Jubileu, alegria sem exclusões: uma oportunidade para os cristãos LGBT

Foto: Gianna B | Unsplash

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04 Setembro 2025

 "Com toda a humildade do mundo, tentei contar aos meus alunos, cada vez mais desconfiados com uma Igreja institucional distante de suas vidas, que existe uma Igreja diferente. Uma Igreja que se assemelhe mais àquela desejada por Jesus Cristo, na qual todas as pessoas possam se sentir filhos e filhas, na qual somos um em Cristo em virtude do Batismo".

A reportagem é de Luciano Moia, publicada por Avvenire, 03-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

É o que escreveu Irene, 31 anos, professora de religião, que no sábado participará do Jubileu da associação "La Tenda di Gionata" e de outras associações a que aderem cristãos com orientação homoafetiva e pessoas trans. Em preparação para o evento, os organizadores promoveram uma coletânea de testemunhos nos quais convidam pessoas LGBT, seus pais e agentes pastorais a compartilharem os motivos pelos quais estarão em Roma no sábado para cruzar juntos a Porta Santa.

Marisol Ortiz, mãe espanhola de uma garota trans, escreve: "Não conheço nenhum pai ou mãe que tenha desejado conscientemente ter um filho ou filha LGBTQIA+. É por isso que sinto a necessidade de pedir perdão por ter colocado minhas próprias expectativas à frente da vida e da verdade da minha filha. Devo também pedir perdão por aqueles momentos em que meu medo e minha ignorância acabaram bloqueando meu amor por ela".

Staffan Gerdmar, diácono permanente, sueco e pai de uma filha lésbica, acrescenta: “Há muitos anos, quando minha filha se assumiu, foi um choque para mim. Ao longo dos anos, porém, empreendi uma jornada que me transformou. Quando jovem, fui um ativista, tanto político quanto religioso: eu participava de barricadas, mais frequentemente contra do que a favor de alguma coisa. Por isso, fiquei um pouco preocupado que a rede dos católicos LGBT pudesse ser um movimento de ativistas daquele tipo. Em vez disso, me senti feliz e aliviado quando percebi que não era de forma alguma”.

São histórias que questionam e fazem pensar. Longe dos modelos usuais que gostariam de representar as pessoas LGBT como protagonistas de existências marginais ou alternativas. O Padre Pino Piva, jesuíta, especialista em pastoral de fronteira e um dos organizadores do evento, explica: “A peregrinação será um momento de alegria: com esse sentimento, cruzaremos a Porta Santa, a porta aberta da misericórdia e da libertação de Deus; a porta aberta da Igreja, casa para todos".

Portanto, nenhuma reivindicação sociopolítica, nenhum risco, como alguns temiam, de que a peregrinação do Jubileu assuma os contornos de uma parada do orgulho católica, com slogans e faixas. "Mas de forma alguma", continua o Padre Piva, "queremos vivenciar esse Jubileu no acolhimento mútuo e no reconhecimento da nossa dignidade comum de filhos de Deus, porque a Igreja é casa para todos. Queremos convidar todas as pessoas que estarão presentes a reler suas vidas à luz do Evangelho e a acolher a graça que o Senhor concede a todos, independentemente de sua pertença religiosa ou orientação sexual”.

Também inoportunas, dá a entender ainda o Padre Piva, todas as polêmicas que cercaram o evento nas últimas semanas, sugerindo um risco de guetização ou, pior, de rendição ao espírito mundano. Os organizadores reiteram que haverá apenas o desejo de rezar juntos — como dezenas de outras categorias e realidades de agremiação fizeram desde o início do Jubileu — na perspectiva da esperança cristã e de acordo com os princípios do Evangelho. Será um evento, observou o bispo de Cassano all'Jonio e vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), dom Francesco Savino, em entrevista publicada no portal Progetto Gionata, "que, em sua essência mais profunda, é como um sino tocando no silêncio ensurdecedor das exclusões: um sinal claro, forte e irreversível que nos lembra que o Evangelho não é um manifesto para alguns poucos eleitos, mas uma carta de amor dirigida a toda a família humana".

Essas reflexões também aparecem na mensagem que José Cobo, Cardeal Arcebispo de Madri, quis enviar aos participantes da peregrinação: "As comunidades cristãs, também elas em caminho e ansiosas por evitar todas as formas de discriminação injusta e processos que nos desumanizam, são chamadas não apenas a acolher, mas também a promover uma cultura de diálogo, acompanhamento e inclusão concreta daqueles que desejam caminhar na Igreja".

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