós e espero que possa realmente ser um novo começo para a Igreja."

Entre os muitos peregrinos, também estão os pais, acompanhando seus filhos de mãos dadas. Mães e pais vestindo camisetas arco-íris se sentem orgulhosamente parte dessa comunidade. D. Savino também dirigiu palavras a eles, agradecendo pessoalmente sua presença durante a celebração. Na fila está a Irmã Geneviève, amiga querida e discreta do Papa Francisco, a "enfant terrible", como o Pontífice a apelidou. Ela chegou junto com as pessoas trans que sempre apoiou, em uma verdadeira trajetória de acolhimento que o Papa Francisco muitas vezes reconheceu e celebrou.

Revolução silenciosa

Assim, em 6 de setembro de 2025, Roma, o coração do catolicismo, transformou-se por um dia no palco de uma revolução silenciosa, onde o amor assim como ele é e a fé caminharam juntos, dentro da história. Um rito milenar, a passagem pela Porta Santa, assumiu um novo significado, não apenas de perdão e graça, mas também de inclusão e escuta. No entanto, continua faltando a bênção da Santa Sé, que não dedicou nenhuma mensagem a esse dia e que no calendário oficial do Jubileu escreveu: "Peregrinação da associação La Tenda di Gionata e outras associações". Nenhuma menção às pessoas que a compõem, nenhuma identidade a ser reconhecida. Resta saber se o Papa Leão XIV realmente desejará abrir as portas a todos e a todas, sem exclusão, como havia anunciado o Papa Francisco em 2013. E como almeja D. Savino: "Somos um povo de rostos, de histórias concretas, somos um povo de pessoas que pedem com dignidade, com autenticidade e com verdade para serem reconhecidas, cada uma com sua história, cada uma com suas feridas, mas cada uma com sua beleza."

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